Lançamento de catálogo: o Mamulengo em busca de atenção

Catálogo que será lançado neste domingo (19), no Museu do Homem do Nordeste, reúne 17 mestres e bonequeiros de Pernambuco, no intuito de difundir o trabalho destes artistas

José Júlio, do Mamulengo Jurubeba, é um dos integrantes da obra - Léo Malafaia/Folha de Pernambuco

Apesar de ser reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2015, o mamulengo pernambucano enfrenta dificuldades e vai ganhar, neste domingo (19), um instrumento que pode ajudar a difundir nossos artistas, abrindo espaço para eles no mercado nacional.

Esta, pelo menos, foi a intenção dos fotógrafos Alexandre Albuquerque e Hans Von Manteuffel, que idealizaram o projeto "Catálogo do Mamulengo Pernambucano", que será lançado a partir das 9h, no Museu do Homem do Nordeste, em Casa Forte.

Patrocinada pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), a obra foi produzida por uma equipe que integra, ainda, o arte-educador e bonequeiro Fábio Caio, que prestou consultoria e atuou na produção; e o ator, diretor e pesquisador de cultura popular Romildo Moreira, responsável pelos textos e pesquisas.

O livro é uma espécie de portifólio que mostra os trabalhos e os contatos pessoais atualizados de 17 mamulengueiros de várias cidades do Estado. "O mamulengo está caminhando para a extinção. Era um ofício familiar, e hoje poucos jovens se interessam em dar continuidade, porque é difícil viver disso. O catálogo foi a forma que encontramos de dar uma força para que eles exponham sua arte", resume Manteuffel. "A maioria dos mamulengueiros são de baixa renda e não têm acesso às mídias digitais. Quando a gente foi fazer os registros, muitos mestres tinham falecido ou desistido", lamenta Albuquerque.

Os participantes do catálogo vêm de Glória do Goitá (Mestre Bila, Cida Lopes, Mestre Bel e Mestre Zé Lopes), Carpina (Mestre Miro e Mestre Bibiu), Lagoa do Itaenga (Mestre Zé de Vina), Pombos (Mestre Tonho), Caruaru (Mamulengueiro Sebá), Igarassu (Antero), Recife (Jorge Costa, Altino Francisco, José Júlio, Maria Oliveira e Lucas Oliveira) e Olinda (Fernando Augusto, Fábio Caio, Carla Denise, Fátima Caio e Marcondes Lima). "Todo registro é importante para a salvaguarda do mamulengo. Só o nome do mamulengo aparecendo já é um resgate", diz José Júlio, do Mamulengo Jurubeba.

Sebá mantém viva a tradição do mamulengo em Caruaru - Crédito: Alexandre Albuquerque/Divulgação

 "Muito nos honra estar no catálogo, é um reconhecimento aos muitos anos que trabalhamos com isso. Eu acredito que isso vai nos trazer um retorno positivo", afirma Sebá. "Cada vez que se faz um trabalho que torna o mamulengo e os mamulengueiros mais conhecidos, isso ajuda a eternizar nossa arte", reforça Cida. 

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Como bem observa Fábio Caio, os mil exemplares da tiragem inicial do catálogo serão distribuídos para entidades educativas, escolas de arte, centros culturais e formadores de opinião de todo o País. "Isso veio bem a calhar nesse momento tão delicado política e culturalmente. Ter essa força e divulgação é essencial".

Durante o lançamento do catálogo, os artistas vão poder comercializar seus bonecos, mostrando a diversidade de estilos de cada um deles. Haverá apresentações de mamulengo e oficinas, e a organização do evento vai trazer 200 crianças de escolas públicas para participar da festa. O lançamento também encerra a participação do Museu do Homem do Nordeste, ligado à Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), na 17ª Semana Nacional de Museus, dentro do já tradicional Domingo dos Pequenos.

Das origens à busca por espaço

O mamulengo faz parte de uma tradição cuja origem, segundo o escritor Hermilo Borba Filho, "se perde na noite dos tempos": há teatro de bonecos nas culturas mais diversas, como o Egito Antigo, China, Índia, Japão, Grécia e, mais adiante, em Roma e por toda a Europa.

No Brasil, ele chegou através dos presépios, e o registro mais antigo que se tem em Pernambuco é uma nota publicada em 1896. E se o mamulengo é nosso, há variações de teatros de bonecos por todo o País, como o "briguela", de Minas Gerais; o "joão minhoca" de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo; o "joão redondo", do Rio Grande do Norte; e assim por diante.

"Nem todo mundo que faz teatros de bonecos está fazendo mamulengo", frisa Fernando Augusto, criador do célebre Mamulengo Só Riso, de Olinda, embrião do Museu com mais de 900 peças que foi doado àquela cidade. "O mamulengo guarda um vínculo de tradição secular que é possível acompanhar e analisar, e não é qualquer grupo que resolveu contar a história de Dona Baratinha que vai poder se denominar assim", alerta. 


Fernando Augusto, do Mamulengo Só Riso, é um dos brincantes tradicionais de Olinda - Crédito: Hans Von Manteuffel/Divulgação

 Fernando Augusto também participou do catálogo, e conta que o mamulengo é uma arte específica dentro do ofício de se fazer teatro de bonecos - uma arte que infelizmente está se perdendo, por não ocupar posição de destaque dentro de um Estado que deveria lhe valorizar. "É difícil. Mas vamos levando", aponta.

Serviço:
Lançamento do "Catálogo do Mamulengo Pernambucano"

Quando: neste domingo (19), das 9h às 12h
Onde: Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco (avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte)