FOLHA POLÍTICA

Em entrevista exclusiva à Rádio Folha, ex-ministro da Saúde Mandetta avalia a pandemia no país

Mandetta também fala sobre politica e possível candidatura à presidência

Ex-ministro da Saúde MandettaEx-ministro da Saúde Mandetta - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em entrevista exclusiva ao comunicador, Jota Batista,  da Rádio Folha FM,  o ex-ministro da Saúde do Governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, comentou sobre a gestão do Governo Federal na pandemia da Covid-19 e o agravamento da crise sanitária que superou a marca de trezentos mil mortos no país. A entrevista foi no Folha Política que nesta quinta-feira, 25, teve a participação do colunista de politica do jornal Folha de Pernambuco, Edmar Lyra. Folha Política vai ao ar de segunda a sexta, de 11h ás 12h.

Em relação ao comitê de combate à Covid-19 anunciado pelo Presidente Jair Bolsonaro, após reunião com representantes dos poderes da República, Mandetta disse, durante entrevista ao apresentador Jota Batista, que já havia tentado criar algo similar a essa medida quando era ministro e que, infelizmente, essa decisão chega tardiamente "Ela chega atrasada, chega na rasteira de 300 mil mortos que separam aqueles que lutaram pela vida e aqueles que são sócios da morte", criticou.

O ex-ministro,  ainda comentou durante a entrevista exclusiva, que perdeu recentemente um tio para a Covid-19 e  prestou solidariedade às famílias vitimadas pela doença. "Me somo a dor a todas as famílias que exigem o mínimo de bom senso e respeito. Respeito ao grave quadro social, às pessoas estão passando fome! O que mas dói é que não precisava ter sido assim. Já era pra gente pelo menos ter encaminhado a virada dessa página", lamentou. 

Comparando o Brasil a um "paciente mal cuidado", cujo "chefe de família resolveu trocar de médico" em plena pandemia, Mandetta revelou para o Folha Política que não deixou o cargo antes porque sabia da gravidade da crise sanitária. Ele criticou, ainda, as sucessivas mudanças no comando do Ministério da Saúde, sobretudo a nomeação de um militar, o general Eduardo Pazuello, em detrimento de um médico. "Foi um erro capital. Colocou um ministro com a missão de ser um não ministro da Saúde. Ele ficou ali sem equipe, trocando todas as pessoas das equipes técnicas", lembrou. 

Tratamento precoce 
Em relação à insistência do governo em defender tratamento precoce contra a Covid-19 com remédios sem comprovação científica, apesar de serem desaconselhados pela ciência, Mandetta foi enfático ao questionar tal postura na Rádio Folha FM: "Falando de protocolos absurdos. Deu margem para as pessoas acharem que era apenas uma gripezinha. Não compraram vacinas, não fizeram testes - os testes apodreceram dentro dos almoxarifados do Ministério da Saúde", disparou. 

"Não tem medicamento para a cura, o mundo todo procura e uma parte da medicina decide falar que isso resolve", disse o ex-ministro ao se referir à hidroxicloroquina. "Tem médico falando que a máscara não prescisa ser usada. É uma infantilidade da medicina desse momento. Agora está flertando com xaropes e sprays milagrosos de Israel. O ministro que está aí tem uma chance de pelo menos colocar um parâmetro para a ética prevalecer", cobrou. 

Resposta a Paulo Guedes 

Em resposta ao ministro Paulo Guedes, que afirmou que o Brasil está atrasado na busca por vacinas contra covid-19 desde a época que o Ministério da Saúde era comandado por Mandetta, no início da pandemia, o ex-ministro foi duro ao afirmar se tratar de uma mentira e "desonestidade intelectual"  

"A mentira para um ministro da Economia o torna incapaz, porque dali é que sai a credibilidade para atrair investimento", apontou. Segundo ele, quando nos meses de julho e agosto, chegaram propostas de compra de vacina pelos laboratórios da Pfizer e do Instituto Butantan, Guedes "estava com R$ 1,8 trilhão, todo o orçamento do país no seu bolso". 

"A negligência, a mentira e a falta de transparência, isso a história vai deixar muito claro. Toda semana eles me colocam, me chamam. É mais um joguete perverso e cruel dessa crônica de horrores", disse na entrevista ao âncora Jota Batista da Folha FM

Solução para a crise 

Mandetta não mediu palavras na entrevista, para Rádio Folha FM, para dizer que o governo Bolsonaro "quebrou o SUS no meio e jogou as pessoas contra governadores e prefeitos e esse paciente (o Brasil) está agora na fila do CTI (Centro de Terapia Intensiva). Um país que não tinha máscara e em risco de colapso por coisas básicas", criticou. Para mandetta, não há outro caminho a não ser a soma de esforços para conter a pandemia. "A única solução é entendimento, união e mudança de comportamento", cravou. 

Lockdown 
Sobre a necessidade de se decretar um lockdaown nacional como medida mais efetiva de isolamento social, Mandetta ponderou que as características geográficas do país fazem essa decisão precisar levar em conta as demandas dos entes federados. "É muito dificil pra um país ter medida continental, isso é de cada ente do país essa avaliação. Para isso é que a gente tem um pacto federativo espelhado no sistema de saúde", ponderou. 

"Nós estamos flertando com o colapso e cada governador e cada prefeito sabe o quanto eles aguentam e essa medida tem que ser usada para evitar um mal maior. Não é uma medida de decisão nacional", avaliou, dando um recado direto a Bolsonaro. "Não faça essa lógica de jogar o governo contra os governadores e contra os prefeitos. Estamos perdidos em tratamento, em protocolo, população fazendo automedicação generalizada", alertou.  

Vacinação 
Em defesa do fortalecimento do SUS e da expertise de vacinação do sistema de saúde brasileiro, Mandetta lembrou que o país já vacinou em massa com muita rapidez em outras ocasiões. "Já tivemos campanha de vacinar de 8 a 10 milhões de pessoas em um dia. Mas como atrasou demais a compra - não comprou em agosto e poderíamos começar a vacinar em novembro, como comprou agora, a maioria das doses chega em julho, agosto e setembro. Falta foco, disciplina e ciência", avaliou durante a entrevista exclusiva.  
"São 43 mil equipes no brasil que cobrem 150 milhões de brasileiros. Nós temos uma Ferrari, tem que botar gasolina no tanque. Se colocar as unidades de saúde do SUS abastecidas com vacina, as pessoas vão", disse o ex-ministro para a Rádio Folha FM.  
Por fim, em relação à confirmação do seu nome como pré-candidato, ele procurou ser cauteloso. "o que a gente tem hoje é um chamado", dizendo que existem alternativas para o que chamou de "polos populistas", se referindo ao atual presidente e a lula. "esses dois polos já estão colocados. o que a gente está querendo não é um polo de lula contra o polo Bolsonaro. é um polo democrático para o Brasil, composto por todas as pessoas que entendem que a gente vai ter que reunificar o país. num polo desses dois, o brasil perde", avaliou

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