Em dia de Marcha para Jesus, PT mira Bolsonaro e cita caso Abin: Afinal, quem persegue os pastores?
Mensagem foi divulgada em grupo de WhatsApp voltado do curso do partido, voltado aos evangélicos
Enquanto milhares de fiéis participavam da Marcha para Jesus, realizada nesta quinta-feira em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores (PT) intensificou sua estratégia de aproximação com o eleitorado evangélico, um dos segmentos em que o governo enfrenta maior rejeição.
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A legenda utilizou a data simbólica para criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e citar o inquérito da Polícia Federal de espionagem envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante sua gestão.
Em uma mensagem distribuída no grupo do curso Fé e Democracia para Evangélicos e Evangélicas, promovido pela Fundação Perseu Abramo — ligada ao PT —, Bolsonaro é acusado de ter espionado um pastor próximo à sua família.
“Neste dia de Marcha Para Jesus, não se esqueça: Bolsonaro mandou espionar o pastor da própria família”, diz a imagem que acompanha uma fotografia do ex-presidente ao lado de Josué Valandro Júnior, líder da Igreja Batista Atitude, frequentada por Michelle Bolsonaro.
A menção faz referência ao relatório final da Polícia Federal sobre o uso ilegal da estrutura da Abin para monitorar ilegalmente adversários e desafetos. O documento, que perdeu o sigilo ontem, traz um registro de que Valandro Júnior teria sido alvo de um pedido de pesquisa.
Seu nome consta no relatório ao lado da juíza Márcia Santos Capanema de Souza, que julgou ações do ex-deputado Jean Wyllys (PT) e, apesar de decisões favoráveis, posteriormente se declarou impedida. À época, ela era cunhada do advogado de Wyllys, João Tancredo.
A publicação petista acompanha ainda um apelo emocional: classifica a Marcha para Jesus como um dia de “fé, de união e de lembrar a verdade”, e encerra com uma provocação: “Afinal, quem é mesmo que persegue os pastores?”
Embora a Marcha Para Jesus reúna nesta manhã lideranças do mundo evangélico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo terceiro ano consecutivo, não está presente. Ele é representado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, evangélico e um dos principais articuladores do governo com o segmento religioso.
O esforço do Planalto para reverter a rejeição no meio evangélico ocorre em meio a dados desfavoráveis.
Segundo a última pesquisa Quaest, divulgada neste mês, 66% dos evangélicos avaliam negativamente o governo Lula. A distância entre o presidente e esse público, que foi decisivo na eleição de Bolsonaro em 2018 e 2022, tem motivado uma série de gestos simbólicos e políticos.
Entre eles está a tentativa de ampliar benefícios às igrejas, como a articulação, durante a tramitação da Reforma Tributária, para estender a imunidade tributária a entidades filantrópicas ligadas a templos religiosos. A medida buscava acalmar os ânimos da bancada evangélica, que frequentemente acusa o governo de atuar contra os interesses do setor.
Apesar dos movimentos, a influência da direita nas igrejas continua predominante, sustentada por lideranças que associam o PT a pautas contrárias aos valores cristãos, como o aborto e a agenda de gênero. Em resposta, Lula tem modulado o discurso e incorporado com mais frequência termos como “prosperidade” — conceito caro ao imaginário neopentecostal — em suas falas públicas.
Outra frente de ação do governo está na comunicação. O ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Sidônio Palmeira, prepara o lançamento do programa “Prospera Brasil”, voltado a fomentar iniciativas de empreendedorismo. A proposta é dialogar com valores caros ao público evangélico, como independência financeira, mérito individual e mobilidade social.

