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Política

Prisão de Cunha deixa Brasília em alerta

O nervosismo do mundo político se centra, principalmente, na possibilidade de que Cunha possa fazer uma delação premiada

A pergunta crucial feita depois da detenção de ex-deputado é:  e se ele resolver contar tudo o que sabe?A pergunta crucial feita depois da detenção de ex-deputado é: e se ele resolver contar tudo o que sabe? - Foto: José Cruz/abr

 

A prisão temporária de Eduardo Cunha, nesta quarta-feira (19), foi o desfecho de uma situação esperada desde a madrugada em que o peemedebista foi cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados, em 12 de setembro. Ao perder o foro privilegiado, sabia-se que a sua detenção podia ser determinada a qualquer momento pelo juiz Sergio Moro, que já vinha fechando o cerco em torno do ex-parlamentar por meio de pressões sobre sua família, especialmente sua mulher Claudia Cruz, que também é ré na Lava Jato. Mas, agora, a pergunta crucial não é o que acontecerá com Cunha, mas o impacto que sua detenção terá em outros personagens políticos do Executivo e do Legislativo, e, sobretudo, na possibilidade de uma detenção, também, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O nervosismo do mundo político se centra, principalmente, na possibilidade de que Cunha possa fazer uma delação premiada. E do que venha surgir a partir das revelações feitas por um personagem que é um arquivo privilegiado sobre os usos e costumes da política brasileira. Um “general” da Lava Jato, em Brasília, brincava, nesta quarta, que os estoques de Rivotril na Capital Federal iriam desaparecer das gôndolas das farmácias.

Congresso
Para o líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), uma eventual delação de Cunha poderia abalar a Esplanada dos Ministérios. “A delação premiada dele derruba o governo Michel Temer e causa uma imensa turbulência na Câmara, porque ele detinha 200 deputados na mão, gente que ele financiou, que ele cooptou, que ele chantageou”, diz. 

O que aconteceu ontem mostra que Valente está certo. Apesar das quartas-feiras serem os dias de maior movimentação e trabalho na Câmara, as votações e sessões sofreram uma paralisação logo após o anúncio da prisão. A notícia chegou na hora em que o plenário tentava votar o projeto que altera as regras de exploração do pré-sal. Houve um silêncio nos microfones, em um primeiro momento, mas a sessão logo foi tomada por manifestações de adversários de Cunha. Em silêncio, a base governista e aliados não deram quorum suficiente, apesar de a mudança do pré-sal ser uma das prioridades de Temer. Reuniões de comissões também foram adiadas para a semana que vem, incluindo a que instalaria o colegiado que discutirá a reforma política.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, por sua vez, mostrou-se irritado, ao ser questionado sobre a prisão. “O que que importa saber o que eu acho?”, retrucou Renan, que tem contra si oito inquéritos da Lava Jato.

Temer e governo
O Congresso não “tremeu” sozinho. Assim que recebeu a notícia da prisão de Cunha, o presidente da República, Michel Temer, decidiu antecipar sua volta ao Brasil e decolou de Tóquio, no Japão - onde participou, nesta quarta, de encontros com o imperador Akihito e com e o primeiro-ministro Shinzo Abe. Sua viagem estava marcada para as 23h. A expectativa era que Temer pousasse no Brasil apenas nesta sexta-feira. O Palácio do Planalto não confirma que a antecipação tenha a ver com a prisão, mas sim pela confusão que envolve a votação das mudanças na Lei de Repatriação de Recursos do Exterior.

A resposta protocolar divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência é que não há preocupação com uma eventual delação do peemedebista, que deu o pontapé inicial no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. No entanto, a prisão causou apreensão entre auxiliares e assessores do governo, para os quais o episódio aumenta o risco do peemedebista fazer um acordo de delação premiada para deixar a cadeia.

O entorno de Temer não acredita que o peemedebista tenha elementos para comprometer o presidente em uma eventual delação premiada, mas demonstra receio com a relação de proximidade do ex-presidente da Câmara dos Deputados com o núcleo duro do Palácio do Planalto.

 

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