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GUERRA NA UCRÂNIA

Lula diz que Boric é "sequioso" e "apressado" por críticas a países quem condena Rússia por guerra

Lula diz ser "normal" que UE tenha mais preocupação com o Brasil no que diz respeito ao conflito, mas crê que 'mundo começa a se cansar'

Presidente Lula durante entrevista coletiva em Bruxelas Presidente Lula durante entrevista coletiva em Bruxelas  - Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (19), durante entrevista coletiva em Bruxelas, que o presidente do Chile, Gabriel Boric, é "sequioso" e "apressado" devido às suas críticas sobre a resistência de algumas nações latino-americanas que se recusam a condenar a Rússia pela invasão na Ucrânia e vetaram menções ao país de Vladimir Putin na declaração final.

Segundo o petista, a juventude do presidente chileno, de 37 anos e sua "falta de costume" justificam a pressa, mas é importante lembrar que cúpulas como as que ambos participaram têm interesses de várias nações sobre a mesa.

Respondendo a uma pergunta sobre o posicionamento de Boric, Lula disse que "todos nós sabemos o que pensa a Europa sobre o que está se passando entre Ucrânia e Rússia. Todos nós sabemos o que pensa a América Latina".

O presidente, que estava na Bélgica para a cúpula da União Europeia com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), retorna ao Brasil nesta quarta, após fazer uma escala em Cabo Verde, onde terá reuniões.

— Eu não tenho porque concordar com o Boric, é uma opinião dele. Foi extraordinária a reunião. Provavelmente a falta de costume de participar dessas reuniões faz com que um jovem seja mais sequioso, mais apressado, mas as coisas acontecem assim — afirmou ele.

Na terça, o presidente chileno havia dito crer que seria importante à América Latina dizer "claramente que o que "acontece na Ucrânia é uma guerra de agressão imperialista, inaceitável, em que se viola o direito internacional". Segundo ele, contudo, a declaração conjunta estava travada porque "hoje em dia porque alguns não querem dizer que a guerra é contra a Ucrânia":

— Estimados colegas, hoje é a Ucrânia e amanhã pode ser qualquer um de nós. Não duvidemos disso devido à complacência que se poder ter em um momento ou outro com qualquer líder. Não importa se gostamos ou não do presidente de outro país. O importante é o respeito ao direito internacional, que foi claramente violado aqui por uma parte que é invasora, a Rússia — afirmou o chileno.
 

Lula afirmou que "já teve a pressa de Boric", afirmando que durante reuniões internacionais em seu primeiro mandato queria que tudo fosse solucionado no mesmo instante:

— Mas não, não são só os interesses do Brasil. Ontem estávamos discutindo a visão de 60 países e temos que entender que nem todo mundo concorda com a gente.

Para Lula, a reunião que chegou ao fim na terça "foi extraordinária" e a "mais madura reunião da qual eu participei entre a América Latina e a UE, onde se discutiu os temas que se deveriam discutir". A conclusão final, disse ele, foi "extremamente razoável".

Comentando a guerra da Ucrânia ao ser indagado em outro momento sobre as diferenças entre os dois blocos, Lula disse ser "normal" que os países da União Europeia, por questões geográficas, tenham maior preocupação com a guerra na Ucrânia:

— É normal que as pessoas que estão ali tenham uma preocupação maior que a minha, que estou a 14 mil km de distância. Mas é exatamente pelo fato de a gente estar distante que podemos ter a tranquilidade de não entrar no clima que estão os europeus e tentar criar um clima de paz — disse ele, que defende desde que chegou ao poder a criação de um clube de países neutros para buscar uma saída pacífica.

O presidente lembrou que seu assessor especial para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, visitou Moscou e Kiev e precisou embarcar em uma longa jornada de trem até a Ucrânia e que havia muitas pessoas "assustadas". Ele afirmou ainda que por enquanto nenhum dos lados quer falar em paz "porque todos acham que vão ganhar", mas disse que "começa a haver um cansaço" com relação ao conflito:

— Por enquanto, nem o Zelensky nem o Putin querem falar em paz, porque cada um pensa que vai ganhar”, disse o presidente. — Mas está havendo um cansaço. O mundo começa a cansar — completou, lembrando de suas conversas com outros países para mediar uma saída.

De acordo com o presidente, há um momento para a sua proposta, conforme a guerra se aproxima de seu 18º mês sem perspectiva de solução, mas "a condição sine qua non para discutir paz é parar a guerra. Enquanto tiver tiro, não tem conversa". Ele afirmou crer, contudo, que a fadiga e as consequências do conflito começam a falar mais alto:

— Eu acho que tem muita gente que estava muito nervosa e afobada há seis meses que agora está precisando encontrar alguém que signifique a possibilidade de encontrar o caminho da país. O Brasil tem feito isso desde o começo. É preciso que a gente construa um grupo de países capaz de, no momento certo, convencer a Rússia e a Ucrânia de que a paz é o melhor caminho.

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