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DIREITA

Caiado elogia deputado ex-bolsonarista que disse que 'direita é maior do que Bolsonaro': 'Aula'

Governador de Goiás recebeu parlamentar Otoni de Paula (MDB-RJ) e apoiou sua candidatura para presidir a bancada evangélica na Câmara a partir de 2025

Ronaldo CaiadoRonaldo Caiado - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Pré-candidato à Presidência da República em 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), teceu elogios ao deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) em meio a uma movimentação para se contrapor à influência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no campo da direita.

Caiado, que protagonizou embates com Bolsonaro durante as eleições municipais deste ano, disse ter feito "questão de cumprimentar" Otoni por seus pronunciamentos no plenário da Câmara, um dia depois de o deputado afirmar, em um discurso, que "a direita é maior do que o bolsonarismo".

Caiado também sinalizou apoio à candidatura de Otoni, que se define como "ex-bolsonarista", para presidir a bancada evangélica na Câmara a partir de 2025. A escolha do novo dirigente da bancada deve ocorrer no próximo dia 11.

O encontro ocorreu na tarde de quinta-feira. Na véspera, em uma fala no plenário da Câmara, Otoni criticou o que chamou de "autofagia que o bolsonarismo está tentando fazer na direita", referindo-se a declarações de Bolsonaro de que ele será candidato à presidência em 2026, apesar de estar inelegível. Na mesma fala, Otoni defendeu a importância de "olhar para as lideranças de direita que temos no país", citando nominalmente o próprio Caiado e os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD).

"Fiz questão de cumprimentá-lo não só pelos pronunciamentos, mas também de poder compartilhar as ações dele no plenário da Câmara", afirmou Caiado, ao lado de Otoni. "Ele, modestamente, diz que aqui recebeu algumas orientações. Pelo contrário, ele deu uma aula de como se faz política, de como se lidera. E a partir do ano que vem estará presidindo uma das maiores frentes na Câmara, que é a Frente (Parlamentar) Evangélica".

Ao Globo, o deputado disse ter sido convidado por Caiado para uma "conversa sobre futuro político", e afirmou que pode ajudá-lo a articular o apoio de lideranças evangélicas para uma futura empreitada presidencial.

"A autofagia é um movimento bolsonarista para matar qualquer alternativa (à presidência). O governador Caiado considera possível unir a direita, e isso pode começar pelas igrejas", disse Otoni.

Em seu pronunciamento na Câmara, elogiado por Caiado, o deputado afirmou que "a direita é maior do que o bolsonarismo, assim como o conservadorismo é maior do que a própria direita", argumentando que há também manifestações conservadoras na esquerda. "Só não tem na extrema-esquerda", pontuou Otoni.

O parlamentar também sugeriu que Bolsonaro abra caminho para "não matar potenciais candidatos ou pré-candidatos" da direita em 2026. Segundo Otoni, é preciso "maturidade para entender que a direita não pode se submeter ao reboque do bolsonarismo" e que o plano deste campo político para a próxima eleição presidencial "tem que ser maior do que qualquer figura, por mais que a respeitemos".

Otoni irritou parlamentares bolsonaristas após representar a bancada evangélica em uma cerimônia no Palácio do Planalto em outubro, quando puxou uma oração pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À época, o deputado negou a possibilidade de assumir um papel de "interlocutor" do governo Lula com o segmento evangélico, e alegou que há um "abismo imenso" entre o PT e a maior parte dessa parcela da população.

A disposição de Otoni em aparecer junto de Lula, no entanto, foi bem recebida por integrantes do governo, por enxergarem no deputado uma possibilidade de furar o apoio maciço de lideranças evangélicas a Bolsonaro -- que já deu sinais de esgarçamento nas eleições municipais.

O parlamentar participou, no Rio, da campanha à reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD), contra o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL). Paes também angariou o apoio de outros pastores que haviam feito campanha para Bolsonaro em 2022, apesar de tentativas do bolsonarismo de constranger essas lideranças.

Por ora, Otoni é o único deputado a declarar sua candidatura para presidir a bancada evangélica, cujo comando sempre foi decidido de forma consensual. Incomodados com a aproximação entre Otoni e adversários de Bolsonaro, parlamentares do PL ensaiam lançar ao posto o deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), cujo filho se elegeu vereador em São Paulo pelo partido do ex-presidente.

Nascimento é próximo à Assembleia de Deus de Madureira em São Paulo, a mesma igreja da qual Otoni faz parte no Rio. O parlamentar fluminense, porém, tem descartado qualquer chance de retirar sua candidatura ou de entrar em acordo com o colega de São Paulo para que se revezem no comando da Frente Parlamentar Evangélica -- estratégia adotada nos últimos quatro anos para acomodar disputas entre bolsonaristas e deputados mais moderados na bancada.

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