Dom, 07 de Dezembro

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

Motta defende projeto Antifacção e volta a rebater críticas de Lula e Haddad

Postagens reforçam ofensiva da Câmara e ampliam o embate com o governo, enquanto o Senado se prepara para revisar pontos sensíveis da proposta

Declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, foi postada nas redes sociaisDeclaração do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, foi postada nas redes sociais - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Pelo segundo dia consecutivo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltou às redes sociais para defender o PL Antifacção e rebater críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao texto aprovado pela Câmara.

Motta afirmou que “há muita gente tentando distorcer os avanços do Marco Legal de Combate ao Crime Organizado” e questionou “por que alguém teria interesse em enfraquecer uma legislação que endurece contra criminosos”. O presidente da Câmara agradeceu o apoio “de milhões de brasileiros” e voltou a divulgar um vídeo do ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel, apresentado como especialista que “esclarece” pontos contestados pelo governo.

A ofensiva de Motta ocorre depois de Lula e Haddad afirmarem que o texto aprovado “enfraquece o combate ao crime”, altera dispositivos centrais do projeto original do governo e gera insegurança jurídica. O Planalto também apontou riscos ao financiamento da Polícia Federal (PF) e à atuação da Receita Federal em portos e fronteiras — pontos considerados sensíveis dentro da estrutura federal. Motta, porém, vem utilizando as redes para tentar cristalizar uma narrativa oposta.

No vídeo compartilhado em ambas as postagens, Rodrigo Pimentel responde à declaração de Haddad sobre o eventual enfraquecimento financeiro da PF. Ele afirma que o ministro está enganado ao sugerir que o texto aprovado desidrata recursos provenientes de bens confiscados.

— Observamos uma crítica do ministro Haddad, que diz que esse PL enfraquece a Polícia Federal no trecho que trata do destino dos bens apreendidos. Isso não é verdade — diz Pimentel.

Segundo ele, a fatia dos bens apreendidos hoje destinada ao Fundo Nacional de Segurança Pública é “muito pequena” — cerca de 4% — e, portanto, o impacto seria irrelevante. A argumentação contraria análises técnicas da própria Fazenda e do Ministério da Justiça, que apontam risco de esvaziamento das operações federais de fronteira com a redistribuição dos recursos entre estados e municípios.

Na postagem publicada na quarta-feira, Motta já havia afirmado que “a Câmara escolheu o caminho certo” e que o texto responde à demanda da população por medidas mais duras contra o crime organizado. Ele também reforçou que a votação — com 370 votos a favor e 110 contra — representou uma derrota expressiva do governo na área de segurança pública e indicou que a Câmara não pretende recuar.

O endurecimento da defesa pública do projeto coincide com o esforço do governo para reverter, no Senado, pontos considerados críticos. O relator na Casa, Alessandro Vieira (MDB-SE), já indicou que fará ajustes de mérito e de constitucionalidade no texto do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), incluindo dispositivos sobre o financiamento integral da PF e a definição de novas figuras penais.

Lula afirmou nas redes sociais que o texto dos deputados “troca o certo pelo duvidoso” e “gera insegurança jurídica”, e pediu que o Senado conduza a análise com “responsabilidade”. Haddad, por sua vez, disse que a proposta “facilita a vida dos líderes do crime organizado” e “fragiliza operações da Receita e da PF”.

A reação de Motta amplia o desgaste entre Câmara e governo e indica que o presidente da Casa pretende manter a disputa política em torno do tema enquanto o Senado se prepara para revisar o projeto.

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