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INTERNACIONAL

Venezuela deixa de ser prioridade na agenda de Gustavo Petro

Imerso em suas problemas internos e com popularidade em queda, presidente colombiano se afasta de conflito que não lhe trouxe ganhos políticos

O presidente da Colômbia, Gustavo PetroO presidente da Colômbia, Gustavo Petro - Foto: Juan Barreto / AFP

A Venezuela deixou de ser uma prioridade na agenda do presidente colombiano, Gustavo Petro. Em seus primeiros meses no poder, Petro apostou praticamente toda as fichas de sua política externa no restabelecimento das relações com Caracas e na aproximação com Nicolás Maduro para tentar trazê-lo de volta ao cenário internacional e fazê-lo dialogar com a oposição. Petro conseguiu o primeiro, mas não foi capaz de mediar a crise política venezuelana.

O presidente, que tem uma fé inabalável em seu poder de sedução, visitou Caracas várias vezes com a convicção de que Maduro, vendo que o legitimava com sua mera presença aos olhos de outros países, concordaria em retornar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Cara a cara, no Palácio de Miraflores, disse ao sucessor de Hugo Chávez que esta era a melhor forma de honrar a democracia liberal. Maduro não moveu um músculo do rosto ao ouvir a palavra democracia, mas deu a entender que havia alguma possibilidade de voltar a integrar alguns órgãos regionais.

Depois, Petro pediu a Maduro que marcasse no calendário a data das eleições presidenciais de 2024. A comunidade internacional espera que o chavismo permita que um candidato da oposição dispute legitimamente e formalize uma transição política no país. Petro acreditava que a melhor forma de fazer isso era de mãos dadas com o chavismo. Se alinhou aos EUA quando Washington prometeu suspender gradualmente as sanções, desde que Maduro mostrasse sinais de abertura, como libertar prisioneiros ou retirar as inabilitações de políticos da oposição.

O presidente colombiano pensou que todos aqueles que o acusaram de querer transformar a Colômbia em uma ditadura castro-chavista ficariam surpresos ao vê-lo como um jogador-chave em uma transição democrática na Venezuela.

Petro insistiu com Maduro para que voltasse à mesa de negociações com a oposição. Por vezes, quis assumir o papel de mediador no lugar de México e Noruega, mas depois percebeu que era uma estratégia errada — era melhor somar do que dividir. O México era o canal oficial. Por isso, a reunião de chanceleres que organizou em Bogotá, com muita expectativa mas resultado morno, concluiu que a prioridade era marcar uma data para o processo eleitoral e voltar à mesa de diálogo.

Os desejos de Petro não podem estar mais longe de serem realizados. Maduro não cedeu um centímetro em sua estratégia, e ignorou todos os conselhos de seu amigo colombiano. Há poucos dias, forçou a renúncia do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — o mais democrático dos últimos anos — e, entre os novos integrantes, quer colocar sua mulher, a primeira-dama Cilia Flores. Com o corpo eleitoral desativado, a oposição, quase sem tempo nem margem de manobra, terá de organizar sozinha suas primárias, das quais deve sair um único candidato que irá desafiar Maduro. Além de todos os problemas logísticos que isso acarreta para um grupo de políticos confrontados com enormes divergências, a maioria foi inabilitado pelo chavismo ou está no exílio.

Às inabilitações de Freddy Superlano e Henrique Capriles somaram-se na sexta-feira as de María Corina Machado, opositora mais linha-dura, que vinha liderando todas as pesquisas das primárias. Os EUA imediatamente criticaram a decisão. Petro, que em sua época foi inabilitado como prefeito de Bogotá por 15 anos devido a uma resolução injusta, também reagiu com raiva:

Choque com a realidade
Aos poucos, o presidente colombiano se chocou com a realidade. O chavismo, como o advertiram os mais céticos, não tem intenção de entregar o poder em um processo democrático aberto e transparente. Para ele, solucionar a crise política no país vizinho era sua forma de se posicionar como líder regional e de incluir seu nome como homem do consenso e da paz nos livros de história. Mas o tema não trouxe nenhum ganho político ao Petro por enquanto.

"Para o governo colombiano, a Venezuela perdeu importância. A conferência internacional foi um fracasso e isso desanimou o Petro", explicou uma fonte diplomática de alto escalão ao El País.  "Me parece muito revelador que Álvaro Leyva (ministro das Relações Exteriores da Colômbia) tenha prometido continuar agindo na questão venezuelana na Assembleia da OEA, mas em vez de fazê-lo foi a Paris com Petro para um fórum financeiro internacional".

Em sua opinião, também é muito marcante que o último encontro — secreto — entre Venezuela e Estados Unidos tenha ocorrido no Catar, monarquia absolutista que ganhou destaque inesperado na mediação.

E à medida que a solução na Venezuela dava um passo atrás, Petro se deparava com uma série de problemas internos. Há alguns meses, afastou os ministros mais moderados de seu governo, por considerá-los um estorvo ao seu projeto de mudança. Com os novos, deu uma guinada à esquerda e abandonou de fato o propósito de realizar todas as suas reformas em seu primeiro ano de mandato. A direita e o centro viraram as costas para ele e foram um obstáculo ao seu governo, mas em vez de voltar a estender a mão, como fez no início, o presidente não parece disposto a negociar as reformas.

A tudo isso, somam-se os escândalos dos funcionários ao seu redor. O embaixador em Caracas, Armanado Benedetti, assessor de campanha e um parceiro aparentemente leal, atacou o braço direito de Petro, Laura Sarabia. A disputa se transformou em um caso de escuta telefônica, abuso de poder e suposto financiamento irregular de campanha. Benedetti e Sarabia acabaram deixando seus cargos, mas ficou no ar a sensação de que o presidente, que havia prometido arejar a vida política colombiana, estava tropeçando nos fantasmas do passado.

Para substituir Benedetti, Petro escolheu Milton Rengifo Hernández, alguém que não tem muita simpatia pelo chavismo.

"E aqui rezando para que Maduro caia e possa ter gasolina e diesel à mão", escreveu Hernández no seu Twitter, mas depois foi forçado a apagar a mensagem.

A designação irritou o chavismo, que não costuma perdoar insultos.

"A sua nomeação já é por si só um sinal de que o assunto deixou de ter tanta importância", diz a fonte diplomática.

Leyva, por sua vez, continua restabelecendo as relações com a Venezuela — a fronteira, os consulados, a segurança, o que não significa que Petro não tenha se conformado em encontrar uma saída para o conflito na Venezuela. Imerso em seu próprio labirinto, o presidente colombiano joga água na eterna crise venezuelana.

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