'Papa', 'Caras' e 'poesia em casamento': as ironias no julgamento do núcleo 4 da trama golpista
Enquanto se debruçaram na denúncia da PGR, ministros fizeram piadas
A primeira sessão do julgamento do chamado núcleo 4 da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcado por um plenário mais esvaziado e por um clima de descontração entre os ministros. Enquanto analisavam a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a tentativa de golpe de Estado, os magistrados trocaram brincadeiras e ironias ao longo da sessão.
O tom bem-humorado começou quando dois advogados de defesa voltaram a mencionar uma notícia falsa antiga que associava a empresa Positivo — acusada de disseminar desinformação sobre as urnas eletrônicas — a dois ministros da Corte: Luiz Fux e Luís Roberto Barroso. A alegação foi prontamente contestada pelo ministro Flávio Dino e, em seguida, esclarecida por Fux.
— Se me permite, essa bisbilhotagem ridícula dizia respeito a uma decisão que eu teria proferido no CNJ, numa sexta-feira, impedindo uma medida contrária à lei. A partir disso, tentaram sugerir uma suposta ligação familiar com o ministro Barroso. Tenho muito carinho por ele, é meu afilhado de casamento porque celebrei o casamento dele, mas não temos vínculo familiar. E, sinceramente, isso não tem a menor importância — afirmou Fux.
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Em tom de brincadeira, Dino reagiu:
— E houve urna eletrônica no casamento? (risos).
Fux entrou na piada:
— Só poesia.
O clima leve prosseguiu. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, comentou com ironia o fato de ser constantemente alvo de pedidos de suspeição por parte das defesas:
— Eu fico extremamente magoado. Quando mencionam o ministro Fux, ninguém pede suspeição. Quando é o meu nome, são 868 pedidos! Então, na verdade, suspeito é quem está pedindo minha suspeição. É impressionante.
Fux respondeu, também em tom descontraído:
— É porque a alegação é absurda.
Moraes completou:
— Não sobraria um para julgar.
E Dino arrematou:
— E não há Papa no Vaticano.
'Fux é inocente'
Em outro momento da sessão, durante o debate sobre a competência do STF para julgar a denúncia da PGR, o ministro Luiz Fux comentou que divergências jurídicas com Moraes não significam conflito pessoal e ressaltou a relação dos dois.
— Estou apenas mantendo pontos de vista que me parecem adequados (...) Tenho absoluta certeza de que essas frágeis alusões não vão abalar nem o ponto de vista do ministro Alexandre, nem o meu.
Moraes respondeu em tom bem-humorado, citando uma lesão no tendão sofrida durante um treino, que o deixou com o braço imobilizado:
— Alguns acham que o STF é revista Caras, querem fazer intriga, mas vão ter que se esforçar mais para me colocar contra vossa excelência. Podiam até dizer que foi vossa excelência quem machucou meu ombro. Mas deixo claro: Fux é inocente.