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Vida saudável

Punição para os fumantes: certo ou errado?

A nicotina ativa as conexões entre os nossos neurônios, fazendo com que nosso cérebro fique mais ativo

Galeria FGaleria F - Foto: Divulgação

O ato de fumar foi realizado pela primeira vez no século XVI. No entanto, só se descobriu os malefícios do tabagismo muito tempo depois. Por conta disso, desde as últimas décadas, os governos e organizações de saúde têm feito várias campanhas para que as pessoas não iniciem, ou abandonem, o tabagismo. Fazem esclarecimentos às populações, há proibições do fumo em número cada vez mais crescente de lugares, são demonstrados os malefícios que sofrem os que convivem com quem fuma, o fumante passivo, etc. Estas estratégias têm tido um sucesso parcial, houve uma diminuição importante de tabagistas.

No Brasil, nos últimos 20 anos, reduziu-se em quase a metade os números de viciados no cigarro. No entanto, a quantidade dos fumantes ainda é alarmante. No Brasil, por exemplo, ainda existem cerca de 24 milhões de viciados em cigarro. Acredita-se que um terço da população mundial adulta, ou seja, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas ainda fumem regularmente. Cerca de 47% da população masculina e 12% das mulheres.

Como explicar que, mesmo sabendo dos grandes malefícios que trazem à saúde, seja tão difícil abandonar o vício? Estatísticas demonstram que o sucesso que tentam fazê-lo sem contar com a ajuda psicológica e/ou medicamentosa é só de 3%. A nicotina tem uma enorme capacidade de induzir ao vício. Enquanto que a probabilidade de se tornar viciado em álcool ou cocaína, após prová-las, é pequena. O experimentar o cigarro por algumas vezes faz com que 80% se vicie. Só muito poucas drogas têm a capacidade de se fazer um viciado mais rapidamente. Heroína e crack são duas delas. Existe um aspecto particular da nicotina em relação a outras drogas que levam à dependência. Ela não provoca sensações diferentes nos seus usuários. Como acontece, por exemplo, com a maconha, o crack e a cocaína. A nicotina ativa as conexões entre os nossos neurônios, fazendo com que nosso cérebro fique mais ativo. 

Esse efeito estimulante com os primeiros cigarros é duradouro. Porém, com o decorrer do tempo a sua duração diminui. Como resultado, sentimos falta dessa sensação. Assim, o novo cigarro tem como principal ação encerrar o sofrimento de sua ausência. Os malefícios do tabagismo fazem com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) o considere a principal causa de morte evitável no mundo. O fumo mata muito mais do que os acidentes de trânsito, do que HIV, do que o uso de drogas ilegais, do que as infecções, do que os assassinatos e suicídios. São quase 5 milhões de óbitos por ano - mais de 10 mil por dia. O cigarro causa mortalidade, por aumentar significativamente a incidência de várias doenças graves: câncer de boca, da laringe, de pulmão, da bexiga, além dos infartos, de AVC, enfisema pulmonar, etc.

Atualmente tem sido motivo de discussão uma nova estratégia contra os fumantes. Vários estados americanos autorizam as empresas negarem contratação de pessoas pelo fato de serem fumantes. A maioria da população americana não concorda com essa discriminação.

Os que defendem a adoção dessa medida tem dois argumentos - custos e o estímulo contra o vício. Os fumantes têm uma maior chance de serem menos produtivos, pois entre eles há mais faltas por doença.
Além disso, o seguros de saúde cobram mais caro das empresas pelos trabalhadores fumantes. Acredita-se que o custo final aumenta 4 mil dólares ao ano por viciado.

Sabendo da dificuldade que poderá ter em arranjar trabalho, o jovem é estimulado a não iniciar ou abandonar o tabagismo. Esse tipo de discriminação é utilizada inclusive por várias empresas de saúde. A sociedade protesta. Afinal, numa instituição que tem um objetivo de tratar o paciente, não aceitar o viciado em nicotina pode ser considerado um doente? Os empresários retrucam. Ele é fumante porque quer.

E com isso aumenta muito o risco de ficar doente. O que seguramente não é totalmente verdadeiro. A grande maioria deseja abandonar o vício, mas não consegue. E qual é a sua opinião? A política das empresas de não admitir fumantes é correta? Você decide.

*Ney Cavalcanti é médico endocrinologista e escreve quinzenalmente neste espaço, alternando com a nutricionista Solange Paraíso. 

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