Festa do Carmo: sagrado e profano em comunhão

Encerramento da celebração à Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife, tem shows do padre Damião e da forrozeira Irah Caldeira

Padre Damião - Divulgação

Há quem diga que sagrado e profano não caminham juntos... Sabe de uma coisa? Não só percorrem e dividem o mesmo espaço, como exaltam (e bem) nossas raízes - religiosas e culturais. Que o digam as costumeiras celebrações cristãs em Pernambuco e Brasil afora, tal qual a que se encerra nesta terça (15), com a Festa de Nossa Senhora do Carmo, no Pátio do Carmo, localizado no bairro de Santo Antônio.

Evento que pode ser ilustrado como exemplo de que "fé e folia" podem (e devem) conviver em harmonia. “Mensagens de amor também estão presentes no que fazemos”, salienta a forrozeira Irah Caldeira, que se apresenta no encerramento, a partir das 21h, logo após o show do padre Damião Silva. Este ano, em sua 323ª edição, também é comemorado o centenário da coroação da imagem da padroeira do Recife.






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Na programação, missas, novenários e procissões alternam-se com exposição, lançamento de livro e shows católicos e 'mundanos'. "O Nordeste tem essa fé diferenciada. Para o artista, cantar é uma forma de se comunicar. Para mim, por exemplo, é a forma de falar que Deus está presente em minha vida e é um momento de expor isso e espalhar mensagens", complementa a mineira Irah Caldeira, radicada em Pernambuco há mais de uma década e que, além do tradicional repertório de forró, apresenta esta noite ao público o projeto "No Reino da Cantoria", com poesias cantadas de nomes de peso da cultura dos causos e cantos, como Maciel Melo, Xangai e Geraldo Azevedo.

Almir Rouche e Dudu do Acordeon também estiveram entre as atrações do palco montado em frente à Basílica do Carmo. Para o padre Damião, a junção entre o sagrado e o profano, que ele prefere chamar de social, é indispensável e não deve se distanciar. "Artistas ligados à nossa cultura, através da música, revelam sua fé. É uma conjugação salutar, inclusive para celebrar Nossa Senhora que prega o acolhimento, e isso inclui a diversidade que o Recife traz. Na verdade, a festa representa um grande encontro entre pessoas", ressalta ele.

Ao contrário do que se tem como significado de profano (sacrilégio, herege, blasfemo, mundano, carnal, ímpio), dividir o mesmo espaço com identidades de um povo como o são a cultura e a religião reforça o quanto as manifestações são partes integrantes de famílias e pessoas comuns, que podem, diante das celebrações eucarísticas, evidenciar suas crenças e, ao mesmo tempo, conviver com regionalidades inerentes (e cabíveis) a eventos como a Festa do Carmo.

"As pessoas que vão por devoção e religiosidade são pessoas do dia a dia, que também celebram o forró, o coco e outras tradições artísticas. Não são coisas que se afastam, o sagrado e o social, porque estão nas casas das famílias. Temos que ter esse olhos voltados para a inclusão de todos", completa padre Damião que, no entanto, salienta sobre o "filtro" que deve ser feito em atos religiosos. "Acho que é forçar demais apresentações que se mantêm distantes de temas que provêm de momentos sagrados".

Para despertar reflexões
Padre Damião Silva e Banda sobem ao palco hoje, a partir das 19h. Durante a apresentação, os fieis serão embalados pela evangelização do religioso que promete despertar reflexões e exaltar esperanças. "É um show com cunho religioso, com canções que refletem sobre a vida, porque estamos em um momento em que as pessoas estão perdendo a confiança até em si, por isso a importância das orações para trazer de volta esse sentimento profundo presente em cada um de nós", afirma o padre.