Eleições 2020

Regiões metropolitanas trocam de guarda partidária e não seguem capitais

Urna eletrônicaUrna eletrônica - Foto: TSE

Termômetro da política nos estados, o mapa partidário das cinco principais regiões metropolitanas do país após a eleição municipal deste ano mostra um cenário de descontinuidade dos partidos à frente das prefeituras em relação a 2016. Também indica uma dificuldade dos grupos políticos vencedores nas capitais de repetir o êxito na maioria das cidades vizinhas.

Comparados com quatro anos atrás, dois terços dos prefeitos eleitos agora nessas regiões metropolitanas são de outras legendas –muitas vezes, são os mesmos prefeitos reeleitos que mudaram de partido.

A reportagem analisou o quadro partidário das cinco maiores regiões metropolitanas do país, de acordo com o IBGE, onde há eleições: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Porto Alegre. Não há eleição municipal no Distrito Federal.

Somados, são 164 municípios. São agrupamentos urbanos de alta relevância na política local, seja pelo volume de seu eleitorado ou pela tradição de formar novas lideranças para os partidos. Só as cidades vizinhas à capital paulista possuem somadas uma população de quase 10 milhões, quantidade superior à da maioria dos 26 estados brasileiros.

O horário eleitoral gratuito na TV nas grandes cidades, que geralmente é retransmitido para localidades vizinhas sem emissoras, costumava ser considerado um fator que estimulava a difusão do partido vitorioso nas capitais por áreas próximas.

"Quem governa em cidade de região metropolitana tem mais holofote sobre si", afirma o cientista político Marco Antonio Teixeira, coordenador do curso de administração pública da FGV (Fundação Getulio Vargas).

As trocas de partido, aponta, têm relação com os projetos de poder da liderança política. Teixeira cita a segunda maior cidade de São Paulo, Guarulhos, cujo prefeito, Guti, foi eleito em 2016 pelo PSB e reeleito pelo PSD.

Em São Paulo, o PSB e o PSD têm como seus principais caciques o ex-governador Márcio França e o ex-prefeito da capital Gilberto Kassab. Guti se filiou ao PSD, sigla mais alinhada à atual gestão estadual, depois de França perder a disputa pelo governo em 2018 para João Doria (PSDB). Seguiram o movimento nove vereadores da base.

"Provavelmente o Guti viu no PSD maiores possibilidades de ele ter status político na Prefeitura de Guarulhos do que aqueles que o PSB oferecia", afirma Teixeira.
"Mas, normalmente, quanto mais forte e estável o partido, maior a possibilidade de reter a liderança em seus quadros."

O PSD também abrigou um dos prefeitos reeleitos nessas capitais: Alexandre Kalil, que se candidatou em Belo Horizonte pelo extinto nanico PHS em 2016. Além dele, o empresário Vittorio Medioli disputou em Betim, na região metropolitana da capital mineira, pelo mesmo partido.

O PHS foi incorporado pelo Podemos, mas a dupla de aliados decidiu se abrigar no PSD. Neste ano, ambos foram reeleitos em primeiro turno pela legenda. Apesar da força política que Kalil e Medioli têm na região, o PSD só elegeu outros sete prefeitos entre os 50 municípios do entorno de Belo Horizonte. Em 2016, seis municípios tiveram eleitos pelo partido.

Há casos em que a região metropolitana é tão extensa que os problemas locais têm poucas relações com a política da capital. Sete Lagoas, que elegeu um prefeito do PMDB em 2016 e um do Patriota neste ano, fica a 75 km de Belo Horizonte.
 


Mesmo em metrópoles com um grupo político hegemônico mais consolidado, caso do PDT de Ciro Gomes em Fortaleza, ou dos tucanos em São Paulo, ainda assim esses partidos não formam uma maioria ampla de prefeituras no entorno das capitais.

Na capital do Ceará, o eleito foi José Sarto (PDT). O candidato derrotado por ele no segundo turno, Capitão Wagner (PROS), acabou contribuindo para a vitória de um correligionário em uma cidade vizinha, Caucaia, de 365 mil habitantes. O PDT fez mais quatro prefeitos na região.

O caso mais simbólico do isolamento é o da região metropolitana do Rio. O DEM, partido do prefeito eleito da capital, Eduardo Paes, conseguiu eleger apenas mais um outro prefeito nas cidades próximas, São João de Meriti, de 473 mil habitantes.

Antigo líder no ranking local de prefeitos, o MDB também encolheu na região. O partido no estado viveu seu auge nos tempos do ex-governador Sérgio Cabral e posteriormente teve seus principais líderes presos em desdobramentos da Operação Lava Jato. Agora, só governará duas cidades na região metropolitana. PL e PP administrarão quatro cada um.

Também na região metropolitana de Porto Alegre é difícil apontar um partido dominante. O mais vitorioso foi o PP, com 11 dos 34 prefeitos eleitos, mas a agremiação não possui hoje uma liderança inconteste no estado, que é governado pelo PSDB.

O MDB, partido do prefeito eleito de Porto Alegre, Sebastião Melo, conquistou três prefeituras próximas.

O cenário também reflete a crescente pulverização do quadro partidário municipal, com uma concentração menor de prefeituras sob o comando de partidos como MDB e PSDB e o fortalecimento de forças políticas que costumavam ser coadjuvantes, caso do PSD e outros partidos do chamado centrão.

Na Grande São Paulo, o PSDB se manteve com 11 das 39 prefeituras. Em duas delas, porém, São Caetano do Sul e São Lourenço da Serra, o resultado está pendente de julgamento pela Justiça Eleitoral. Existe a possibilidade de ocorrer nova eleição. A segunda sigla com mais prefeitos eleitos é o PL, com 8.

Dos 22 prefeitos que tentaram a reeleição, sem contar o tucano Bruno Covas, 14 foram reeleitos. Há cidades que fizeram caminhos parecidos com o da capital paulista. Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC, elegeram um prefeito do PT em 2012 e, em 2016 e 2020, optaram por um tucano.

A região metropolitana foi o berço, no início dos anos 1980, do PT, que chegou a governar um grupo de municípios apelidado de "cinturão vermelho". Além da capital, a sigla em 2012 triunfou em oito cidades próximas, entre elas Santo André e São Bernardo. Na eleição municipal seguinte, só venceu em uma delas e, a partir de 2021, governará Mauá e Diadema.

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