Pequeno e fácil de tocar, ukulele conquista músicos recifenses

Paixão pelo instrumento musical de origem luso-havaiana reúne músicos neste sábado, em evento no Parque da Jaqueira

Augusto Santos criou o movimento Ukulele Recife - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

A imagem de um nativo havaiano tocando um "violãozinho" na praia, cercado por dançarinas de hula-hula, é a primeira coisa que vem a cabeça quando se ouve falar em ukulele. De fato, o pequenino instrumento de design diferente e som peculiar se popularizou no arquipélago polinésio, mas vem ganhando cada vez mais adeptos em outras partes do mundo. Na capital pernambucana, ele já caiu no gosto de músicos profissionais e amadores, que se empenham para torná-lo mais conhecido.

O projeto Ukulele Recife existe há um ano. Com um grupo no WhatsApp que conta com quase 80 pessoas e conta no Instagram, a proposta é reunir amantes do instrumento musical para tocar em locais públicos. Neste sábado (25), a partir das 9h, eles estarão no Parque da Jaqueira para a quarta edição do Ukeday. "Esse tipo de encontro já acontecia em vários lugares do mundo. É um momento para apresentarmos o instrumento às pessoas, conversando sobre o assunto e fazendo apresentações", explica o músico Augusto Santos, idealizador do movimento.

  

A internet tem sido um fator importante para a popularização do ukulele. Basta fazer uma rápida busca no YouTube para encontrar uma infinidade de vídeos sobre o assunto. Foi acompanhando materiais assim que o auxiliar administrativo Weslley Santos, começou a tocar seu instrumento há seis meses. "Eu sempre quis tocar violão, mas achava difícil aprender. Comprei o ukulele de um amigo e passei a assistir aos tutoriais na internet. Vi que, em pouco tempo, conseguia executar uma ou duas músicas", conta.

Leia também:
Músicos do metrô levam arte e distração para passageiros do Recife
Cena musical pernambucana trilha caminhos Brasil afora


Normalmente, o ukulele possui quatro cordas de náilon. Segundo o educador musical Hugo Rocha, existem quatro tipo principais de ukulele: soprano, concert, tenor e barítono. Todos possuem quatro cordas de náilon e se diferenciam com base nos tamanhos, sendo o soprano o menor e o barítono o maior. Há quem confunda com o cavaquinho, mas a som das cordas e a afinação são diferentes.

A simplicidade e praticidade do instrumento foi o que primeiramente atraiu Augusto Santos. "Eu dava aulas de iniciação musical para bebês e precisava de um instrumento que se adequasse a eles. O ukulele é leve, fácil de carregar e, ainda por cima, tem um som muito agradável. É algo mais acessível para crianças", aponta. O preço é um atrativo a mais. "É bem mais barato do que o violão. Nas lojas, você consegue encontrar a partir de R$ 120", comenta.

Embora esteja culturalmente ligado ao Havaí, o ukulele tem origem portuguesa. Ele é uma adaptação de outros instrumentos, como o braguinha, o machete e o rajão, levados ao arquipélago no final do século 19, levado por imigrantes da Ilha da Madeira que trabalhavam no cultivo da cana-de-açúcar. No idioma havaiano, "ukulele" significa "pulga saltitante". O apelido vem dos movimentos que a mão faz ao tocar o instrumento.

Weslley Santos, Hugo Rocha e Augusto Santos compartilham o gosto pelo instrumento - Crédito: Léo Malafaia/Folha de Pernambuco 



O ukulele foi utilizado em trabalhos de diferentes estrelas da música mundial, como George Harrison, Paul McCartney, Elvis Presley, Jason MrazEddie Vedder. Um dos grandes difusores do instrumento no mundo foi o havaiano Israel Kamakawiwo'ole, conhecido por sua versão de "Somewhere Over the Rainbow", do filme "O mágico de Oz". No Brasil, Marisa Monte, Tiago Iorc, Clarice Falcão, Mallu Magalhães também são fãs do instrumento.

As redes sociais estão cheias de vídeos com versões ao ukulele de sucessos do sertanejo, funk, pagode, pop e outros ritmos. Já nos eventos do Ukulele Recife, a prioridade são as músicas de artistas pernambucanos. "Eu gosto muito de fazer arranjos próprios para o ukulele. É um instrumento que te dá muitas possibilidades, se você se aprofundar nos estudos. Até mesmo um repertório clássico pode ser executado com ele", diz Hugo Rocha.

A construção

Apaixonado pelo instrumento, o músico e programador de computadores Iberê Lima Silva passou a fabricar o ukulele em 2016. "Eu estava passeando com a minha cadelinha, quando encontrei um móvel, perto da minha casa, e resolvi usar a madeira para construir um ukulele", relembra. Com pouca experiência na arte da luteria, ele buscou informações através da internet e de um amigo luthier, Jobeni Oliveira, que o ensinou os primeiros passos.

O processo de construção é artesanal e ocorre na própria casa de Iberê, no bairro de Santo Amaro. "Faço tudo de maneira bem manual, com poucas máquinas", compartilha. A sustentabilidade é outra marca do seu trabalho, já que ele costuma utilizar madeira reaproveitada de móveis antigos em boa parte das suas criações. "Tradicionalmente, os ukuleles são feitos com a madeira koa, que é de origem havaiana. No meu caso, quis dar uma cara brasileira, usando material encontrado aqui, como jaqueira, pau-brasil, roxinho e cedro", detalha.

De acordo com o artesão, o processo de fabricação não é diferente do de um violão. "O que muda é a questão da escala, já que o ukulele é bem menor", informa. Atualmente, a maior parte encomendas vem de amigos e familiares, mas Iberê acredita que a procura deve aumentar. "Antes era só um hobby, mas tem se tornado meu ofício principal. Com a popularização do instrumento, a tendência é que esse trabalho vá se espalhando aos poucos", assegura Iberê.

Iberê Lima Silva constrói ukuleles em casa, usando madeira nacional - Crédito: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco