A baixa estatura tem tratamento?
Utilização de hormônios precisa de indicação precisa caso a caso
Todos os pais obviamente desejam que seus filhos tenham as melhores características possíveis. Belos, inteligentes, saudáveis e com peso e altura ideais.
Infelizmente, todas essas qualidades em uma só pessoa quase nunca ocorrem. A sociedade atual valoriza, sobremaneira, a aparência das pessoas. E a altura é dos aspectos mais importantes.
Alguém já afirmou que nos Estados Unidos é mais importante ser alto do que ter um diploma universitário. Nas eleições presidenciais americanas quase nunca o candidato mais baixo venceu. Quando em um casal a mulher é mais alta, a sociedade diagnostica sempre ser ela a chefe da união.
O fato é que a preocupação com estatura é motivo frequente de consulta ao pediatra e/ou ao endocrinologista. A primeira tarefa do profissional é verificar se a queixa tem realmente fundamento.
Em um bom número de casos, a altura do filho está dentro dos parâmetros para sua idade, sexo, altura e dos genes que seus genitores lhe transmitiram. Menor, é verdade, do que idealizada pelos pais.
Isto é, inclusive, compreensível que pais de menor estatura valorizem mais esse componente da aparência. Afinal, eles já sentiram e sentem o quão foram e são discriminados por esta característica. Caso a criança esteja realmente abaixo do que seria normal, cabe ao médico tentar descobrir a razão, através da história e exame clínico e, quando necessário, da investigação laboratorial.
A história clínica é extremamente importante. Inicialmente devem ser checadas as dimensões de peso e altura quando o nascimento e a velocidade do crescimento. Quanto ao primeiro aspecto, quando se nasce ao fim dos nove meses de gestação com igual ou menos de 46cm de altura e ou 2.600g de peso, é firmado o diagnóstico de Déficit de Crescimento Intra-uterino. Uma parte dessas crianças evolui bem, atingindo dimensões normais nos primeiros meses de vida e uma altura final compatível com a sua hereditariedade.
No entanto, algumas desse grupo se desenvolvem muito mais lentamente e a sua estatura final será bem menor do que deveria ser, se não tratadas. A velocidade de crescimento pode ser facilmente obtida analisando mensurações anteriores da altura.
Mesmo que a estatura for menor que a esperada, mas se a velocidade de crescimento estiver normal para o seu grupo etário, praticamente estará descartada a existência de problema médico importante. E muito provavelmente a sua estatura final será aquela decorrente do seu padrão hereditário.
Caso após a investigação se constate uma anormalidade no desenvolvimento estatural, caberá ao médico descobrir a causa e, se possível, tratá-la. Qualquer doença crônica seja ela respiratória, digestiva, renal, etc, prejudica o crescimento. Doenças de natureza genética, cromossômica ou hormonal, podem ser o fator determinante. Má alimentação seja por falta de comida, seja por anorexia, é um motivo frequente.
Crianças que não dormem bem ou que vivem em ambientes hostis também têm seu crescimento prejudicado. A falta de afeto faz surgir uma doença, a Síndrome da Deprivação Afetiva, em que a sua secreção do hormônio do crescimento está prejudicada. E por falar em hormônio do crescimento, ele só deve ser usado em umas poucas situações.
Alguns pesquisadores, no entanto, têm procurado demonstrar que o seu emprego pode aumentar altura de crianças normais baixas. Argumentam eles que nesses casos, em tese, as dosagens do hormônio do crescimento serem normais, a criança não desenvolveu a sua estatura como deveria, porque esse seu hormônio seria de má qualidade - fato que ainda contestado pela maioria dos estudiosos do assunto.
Além disso, ainda não se sabe da existência ou não de efeitos colaterais a longo prazo. O outro problema é o custo desse tratamento, entre dois e três mil reais mensais, durante anos. Caso você tivesse um filho normal baixo, teria disponibilidade financeira para arcar com essa tentativa terapêutica?
*É endocrinologista e escreve quinzenalmente neste espaço