Luto

Aos 74 anos, morre Seu Yoshi, do Sushi Yoshi. Um chef que ensinou técnica e otimismo na gastronomia

Há mais de duas décadas ele comandava o tradicional Sushi Yoshi, no bairro de Boa Viagem

Seu YoshiSeu Yoshi - Foto: Paulo Almeida/Folha de Pernambuco

Um chef só se despede da cozinha quando não há outra alternativa. E, assim, foi para Matsumoto Yoshi, do Sushi Yoshi, que faleceu, aos 74 anos, na madrugada desta terça (27), no Hospital Unimed Recife III, no Centro do Recife, com falência múltipla dos orgãos. Ele deixa dois filhos, esposa e netos. 

Há mais de duas décadas, ele comandava o restaurante, localizado em Boa Viagem, com a precisão técnica e o otimismo de um verdadeiro mestre. Pode-se dizer, sem medo, que Seu Yoshi ensinou muita gente a experimentar a verdadeira comida oriental no Recife. Sendo admirado por clientes e estudantes de gastronomia de todas as partes do Brasil. 

Sempre atencioso e receptivo com cada cliente que chegava em sua casa, o chef fazia questão de apresentar o estilo elegante e ritualístico da culinária nipônica. Nos últimos anos, teve a ajuda importante do sobrinho e sushiman André Saburó, do grupo Quina do Futuro, a quem Seu Yoshi ensinou as técnicas mais importantes da culinária oriental, desde o simples ato de amolar a faca ao corte mais preciso sobre o peixe. O 'segundo pai' de André Saburó

Depoimentos


"Falar de Seu Yoshi é falar de um menino de muita experiência. A gente olhava pra ele e via muita experiência, sabedoria  em tudo. No jeito de chegar, de sair, falar e ensinar. E, ao mesmo tempo, aquele sorriso leve de menino, que marcava. Ao falar de experiência, olhar para ele trabalhando, era como se fosse a primeira vez que ele tivesse ensinando e pegando naquela faca e pegando naquele alimento. Ainda farei dez anos de cozinha, mas olhar para ele trabalhando era dizer: hoje aprendi mais alguma coisa importante na minha vida". Rivandro França, chef

"Desde 2000 que aprendi muito através de um discípulo dele que me ensinava falando com tanto orgulho. Desejei conhecer e aprender com ele. A vida me deu essa oportunidade e nos tornamos amigos, conselhos e ensinamentos que me revelou o Mestre que ele é. Técnico, preciso,  dedicado, alegre, muitas vezes duro sem deixar de demostrar quão amoroso era.  Um ser exemplar, que deixa um exemplo a seguir", Claudemir Barros, chef

"Umas das minhas primeiras experiências e contato com a cozinha japonesa. Não fazia ideia do que era, como comer, e o que pedir! Simplesmente fiquei encantado, desde a recepção calorosa do Sr.Yoshi ao requinte de arte aplicado em cada prato! Não existe ninguém igual ao Sr. Yoshi em Recife. Sou um fã, hoje muito mais, pois entendo tudo que esta por trás dessa arte! Sr. Yoshi é o Japão bem pertinho de nos, é ensinamento, é referencia, é unico!" Diego Cysneiros, chef do Yutake 
 

Luciana BarboLuciana Barbo (foto: Divulgação)

"Lembro do dia em que conheci o mestre Yoshi Matsumoto. Ao chegar em seu restaurante, ele recebeu o grupo em que eu estava com uma grande festa, o sorriso largo e a alegria de quem ama o que faz. Achei por um momento que éramos privilegiados naquela noite. Mas logo mais pude perceber que aquela recepção era dada a todos que entravam pela porta. Era a forma de ele agradecer por ter sido escolhido, por poder compartilhar o amor pela cozinha e pelo ato de servir. Costumo dizer que um bom restaurante faz a gente sair melhor do que entrou, e todas as vezes em que ali estive sempre atravessei a porta mais leve e grata. Yoshi fará falta em minhas futuras viagens ao Recife. Apesar da distância e do pouco convívio, ele foi uma pessoa marcante nas minhas andanças gastronômicas. Hoje, o dia começou triste. Mas eu sei que de onde estiver, ele estará sorrindo e sendo gentil. Que a sua família encontre no tempo e nas boas memórias as ferramentas para atravessar este momento e mantê-lo sempre em seus corações. Eu guardarei o seu sorriso sempre comigo. E que o céu o receba com muita festa. Ele merece de volta toda a alegria que ofereceu por aqui. Fica em paz, Yoshi San", Luciana Barbo, jornalista de gastronomia

"Sr. Yoshi era uma pessoa diferenciada, que me cativou desde a primeira vez que o conheci por sua paixão pelo que fazia. Sempre sorridente e cheio de histórias, era uma alegria poder estar ao seu lado. Obrigada por tantos ensinamento, Sr Yoshi! O senhor fez a diferença e será para sempre lembrado”, Mariana Dias, natural chef do Greenmix

"Yohsi venceu, com sua cozinha paciente e resiliente, algumas das principais adversidades históricas do século 20. Imigrante fugido das várias consequências da guerra, chegou ao Brasil e, outra vez, fugiu: trocou o trabalho nas lavouras de arroz do Sul pela aposta de uma vida nova no Nordeste. Lembro quando me disse que chegou a fazer sushi de coração de boi - mostrando como uma grande culinária terá sempre a capacidade de se adaptar para seguir sendo a mesma. Ao usar sua cozinha pra viabilizar  a vida na nova terra, Yoshi foi um dos grandes responsáveis pela assimilação dos códigos da culinária nipônica nesta porção de Brasil. Tradicional e sempre contemporâneo, sentiremos falta de seu sorriso antecedendo a bandeja de sushis. Obrigado, Seu Yoshi", Bruno Albertim, jornalista

"Mestre, Gentil e sem Filtros. Querido, amado por todos. Exemplo de correção e ética, Competência e Talento.  Seu nome ficara Gravado na minha Vida Pessoal e Profissional", Duca Lapenda, chef

"Muitas vezes, é difícil encontrar as palavras certas em um momento como este. Que o nosso grande mestre Yoshi vá em paz. Guardaremos na memória a sua alegria de viver e a satisfação em ensinar para todos ao seu redor", Cláudia Luna, chef

Marcelo Katsuki, jornalistaMarcelo Katsuki (foto: Divulgação)

"Uma grande perda para a gastronomia do Recife. Seu Yoshi sempre foi um mestre da culinária nipônica, com sua generosidade e alegria juvenil. Um talento que uniu técnica, criatividade e sensibilidade para criar obras como a “Corina” (Colina de Atum), um prato lúdico onde as nuvens de macarrão frito surgiam atrás do relevo formato por fatias do pescado. Pura poesia. Que ele seja sempre lembrado por essa leveza e alegria de viver", Marcelo Katsuki, jornalista

"Seu Yoshi, como era respeitosamente chamado,  era acima de tudo um ser humano fantástico, de uma generosidade ímpar! Era um profissional exemplar, sempre pontual e responsável! Ele tinha uma alegria contagiante e um humor inabalável! Ao longo dos 10 anos que tive o privilégio de conviver com ele nunca o vi de mau humor! Ele deixa uma mensagem muito bonita para a gastronomia,  de dedicação, resiliência e principalmente de amor! Porque ele amava o que fazia nos mínimos detalhes! Ele vai fazer muita falta", Rodrigo Rossetti, professor do IFPE

"O mestre Yoshi sempre foi para mim um exemplo a ser seguido. Quanta dedicação e cuidado ao que se faz. De uma simplicidade, um carinho, uma gentileza com todos. Um verdadeiro mestre. Nossa família está em luto", Alcindo Queiroz, chef do Patuá

"Mestre Yoshi é inspirador, o mundo poderia estar em chamas e ele continuava de sorriso aberto e com tranquilidade. Me recebia e recebia minha família com alegria e abraço apertado, logo mandava fazer a melhor COLINA DE ATUM do planeta. Havia sempre uma palavra de incentivo para meus novos projetos. Uma pessoa ímpar e inesquecível. Grande lacuna aberta nessa vida com sua passagem pra vida eterna. Só gratidão a tudo que nos ensinou. Segue em luz meu amigo Yoshi", Sofia Mota, chef

"Um dos homens mais sábios que já conheci de uma humildade imensa. Tive a sorte de aprender e conhecer um pouco sobre sua cultura e seu amor pela cozinha japonesa(sua arte sempre com muita técnica e respeito a tradição)", Marcela Souto, chef do Nez Bistrô
 

Ricardo CastilhoRicardo Castilho (foto: Divulgação)

"Uma das pessoas mais generosas que conheci na gastronomia. Calmo, gentil, educado, grande profissional. Dono de muita técnica e com humildade única", Ricardo Castilho, diretor editorial da Revista Prazeres da Mesa

 



 

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