Logo Folha de Pernambuco

censura

"Me sinto censurado", diz Renato Freitas, alvo de terceiro processo de cassação por quebra de decoro

Deputado do PT afirma que processo restringe sua atividade parlamentar e arrolou ministros de Lula para sua defesa

Vereador Renato Freitas (PT)Vereador Renato Freitas (PT) - Foto: Reprodução/Instagram

O deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) se tornou alvo do terceiro processo administrativo por quebra de decoro parlamentar de sua carreira. Por um pedido da Corregedoria da Assembleia Legislativa, Freitas chegou ao Conselho de Ética e pode perder o seu mandato por falta de compostura nas sessões.

Ocasiões em que chamou o governador do estado, Ratinho Júnior (PSD), de "rato" e criticou o empresário Luciano Hang em plenário são citadas no despacho.

A defesa do petista entregue no mês passado será analisada nesta segunda-feira. Freitas arrolou os ministros de Lula (PT) Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial) como testemunhas em seu favor. Ao Globo, ele afirmou que tem grande carinho pelos titulares das pastas, mas que a decisão foi exclusivamente de seu advogado. Para Freitas, o processo é mais um caso de racismo em sua trajetória:

— Esses processos realmente restringem a nossa atividade parlamentar. Quando ocorre esse tipo de perseguição, coage a gente. Gasta-se uma energia que poderia estar sendo investida em projetos de lei, por exemplo. Por isso, me sinto censurado — disse o deputado.

No procedimento que tramita desde maio também é pedido a cassação de seu principal adversário, Ricardo Arruda (PL-PR), pelo mesmo motivo. A avaliação da Corregedoria da Casa é de que a conduta dos dois violou as regras de "boa conduta" do parlamento pelo "uso, em discurso ou proposição, de expressões atentatórias ao decoro parlamentar” e “prática de ofensas físicas ou morais a qualquer pessoa, no edifício da Assembleia Legislativa, ou o desacato, por atos ou palavras, a outro Parlamentar, à Mesa ou a Comissão, ou aos respectivos Presidentes".

Desde o início do mandato, em fevereiro, os dois protagonizaram uma série de embates nos quais citaram autoridades públicas do estado. Em diversas ocasiões, Arruda acusou o petista de defender bandidos, quando se referia a moradores (e seus familiares) que morreram em conflitos policiais no Paraná.

Arruda foi recentemente denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por tráfico de influência, associação criminosa e peculato e, por isso, afastado da presidência do diretório municipal do PL. Para Freitas, a decisão da Casa em equiparar as atitudes dos dois é "absurda".

— Arruda fala que sou drogado, funkeiro, incapaz de estar na Assembleia Legislativa. Ele é a encarnação desse ambiente hostil, propaga esteriótipos que diminuem nosso espaço.

Enquanto vereador de Curitiba, o político teve seu mandato cassado e revertido por decisão judicial em duas ocasiões. As representações na Câmara ocorreram por um episódio de fevereiro de 2022, quando ele liderou a entrada na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, no centro histórico da capital, durante ato contra o racismo.

O caso gerou comoção nacional e foi comentada inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). À época, o chefe do Executivo pediu a investigação dos responsáveis, mas a própria Arquidiocese de Curitiba se posicionou contrariamente à cassação.

Apesar deste processo ter ganho grande repercussão, não foi o primeiro procedimento administrativo de Renato Freitas. Logo no começo de seu mandato se tornou alvo de um pedido após protestar pela morte de Beto Freitas, espancado e assassinado por seguranças do Carrefour em novembro de 2020.

— Um ponto em comum desses três processos é que estava falando da valorização da vida e contra a política extremamente racista do estado brasileiro — finaliza o deputado.

Veja também

Newsletter