Lula defende ida a Moscou e diz que Brasil continua disposto a negociar paz na Ucrânia
Presidente foi um dos cerca de 30 líderes estrangeiros que estavam na Praça Vermelha na sexta para o desfile militar que marcou os 80 anos do fim da guerra
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou descabidas as críticas a sua viagem a Moscou para participar do Dia da Vitória soviética sobre o nazismo na Segunda Guerra.
Lula foi um dos cerca de 30 líderes estrangeiros que estavam na Praça Vermelha na sexta para o desfile militar que marcou os 80 anos do fim da guerra. Pouco depois, reuniu-se com o presidente russo, Vladimir Putin, com o qual prometeu “estreitar a parceria estratégica”.
O governo russo exibiu a presença de Lula e de outros chefes de Estado e governo na festa como um sinal de que o país não está isolado, após três anos de sanções aplicadas pelo Ocidente em retaliação à guerra na Ucrânia. Questionado sobre o risco de ser usado como parte da peça de propaganda do Kremlin, Lula disse que sua presença não muda “em um milímetro” a posição do Brasil em defesa da paz.
Para ele, foi importante participar do evento que marca a derrota do nazismo, num momento em que o fenômeno volta a crescer em algumas partes do mundo. Em seguida, criticou supostas interpretações políticas de sua viagem.
— Acho importante não fazer exploração política. Se tudo for político a gente não pode fazer nada. A nossa posição continua a mesma em relação à guerra na Ucrânia: nós queremos paz. -- disse Lula. — As pessoas têm que pensar de forma positiva. Então se o Brasil fizer uma festa sobre qualquer coisa, está explorando politicamente? Se eu for a um baile de Carnaval estou explorando politicamente? É pequenez pensar assim, sinceramente.
Sobre a conversa que teve com Putin, Lula contou ter reforçado a disposição do Brasil em ter um papel na negociação para o fim da guerra na Ucrânia, “desde que os dois países que se enfrentam queiram que a gente participe”. Ele lembrou a criação do “grupo de amigos” junto com a China para buscar meios de resolver o conflito e mostrou preocupação com o empurrão militarista na Europa, motivado pela percepção de ameaça russa.
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— Eu disse ao presidente Putin o que a gente vem dizendo desde que começou esta guerra. A posição do Brasil contra a ocupação territorial de outro país — disse. — O Brasil acha que é uma loucura ficar incentivando essa guerra. É uma loucura a Europa estar voltando a se armar com medo de guerra, a Alemanha, a Inglaterra, o Japão, estar gastando trilhões de dólares com armas quando o mundo está precisando que a gente gaste isso com educação, com saúde, e com comida para o povo que está passando fome.
Falando de seu objetivo na viagem à Rússia, sua primeira ao país em 15 anos, Lula disse que entre as prioridades estavam a paz e a defesa do multilateralismo. Na reunião que teve com Putin na sexta, Lula havia criticado a guerra tarifária lançada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Antes de deixar Moscou ele voltou ao tema.
— Fiz questão de vir aqui para dizer que o Brasil está defendendo o multilateralismo. Querer voltar à ideia do protecionismo não interessa a ninguém, a não ser a quem propôs a ideia — disse o presidente.
Saindo do contexto da Rússia, o presidente decidiu falar de outro conflito, no qual sua posição é mais clara, a ofensiva israelense em Gaza, deflagrada após os ataques terroristas do grupo Hamas em outubro de 2023. Lula, porém, não disse se o Brasil está envolvido em algum esforço para negociar um cessar-fogo em Gaza.
— A única coisa que interessa neste momento é discutir a volta da normalidade no mundo. Não é só aqui. Aqui dois Estados estão em guerra. Na Faixa de Gaza é um genocídio. De um Exército muito bem preparado, contra mulheres e crianças, a pretexto de matar terroristas. Já houve casos de bombardeio de hospital e não ter um terrorista, só ter mulheres e crianças. É por isso que o Brasil defende o fortalecimento da ONU — disse.
O presidente deixou Moscou na manhã deste sábado em direção a Pequim. Na capital chinesa, a principal atividade de Lula será a participação no Fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), na terça. Ele também terá uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping e deve fazer visitas a empresas de tecnologia em Pequim, entre elas a Huawei.