Fórmula já empregada por Roberto Jefferson
O ex-deputado criticava o “poder concursado”, aquele que não vem pelo voto
Em setembro de 2009, o ex-deputado Roberto Jefferson, pivô do escândalo do mensalão, publicara carta para se defender de denúncia do Ministério Público Federal, segundo a qual teria participado de esquema de propina. Ao se defender, tachou o MPF de “aberração institucional” e “monstro andrógino”. Declarou que sempre foi “adversário dos privilégios do Ministério Público” e apontou, na denúncia, “um texto de contradições, ilações, presunções”. A tática de descredenciar o trabalho dos procuradores do MPF guarda alguma semelhança com a que foi adotada, na quinta-feira, pelo ex-presidente Lula. Procurador Geral do Ministério Público de Contas do Estado, Cristiano Pimentel vê Lula “retomando uma ideia que o Roberto Jefferson tinha, quando ainda estava réu no mensalão, antes de ser preso”. Sublinha o seguinte: “Roberto Jefferson cunhou uma expressão chamada poder concursado”. E explica o significado: “Dizia que o Ministério Público e a magistratura viviam querendo ter poder sem ter a legitimidade o voto”. Na quinta-feira, em seu pronunciamento, ao se defender da denúncia do Ministério Público, em meio aos ataques desferidos à força-tarefa da Lava Jato, Lula disparou: “A posição mais honesta é a do político, sabe por quê? Por que todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e tá com um emprego garantido para o resto da vida”. Comparando com Roberto Jefferson, Lula foi além, atingiu não só procuradores e juízes, mas botou os servidores públicos todos em um balaio só.
Concurso público
“Foi um excesso de linguagem, porque o funcionalismo público sempre foi eleitorado do PT. Não é boa hora de ele brigar com essa parte importantíssma do eleitorado dele”. A avaliação é do procurador do MPCO, Cristiando Pimentel.
Carta na manga > Políticos apontaram adjetivação excessiva, juristas viram espetacularização e fragilidade de provas. O procurador Cristiano Pimentel reconhece que a atitude dos procuradores do Ministério Público Federal, ao apresentarem a denúncia contra Lula, na última quarta, foi incomum. No entanto, vê, nisso, “uma estratégia”. E defende: “Eles (os procuradores) estão pensando à frente”.
Passos à frente > Cristiano realça que “o que vem a público é uma parte mínima do que acontece nos bastidores da Lava Jato”. Nas palavras dele, “esta nova forma de coletiva, exposta pelos procuradores, pode ser parte de uma estratégia da força-tarefa”. E insiste: “Eles sempre trabalham pensando cinco passos à frente”.
Por exemplo > O procurador do MPCO argumenta que as prisões de José Dirceu e Marcelo Odebrecht renderam também muitas as críticas em relação a suposta fragilidade de argumentos. “Mas os dois perderam todos os habeas corpus e não têm mais perspectiva de serem soltos, salvo em uma delação premiada”.
À prestação > Quanto a Lula, prossegue Cristiano Pimentel, “devemos lembrar que há várias delações premiadas a caminho, inclusive de seu amigo (José Carlos Bumlai), que podem fazer toda a diferença sobre a solidez ou não da denúncia de quarta”.
Por partes > “O MP não é obrigado a apresentar todas as provas que tem quando propõe a ação penal. Ainda está longe a fase processual de produção de provas deste processo, apesar das notas de rodapé da denúncia já mencionarem mais de 300 provas”, conclui Cristiano Pimentel.