Versão em quadrinhos de 'Os sertões' é relançada
Com roteiro de Carlos Ferreira e desenho de Rodrigo Rosa, 'Os sertões - A luta' adapta para a linguagem dos quadrinhos o clássico de Euclides da Cunha
No próximo dia 15, completa-se 110 anos da morte trágica de Euclides da Cunha, figura controversa, mas de genialidade incontestável. Nesta leva de homenagens que a efeméride provoca, é natural que os holofotes estejam virados para a mais importante obra do escritor. Entre as reedições de "Os sertões" recentemente publicadas, a editora Companhia das Letras - através do selo Quadrinhos na Cia - relança a versão em quadrinhos do livro, com roteiro de Carlos Ferreira e desenho de Rodrigo Rosa.
A dupla de artistas gaúchos embarcou numa missão nada fácil: adaptar um dos maiores clássicos da literatura brasileira para outra linguagem, condensando tudo em menos de 100 páginas de textos e ilustrações. Publicada pela primeira vez em 1902, a obra transita entre o relato jornalístico e a prosa poética para retratar a Guerra de Canudos, conflito armado que levou ao massacre de milhares de sertanejos no interior da Bahia. O livro possui mais de 600 páginas, mas o romance gráfico se restringe apenas a sua terceira parte, intitulada "A luta".
"Esse último capítulo tem uma construção narrativa mais próxima do drama, o que facilitou a transposição para os quadrinhos, já que havia bem mais ação. Apesar de ter sido esse o foco, a gente não deixou de introduzir um pouco de cada uma das outras duas parte do livro", afirma Carlos. A adaptação foi publicada pela primeira vez em 2011, por meio do selo Desiderata, da editora Ediouro. Após três anos sem novas tiragens, o trabalho foi reeditado, com direito a uma capa nova e inclusão de cenas inéditas.
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O trabalho de criação da graphic novel exigiu grandes esforços dos autores. Antes de colocar as ideias no papel, eles viajaram para a região onde ocorreram as batalhas entre o Exército e os membros da comunidade de Antônio Conselheiro. Durante cinco dias, registraram fotograficamente o ambiente e conheceram alguns dos moradores, para auxiliar na produção visual e textual.
"Foi uma viagem muito intensa e vital para o livro ter essa profundidade que tem. Apesar de ser um fato que aconteceu há tanto tempo, parece permanecer na memória das pessoas que nem estavam vivas naquela época. Por coincidência, o Zé Celso também estava lá, apresentando uma peça sobre 'Os sertões'. Então, a gente fazia as pesquisas pela manhã e via o espetáculo de noite. Foi muito inspirador", revela.
A base bibliográfica também foi fundamental para a construção do roteiro. Além da obra original, Carlos aponta como primordial para o processo a sorte de ter encontrado em um sebo baiano uma das raras edições do diário de apurações de Euclides da Cunha. Nesta versão, o escritor acaba se tornando um personagem da trama. "No momento em que estou trabalhando a partir de um texto de outro autor, procuro me desprender dele. Prestei atenção na estrutura do livro, trouxe comigo as referências da minha leitura e tentei captar a sua essência, mas sem partir por um caminho fácil", conta.
Serviço
"Os sertões - A luta", de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa
Quadrinhos na Cia, 96 páginas
Preço médio: R$ 49,90