Policial federal acusado por trama golpista diz que "não ia ter posse" de Lula: "Não íamos deixar"
Wladimir Soares também declarou que ex-comandante da Marinha 'foi o único' que apoiou Bolsonaro
O policial federal Wladimir Soares, denunciado pela Procuradoria-Geral da República ( PGR) pela trama golpista, afirmou em um áudio que "não ia ter posse" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque "nós não íamos deixar". De acordo com Soares, a medida não ocorreu porque faltou "pulso" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Soares está preso desde novembro, pela suspeita de integrar a organização criminosa que acusada de tentar dar um golpe de Estado em 2022. A denúncia da PGR contra ele e outras 11 pessoas que formam o chamado "núcleo 3" do grupo vai ser julgada na semana que vem no STF.
A PF apreendeu o celular do policial em novembro, e enviou na terça-feira ao STF um relatório com o conteúdo das mensagens. Para a corporação, os diálogos comprovam que havia um plano para impedir a posse do presidente eleito.
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Na conversa, em janeiro de 2023, Soares afirma que o Ministério das Relações Exteriores não teria se preparado para a posse de Lula. Segundo ele, o plano não foi adiante porque Bolsonaro não aceitou agir apenas com coronéis do Exército, já que os generais seriam contra:
— O povo aqui está desolado, ninguém entende. O próprio MRE, velho, os caras não entendiam, não se prepararam para essa posse, porque não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar. Mas aconteceu. E Bolsonaro faltou um pulso para dizer, não tem um general, tem um coronel. Vamos com os coronéis, porque a tropa toda queria. Toda. 100%. Só os generais que não deixavam.
Em outra conversa, também em janeiro, Soares afirma que apenas o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, teria concordado com o plano golpista.
— Exatamente, Garnier foi o único, cara, o único. A Marinha desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo.
A declaração corrobora a investigação da PF e a denúncia da PGR, que aponta que os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) recusaram uma proposta de Bolsonaro para reverter o resultado da eleição, e que apenas Garnier teria concordado.
Em resposta apresentada à denúncia da PGR, a defesa de Soares afirmou que "não há nos autos qualquer evidência de que o acusado tenha participado de atos preparatórios ou executórios de qualquer plano contra autoridades públicas ou contra o Estado Democrático de Direito".
Bolsonaro e Garnier já são réus no STF pela suspeita de participarem do plano. Ao STF, a defesa dos dois negou que eles tenham participado de qualquer tentativa de golpe.

