Christian Lohbauer

Vice de Amoêdo em 2018 anuncia saída do Novo, em meio a fuga de filiados

Partido perdeu quase um quarto dos membros nos últimos 18 meses; passou de 48 mil para 36 mil

Christian Lohbauer ao lado de João Amôedo na campanha presidencial de 2018Christian Lohbauer ao lado de João Amôedo na campanha presidencial de 2018 - Foto: Reprodução/Facebook

Na campanha eleitoral de 2018, então candidato a vice de João Amoêdo à presidência da República, o empresário Christian Lohbauer definiu o Partido Novo como "um partido político de verdade, totalmente diferente dos outros". Três anos depois, ele joga a toalha e entra para um movimento de debandada que já arrancou quase um quarto dos filiados à sigla no último um ano e meio.

Um dos fundadores do Novo, Lohbauer publicou um vídeo em seu Facebook, na última quinta-feira, anunciando sua desfiliação. Ele afirmou que a legenda "não o representa mais" e responsabilizou os dirigentes, ala sob influência de Amoêdo, pela "derrocada" do partido.

Na gravação de 11 minutos, Lohbauer declarou que o Novo "se perdeu completamente na administração do partido" e criticou o ex-aliado Amoêdo por seu "individualismo absoluto ao emitir opiniões", sem levar em conta a opinião dos parlamentares da sigla. Ele mirou também em Eduardo Ribeiro, o presidente nacional.

"Nunca se viu um partido político onde os mandatários não tem voz, e um grupo de iluminados estabelece os destinos do partido. Um verdadeiro erro crasso, uma vergonha nacional", disse.

No Novo, mandatários e dirigentes são grupos distintos, já que políticos eleitos não podem ocupar cargos nos diretórios da sigla, como acontece em outros partidos (presidentes de PT e PSL, Gleisi Hoffmann e Luciano Bivar, por exemplo, são deputados federais). A postura em relação ao governo federal, no entanto, distanciou ainda mais as diferenças entre as alas. A bancada federal costuma apoiar os projetos de Bolsonaro, enquanto a cúpula do partido se posiciona pelo impeachment do presidente.

Apesar de já ter deixado a presidência e ser hoje apenas um filiado, Amoêdo se tornou uma das vozes mais incisivas dentro do Novo contra Bolsonaro. A atitude é compartilhada pelo diretório nacional, que se posicionou em julho e favor da abertura do processo de impeachment do presidente. A iniciativa incomodou a bancada federal e a ala menos crítica ao governo.

"Depois que se estabeleceu essa meta, a meu ver absurda, de transformar o Novo em um algoz sistemático do atual governo, e se transformar num arauto do impeachment do presidente da República, realmente ficou muito difícil entender o que quer esse partido e como ele funciona", declarou Lohbauer no anúncio da desfiliação.

Procurado, Ribeiro não respondeu.

Amoêdo, por sua vez, disse ao GLOBO lamentar a saída de Lohbauer, mas ver como coerente e positiva a decisão do correligionário, já que existiam "tantas discordâncias". Para ele, a saída de pessoas que discordam da oposição a Bolsonaro são benéficas ao Novo, pois criam maior coesão interna.

"É fundamental haver alinhamento a um tema tão central hoje na política brasileira, que é o apoio ou não ao governo Bolsonaro. O partido ter majoriatriamente pessoas com essa visão facilitaria a unidade partidária", declarou Amoêdo.

Lohbauer não está sozinho. O Novo passa por um esvaziamento do seu quadro de membros. Criado em 2015, o partido aumentou em cinco vezes o número de filiados entre 2016 e 2020, atingindo 48 mil em seu auge. Formou bancada no Congresso em 2018 e elegeu o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.

Desde então, a legenda já perdeu quase um quarto desse número: 23% pediram desfiliação desde então. O número consolidado mais atual disponibilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) era de 36,7 mil, em maio.

Os dados são atualizados duas vezes por ano pela Justiça Eleitoral, em março e outubro, então no próximo mês será possível identificar se a tendência de queda se mantém ou não. Mas o movimento já provoca críticas duras da "ala bolsonarista", que vem questionando as decisões dos dirigentes.

No início deste ano, o diretório nacional atribuiu a queda no número de filiados à crise financeira causada pela pandemia. O partido cobra mensalidade de R$ 31.

Veja também

PF faz operação contra suspeito de se passar por Lewandowski nas redes sociais
falsa identidade

PF faz operação contra suspeito de se passar por Lewandowski nas redes sociais

Bolsonaro alega "agenda política" em embaixada
BRASIL

Bolsonaro alega "agenda política" em embaixada

Newsletter