Sáb, 06 de Dezembro

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POLÍTICA

Isolamento de Bolsonaro leva PL a buscar palanques alternativos nos estados

Processo de escolha de aliados para o pleito é marcado por cenário de incerteza

Ex-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliarEx-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliar - Foto: Sergio Lima/AFP

Além das recentes derrotas do bolsonarismo, como a condenação na trama golpista e a aproximação entre Brasil e Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro perdeu força na construção de palanques nos principais colégios eleitorais do país, a menos de um ano do pleito de 2026. O isolamento do ex-presidente se amplifica na medida que a prisão dele fica mais próxima.

O Supremo Tribunal Federal (STF) negou os recursos apresentados pela defesa e outras seis pessoas condenadas por fazer parte do “núcleo crucial” da trama golpista. Apesar de os votos terem sido depositados, o julgamento vai até sexta-feira, quando novos recursos podem ser pedidos.

Com o cerco se fechando contra o ex-presidente e a possibilidade de ele ficar em regime fechado, ainda que temporariamente, as dificuldades políticas na oposição se avolumam.

O PL não tem hoje pré-candidatos a governador consolidados em nenhum dos quatro estados com maior número de eleitores e vê partidos como Republicanos, União Brasil e PSD ganharem espaço. No momento em que há também uma divisão na direita sobre os rumos de uma candidatura presidencial no ano que vem, com a inelegibilidade e iminente prisão de Bolsonaro, a redução de espaço nos palanques locais pode fragilizar o partido inclusive para o próximo ciclo eleitoral.

No Rio, por exemplo, são do PL o governador Cláudio Castro e os três senadores, Flávio Bolsonaro, Carlos Portinho e Romário. Mesmo assim, a sucessão no estado está desorganizada e não se sabe nem sequer qual será o destino de Castro, que não pode concorrer a um novo mandato e vê obstáculos no caminho ao Senado.

Há, inclusive, uma recente aproximação do PL com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que é próximo de Lula e se movimenta para tentar o Palácio Guanabara ano que vem.

O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, já afirmou que integrantes e eleitores da legenda têm "simpatia" por Paes, que está ensaiando uma retomada de relação com Castro. Procurado, Valdemar não se manifestou.

O movimento gerou uma contraofensiva no bolsonarismo. O senador Flávio Bolsonaro já se colocou contra a aliança com o PSD e quer buscar uma alternativa dentro do PL.

Procurado, ele não se manifestou sobre a situação no Rio e as dificuldades de Bolsonaro em formar palanques em outros estados.

"O Eduardo vai ter que decidir o que quer da vida. Se vai andar com a centro-direita ou com a centro-esquerda. Se quer andar com o Lula, ele siga o caminho e vamos arrumar um candidato que pareça com (o ex-governador) Wilson Witzel, que um ano antes tinha 3% (nas pesquisas) e ganhou dele. Se ele quer dar uma guinada, abandonar o Lula e tentar se redimir, é uma decisão pessoal dele", diz o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).

Indefinição em São Paulo e Minas
Em São Paulo há a indefinição se o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) concorrerá à reeleição ou à Presidência — ele diz publicamente que tentará mais quatro anos.

Entre os cotados caso ele concorra ao Planalto estão o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL). Apesar de ambos apoiarem Bolsonaro, são políticos considerados da ala mais pragmática da direita e sem relação próxima com o núcleo duro do bolsonarismo.

Diante da cada vez maior indisposição dos partidos do Centrão com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que fez ataques públicos a Tarcísio, ao presidente do PP, Ciro Nogueira, e à senadora Tereza Cristina (PP-MS), há também dúvidas sobre um acordo, feito já no início deste ano, em que o filho do ex-presidente seria candidato a senador pelo estado.

É citado o fato de que Eduardo está fora do Brasil e temer ser preso caso volte, já que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por coação ao atuar nos Estados Unidos por sanções contra autoridades brasileiras no curso do processo da trama golpista.

Eduardo também tem se colocado como opção para a Presidência, mas sem o endosso dos principais partidos que organizam uma chapa da oposição. Há nomes interessados, até dentro do grupo “bolsonarista raiz”, em preencher a vaga na disputa ao Senado que seria do filho de Bolsonaro.

"Eduardo é nosso candidato número 1. Se não for ele, coloquei meu nome à disposição, mas o partido é que decide", afirmou o deputado Marco Feliciano (PL-SP).

Além dele, integrantes do Centrão também se movimentam. O deputado Paulinho da Força (Solidariedade), relator do projeto que reduz penas do 8 de janeiro, tenta se viabilizar como um dos candidatos a senador no grupo de Tarcísio.

Também há divisão em Minas Gerais com a troca de farpas recente entre Eduardo e o senador Cleitinho (Republicanos-MG). Mesmo assim, o PL avalia apoiar Cleitinho para governador e até mesmo filiá-lo.

O senador já chegou a dizer que não apoiaria uma candidatura de Eduardo à Presidência “por ele não estar no Brasil” e que a gratidão a Jair Bolsonaro pelo apoio em 2022 “está paga”.

As declarações irritaram Eduardo, que disse nas redes sociais que o bolsonarismo não deveria ter apoiado Cleitinho para o Senado. Em resposta, o senador recuou e pediu desculpa. Procurado, Cleitinho minimizou o desentendimento:

"Respeito demais e tenho a maior aproximação com eles, mas não tem nada definido (sobre uma mudança de partido)".

O deputado federal Domingos Sávio, presidente do PL em Minas, reiterou que o cenário local está "aberto":

"Podemos ter candidatura própria ou apoiar candidato de direita ou centro-direita. Estamos analisando para tomarmos a melhor decisão".

Também no campo da direita, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), articula para que o vice-governador Matheus Simões (PSD) tente ser seu sucessor. Simões se filiou recentemente ao PSD numa tentativa de dar robustez para a candidatura.

Na Bahia, onde Lula tem altos índices de popularidade, há a previsão de que o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) se vincule a um candidato da direita a presidente — Tarcísio ou o governador do Paraná, Ratinho Júnior — mas sem uma vinculação clara com o bolsonarismo.

Na contramão do que aconteceu em 2022, a tendência é que o PL não tenha candidato na Bahia e apoie o União Brasil no primeiro turno. Durante o ato bolsonarista de 7 de setembro realizado em Salvador, João Roma, presidente do PL na Bahia e ex-ministro de Bolsonaro, disse que hoje é pré-candidato a governador, mas que pode se aliar a ACM Neto:

"Trabalhamos para marchar juntos. O diagnóstico que fazemos em comum é que 20 anos de PT não melhoraram a vida do baiano".

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