O Nutricionista Educador em Saúde
As abordagens de orientação alimentar são instrumento valioso de comunicação
As ações de Promoção de Saúde contam com os profissionais Nutricionistas integrando, na maior parte das vezes, equipes multidisciplinares. Para nós, é gratificante atuar junto a colegas de outras formações e com um público diversificado, que inclui pessoas pertencentes a todas as faixas etárias, classes sociais, gêneros e níveis de escolaridade.
Toda profissão ou área de conhecimento possui um conjunto de definições, ao qual chamamos de jargão técnico.
Os jargões facilitam a comunicação entre os profissionais correlatos, mas hão de ser usados com moderação, no contato com os leigos. Sempre que me vejo orientando o público em eventos de saúde, deparo-me com a necessidade de praticar a linguagem mais simples possível, e tenho por hábito perguntar, antes, em que as pessoas atuam, se têm formação em saúde, etc., para estabelecer uma melhor conexão.
As abordagens de orientação alimentar se constituem instrumento valioso de comunicação, tanto nas atividades de promoção de saúde, quanto nas de assistência, comumente chamadas de consultas.
Para otimizar a atuação, é necessário que nós, profissionais, nos tornemos sensíveis a uma evidência: todo indivíduo, mesmo aquele que não teve as oportunidades sociais traduzidas em nível de escolaridade “satisfatório”, traz em sua história um conjunto de vivências que o remetem a um singular universo cultural (diferente, muitas vezes, do universo do profissional).
Sempre que posso, inicio a conversa valorizando a origem do cliente, por meio de questões sobre o seu hábito alimentar, contextualizado no lugar onde nasceu e onde se criou.
No transcorrer do encontro, relaciono seu modo de vida ao conteúdo da orientação dietética propriamente dita, deixando-lhe perceber que ele é o protagonista de sua qualidade de vida, a partir da promoção de sua própria saúde.
Uma boa escuta das suas dificuldades em aderir às prescrições dietéticas, e também àquelas indicadas por outros profissionais da equipe, dá ao profissional de nutrição a dimensão de como o sujeito está lidando com este universo chamado Atenção à Saúde.
Quando o público é diversificado, e as abordagens se dão coletivamente, há que se considerar o desafio que é conduzir a orientação de forma a respeitar as diferenças entre os indivíduos que formam tais grupos.
Em atividades como as da Semana + Saúde, das quais faço parte atualmente no Tribunal de Justiça de Pernambuco, eu me vejo interagindo com uma plateia eclética, e considero o fato instigante. Nessas horas, vale a pena, também, “puxar” exemplos do cotidiano, o que leva o grupo a refletir sobre as diferenças sociais, e ao exercício de respeito aos semelhantes.
Uma questão relevante na abordagem a indivíduos ou a grupos consiste em situá-los como seres sociais, pela sua inserção na família e na comunidade. Do ponto de vista prático, devemos estimulá-los a agir como multiplicadores, e a compartilhar as informações de saúde com as pessoas dos seus grupos de convívio: familiares, colegas de trabalho, de escola, de congregações religiosas, clubes, associações, academias, etc. Este compartilhamento do saber democratiza o conhecimento, fortalece as relações e reforça comportamentos assertivos em relação à própria saúde.
O papel do educador em saúde transcende o mero repasse de informações técnicas: requer o seu engajamento social e um olhar sensível às dificuldades impostas pelas desigualdades. Quando cada um de nós se imbuir deste sentido, a sociedade colherá os justos frutos da saúde digna, prevista em nossa Constituição...
* Solange Carvalho Paraíso é nutricionista e atua no Tribunal de Justiça de