SÃO PAULO

Possível candidatura de Damares atrapalha aliados do presidente. 'Ele quer vassalos', diz Janaína

Janaína Paschoal disse que, para defender pautas conservadoras, é preciso bem mais do que dizer que menina veste rosa e menino veste azul

 A ministra Damares Alves (Direitos Humanos) A ministra Damares Alves (Direitos Humanos) - Foto: Willian Meira/MMFDH

A declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (sem partido), pode disputar o Senado por São Paulo desagradou pré-candidatos que esperavam contar com o apoio do presidente e dividiu ainda mais o palanque na direita no maior colégio eleitoral do país. O cenário é parecido com o que se vê no governo estadual, onde o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, antigo aliado do presidente, disputa o eleitorado bolsonarista com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.

Deputada estadual mais votada da história do país, Janaína Paschoal (PSL) esperava o apoio de Bolsonaro para concorrer ao Senado, isso mesmo após romper com presidente e se tornar crítica de seu governo, já tendo dito em redes sociais que o mandatário parecia filiado ao PSOL. Nos últimos meses, no entanto, para viabilizar o apoio, a parlamentar voltou a acenar para a base bolsonarista e começou a trabalhar por uma aliança com Tarcísio. Ao comentar o convite a Damares, Janaína disse que Bolsonaro gosta de prejudicar a direita. Já fez isso em 2020 está fazendo de novo, declarou:

— Ele (Bolsonaro) quer vassalos. Nada além disso. E ele sabe que eu não sou — disse a deputada, que ainda criticou a escolha da ministra. — É preciso lembrar que o Senado é a casa em que o estados são representados. Quanto às pautas conservadoras, para defendê-las, é preciso bem mais do que dizer que menina veste rosa e menino veste azul — afirmou ela, em referência à polêmica frase dita pela ministra em 2019.

Segundo Janaína, a pré-candidatura está mantida mesmo sem o apoio do presidente:

— Eu anunciei minha pré-candidatura bem antes, não pedi aval, nem apoio de ninguém — afirmou a deputada, que vai deixar o PSL nos próximos meses. — Só me querem para puxar os candidatos escolhidos pela cúpula.

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O novo partido ainda não está definido, mas ela adianta que não quer estar amarrada a candidato nenhum. Sobre um possível apoio a Sergio Moro, candidato do Podemos, afirmou que admira o que ele fez pelo Brasil, mas ainda é preciso ver suas propostas.

A entrada de Damares na disputa também dificulta o caminho de Paulo Skaf (MDB), ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cujo nome tem sido cotado para disputar o Senado com o apoio do presidente.

Ainda assim, aliados de Skaf avaliam que é cedo para que ele fique fora dos planos para uma eventual chapa com o ministro Tarcísio como candidato a governador. Embora não seja um nome que entusiasma a militância bolsonarista como a ministra Damares com seus discursos inflamados de radicalismo e esteja enfraquecido após deixar a presidência da Fiesp, Skaf é visto na direita como um nome capaz de atrair o apoio do empresariado, o que poderia ser um ativo.

No início do governo Bolsonaro, Skaf recebeu o presidente e seus ministros inúmeras vezes na sede da Fiesp, na Avenida Paulista.

Há alguns meses, Skaf sonhava ainda, segundo empresários, em disputar o governo de São Paulo com apoio de Bolsonaro, mas viu o presidente passar a estimular a candidatura de Tarcísio. Com a queda de popularidade do presidente e sem avanços significativos na agenda liberal de Guedes, Skaf começou a procurar caminhos diferentes e cogitou se filiar ao PSD, embora nunca tenha criticado publicamente o governo, já que nunca descartou uma aliança com Bolsonaro.

Apesar de ter negado ao longo de todo ano passado que iria concorrer a cargos políticos em 2022, Damares deu pelo menos três declarações que revelam suas intenções eleitorais. Uma delas ocorreu em uma “live” promovida pelo pastor evangélico e ex-deputado federal Fábio Sousa na segunda-feira, quando a ministra disse que estava "gostando da ideia" de ser candidata. O convite, por sua vez, foi confirmado na últiima quarta-feira pelo presidente Bolsonaro.

— Posso adiantar uma possível senadora para São Paulo: a ministra Damares. O convite foi feito, o Tarcísio (de Freitas) gostou dessa possibilidade. Conversei com a Damares, e ela ainda não se decidiu — contou o presidente, deixando claro que a sugestão passou pelo crivo do ministro da Infraestrutura, seu candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

Ainda que não seja unanimidade dentro da bancada religiosa, Damares conta com o apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que recentemente postou em suas redes sociais o resultado de uma enquete em que a ministra aparece na liderança da corrida pelo Senado no Amapá.

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