Seca: o grande desafio dos eleitos
Grave crise hídrica que assola o Agreste e o Sertão do Estado preocupa novos gestores
Todos os dias o jovem Tiago Jaques dos Santos, 17, acorda cedo, no seu singelo sítio Boa Esperança, situado às margens de uma estrada que corta a cidade de Sanharó, no Agreste do Estado, onde convive com a sua mãe, padrasto e duas irmãs, e percorre mais de dois quilômetros de terra batida, em busca de água.
Ainda que a estiagem na região, que já dura quase cinco anos, tenha dado uma breve trégua, com chuvas passageiras no último fim de semana, os 24 mil habitantes de Sanharó continuarão a conviver com um verdadeiro cemitério de gado a céu aberto. Dos 184 municípios do Estado, aproximadamente 130 vivem esta mesma realidade, que será o grande desafio dos prefeitos eleitos neste ano. A crise hídrica, desta forma, agrava ainda mais a crise econômica herdada pelos novos gestores, que dependem do repasse de recursos para tentar contornar a situação.
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Crise causada por erro de gestão hídrica
Em Granito, no Sertão do Araripe, cidade com sete mil habitantes, a criação de ovinos e caprinos praticamente não existe mais. O prefeito eleito do município, João Bosco, considera que a situação “é gravíssima” e que a resolução passa pelo aumento dos mananciais na região com a construção de barragens e poços. Já o peemedebista Arquimedes Guedes Valença, prefeito eleito de Buíque, vê na ampliação do abastecimento de água, por meio de carros-pipas do Exército, a única salvação.
“Esperamos um bom inverno, pois se não ocorrer, será muito difícil. Também estamos na expectativa da conclusão do Ramal que chegará a Sertânia e a ampliação do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM) para os próximos anos”.
Planos frustrados
Com indicadores da Agência Nacional de Águas (ANA) apontando um crescimento de seca extrema, condição desfavorável do solo e uma piora na saúde da vegetação, os atuais prefeitos creditam em boa medida o seu insucesso nas urnas à atual crise hídrica.
E os números confirmam. Dos 184 municípios, apenas 48 gestores renovaram os seus mandatos. Ou seja, 136 chefes do Executivo assumirão pela primeira vez ou retornaram após passagem pelas prefeituras. O Agreste e Sertão, áreas mais atingidas pela estiagem, praticamente mudaram todos os comandos.
Apesar de ter promovido ações para o enfrentamento da seca para diminuir o sofrimento da população com o abastecimento de água, o prefeito de Sanharó, no Agreste, Fernando Edier (PCdoB), foi um dos que saiu derrotado das urnas. Ele perdeu para Heraldo de Sidônio (PSB). O administrador alega que sua gestão sofreu com a queda na produção da pecuária leiteira, principal atividade econômica da região. A situação precária fez com que muitos populares em desespero fossem bater na porta da prefeitura em busca de emprego.
Fechando o orçamento no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o gestor argumenta que a administração municipal ficou de mãos atadas para resolver o problema. “A crise econômica nem chegou fortemente aqui. Conseguimos manter todos os serviços e pagar a folha de pagamento. Agora, o que mais me atrapalhou nos quatro anos foi a seca. A principal renda é a pecuária leiteira. Com cinco anos de seca, o rebanho sofreu bastante. Com isso, diversos produtores venderam o seu rebanho e ficaram sem fonte de renda levando muitos deles a procurarem a prefeitura”, lamentou o prefeito. Apesar do desgaste, o comunista garante que em sua gestão poços foram perfurados, distribuição de alimentos na entressafra foram feitos e carros-pipas vêm distribuindo água na medida do possível.
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