Política

Em escola de filha, Bolsonaro ataca 'ideologia de gênero' e admite problemas na educação

Em discurso gravado por pais de estudantes, ele atribuiu à ideologia nas salas de aula os problemas nos níveis de educação no país e disse que tem trabalho para afastá-la do ambiente escolar

Presidente Jair BolsonaroPresidente Jair Bolsonaro - Foto: Alan Santos/PR

Em festa do Dia dos Pais, comemorada no colégio particular onde estuda a sua filha caçula, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu nessa sexta-feira (9) que a educação no país "não vai muito bem" e atacou a "ideologia de gênero" nas unidades de ensino.

Em discurso gravado por pais de estudantes e ao qual Folha teve acesso, ele atribuiu à ideologia nas salas de aula os problemas nos níveis de educação no país e disse que tem trabalho para afastá-la do ambiente escolar, já que seu objetivo, segundo ele, é formar uma "militância".

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"A educação do Brasil, com as exceções de praxe, não vai muito bem. Em grande parte, devemos isso a uma ideologia que, ao longo de décadas, foi se aproximando das escolas. O que nós queremos é que os nossos filhos sejam bem instruídos. O trabalho é de tirar e afastar certas ideologias, como a ideologia de gênero, pessoas que estão preocupadas apenas em fazer com que, no futuro, tenhamos militância", disse.

O discurso do presidente foi feito aos pais de estudantes em um auditório na escola onde estuda Laura Bolsonaro, de 8 anos, antes de uma apresentação dos alunos. Segundo uma mãe de aluno, a direção da escola consultou os pais sobre permitir ou não que o presidente fizesse um discurso e a maioria foi favorável. Bolsonaro disse ainda que o sonho dele é fazer com que a nova geração seja mais bem educada que a dele.

A teoria de gênero, reconhecida academicamente, estabelece que gênero e orientação sexual são construções sociais, e não apenas determinações biológicas. Já para segmentos da direita, a "ideologia de gênero" é um ataque ao conceito tradicional de família. O termo "ideologia de gênero" foi criado pela Igreja Católica e citado pela primeira vez em 1998, em uma nota da Conferência Episcopal do Peru. Ele acabou adotado por grupos radicais de direita.

No mês passado, o presidente disse que irá alterar o formulário de solicitação de passaportes. Em café da manhã com a bancada evangélica, ele afirmou que nos campos relativos à filiação do requerente serão substituídas as palavras "genitor 1" e "genitor 2" por "pai" e "mãe".

Em 2017, a Polícia Federal adotou o termo "genitor" para contemplar novas formações familiares, como as compostas por casais homoafetivos. A iniciativa de alterar a solicitação do passaporte não é a primeira tomada pelo Ministério das Relações Exteriores no combate às discussões de gênero. Recentemente, diplomatas brasileiros receberam instruções oficiais para que, em negociações em foros multilaterais, reiterem "o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino".

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