Política

Solidariedade rendeu mandato

Após anos de ajuda às mulheres de Caruaru, Mãe Zezé, parteira há 40 anos,foi eleita vereadora sem sair de casa

Rodrigo Maia cumprimenta a esposa de Armando Monteiro FilhoRodrigo Maia cumprimenta a esposa de Armando Monteiro Filho - Foto: Brenda Alcântara/Folha de Pernambuco

 

CARUARU- Uma das mais belas surpresas que as urnas do pleito municipal deste ano provocaram está encravada em Caruaru, famosa capital do forró: a eleição de uma candidata sem pedir um único voto, enfurnada em casa, que não fez campanha e gastou apenas R$ 21 com a confecção da sua foto para ser colocada na urna eletrônica e nos santinhos. Maria José Galdino, 59 anos, a “Mãe Zezé”, como é tratada carinhosamente no sítio Taquara de Cima, onde mora, é autora desta incrível façanha por causa do seu notável trabalho humano e solidário como parteira.
Desde os 18 anos fazendo parto em sua casa, que se transformou numa verdadeira maternidade, Zezé nunca cobrou um centavo de ninguém para trazer vidas humanas ao mundo. Segundo cálculos dela própria, duas mil crianças já nasceram com a ajuda das suas santas mãos desde que aprendeu a arte com a sua mãe. “Aqui, a parteira sou eu, e o médico é Jesus Cristo”, desabafa. Os 945 votos que garantiram sua vitória são de eleitores que estão ligados diretamente a uma grande família constituída na medida em que a ela foi confiada a missão do parto nos últimos 40 anos.
“Eu não sei pedir voto, eu sei pedir comida e ajuda para o povo necessitado de Taquara”, afirma a mãezona de uma comunidade pobre, sem assistência de saúde, que depende dela até para um socorro de emergência. Com uma ambulância doada pelo programa de Faustão, há mais de dez anos, Mãe Zezé transporta doentes em estado mais grave para o hospital regional de Caruaru. Por muito tempo, as despesas de combustível e motorista eram pagas pela Prefeitura, mas com a eleição do atual prefeito, em 2008, o auxílio foi cortado.
“Tony Gel, quando prefeito, nos deu um motorista e uma cota de combustível até o último dia em que ficou no poder, mas José Queiroz, ao assumir, cortou de imediato”, afirmou. Restou a Zezé apelar para amigos e até tirar dos seus próprios recursos. Como agente de saúde do município, ela tem uma renda de dois salários mínimos e seu marido, doente, deixou de trabalhar há mais de dez anos.
Zezé foi eleita pelo PV, partido da coligação de Tony Gel (PMDB), derrotado na disputa de segundo turno para prefeito de Caruaru. Com a sua vitória, passa a ser a única voz em defesa das mulheres na Câmara de Vereadores a partir de janeiro de 2017.

Assalariada, gente do povo e da zona rural é tão querida em sua comunidade que é tratada por mãe ou tia por quase todas as crianças e jovens.
Todos os anos, Mãe Zezé acompanha pelo menos 40 grávidas, do pré-natal ao parto. No Brasil, estima-se que 98% dos partos ocorram em hospitais. Os outros 2%, cerca de 50 mil vidas, têm participação direta das mulheres parteiras, como ela, que, na maior parte das vezes, não sabem ler nem escrever e exercem um papel de autoridade perante seus vizinhos. Zezé diz que já se meteu até em briga de casais. “Tem momentos que fazemos papel de juiz, delegado, advogado. Tudo para manter a ordem na comunidade”, afirma.
Embora tenha tirado do seu próprio bolso apenas R$ 21 para pagar a foto de campanha, Mãe Zezé recebeu uma doação de R$ 225, segundo o site Divulga Candcontas, do Tribunal Superior Eleitoral. “Eu não pedi um tostão a ninguém, isso é obra do meu partido”, afirma, referindo-se ao advogado David Cardoso, presidente do PV, que montou a chapinha que garantiu a eleição da parteira. “O que ajudou na eleição dela foi o fato de o PV ter ficado fora do chapão”, afirma Cardoso, que confirma ter feito doações para a eleição de Zezé através do partido.

 

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