Moradores da comunidade São Cosme e Damião se queixam da falta de estrutura

Cinco anos depois da Copa, comunidade Cosme e Damião, próxima à arena, afirma estar esquecida

Cosme e Damião - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

As novidades que chegavam junto com a Copa de 2014 para os moradores da comunidade de Cosme e Damião, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, prometiam mudar a infraestrutura do local, uma das principais vias de acesso para a Arena Pernambuco.

No entanto, cinco anos depois do campeonato, a população local coleciona queixas de sobra na infraestrutura da região, que recebe manutenção apenas nas vias principais, enquanto as ruas menores convivem com falta de limpeza, saneamento e segurança.

O esquecimento por parte do poder público começa na Rua Escritor Joaquim Noberto, uma via asfaltada que dá acesso à Arena. Logo no início, um grande terreno baldio exibe o espaço que está destinado a uma creche desde 2010. “Ficamos receosos, porque esse terreno oferece riscos aos moradores do entorno. Quando o mato está alto, usuários de droga se apropriam do lugar, ou até mesmo assaltantes, que se escondem no matagal”, explica o vice-presidente da Associação dos Moradores do Loteamento, Marcos Emiliano.

"Temos informações de que o projeto, que aguarda a licitação para ser executado, está na Autarquia de Urbanização do Recife (URB)." Enquanto isso, as famílias que necessitam desse serviço comparecem até mesmo à outras cidades para utilizar de outras creches. Procurada, a URB alegou que o projeto não constava no sistema.

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Um pouco mais à frente, na Rua Barão de Serro Largo não há acessibilidade, coleta de lixo ou saneamento. Parte da população, já idosa, enfrenta problemas ao sair de casa, como conta Lindinalva Ramos, de 65 anos. “É muito complicado viver aqui. Quando chove, é mais difícil de andar, porque fica cheio de lama. Quase todo dia escorrega alguém”, reclama.

Por iniciativa dos próprios moradores, entulhos foram colocados nas regiões mais escorregadias, mas são levados quando chove forte na região. Além disso, o esgoto a céu aberto atrai muitos mosquitos, oferecendo risco de doenças, como é o caso de Helena Laís, 32, que relata não ser novidade casos de dengue na região. “Eu, inclusive passei a semana com dor de cabeça, febre e dores no corpo. Como se não bastasse os carros que não consegue entrar aqui, a gente também corre risco de assalto por causa da falta de iluminação”.

Segundo Marcos Emiliano, a última vez que a Secretaria de Infraestrutura compareceu no local foi há quatro anos. Desde então, a Associação e os habitantes entram em contato com os órgãos públicos e com a imprensa para cobrar soluções. “Eu estou descrente, porque existe muita mobilização e tentativas de resolver os inúmeros problemas, mas os órgãos públicos não falam com a gente”, desabafa o também morador Márcio Araújo, de 35 anos. “É importante lembrar que aqui também dá acesso à Arena, e isso aqui poderia servir tanto para os turistas quanto para os moradores”.

Dona Rita Maria construiu uma família e viveu na mesma casa por 50 anos. Aos 75, ela se arrepende de ter ficado ali. A idosa lamenta a preocupação que passa toda vez que chove. “Eu vou dormir preocupada, por que vivo com as minhas quatro filhas e, sempre que chove, alaga. Só não perdi os móveis porque a gente coloca tudo em cima do tijolo”, descreve. O terreno em que Dona Rita vive e abriga a casa das outras 4 filhas, fica no cruzamento da Rua Dom Antônio de Macedo com a Rua Luiz Augusto Rabelo, e passou por obras em que canaletas foram instaladas. No entanto, a casa fica abaixo do nível da rua e recebe toda a água e esgoto quando chove. “Depois de todo esse tempo e de um IPTU não deixo de pagar, a situação continua a mesma”, desabafa. Segundo a Associação dos Moradores, a Prefeitura alegou que a rua consta como asfaltada, e que não existem projetos futuros para o local.

A reportagem da Folha de Pernambuco procurou a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), que afirmou por meio de nota que não recebeu notificação a respeito da manutenção das ruas citadas. “O órgão afirma ainda que as vias citadas recebem ações periódicas de capinação”.