Música

Sonora Coletiva convida Cannibal para falar sobre música e ativismo político e social

Devotos, a banda que colocou um bairro da Zona Norte do Recife na cena musical do país, é tema de live no Canal multiHlab

Cannibal é convidado da live do Sonora Coletiva - Renato Filho

O então adolescente Marconi de Souza Santos inconformado com as desigualdades sociais com que se deparava no Alto José do Pinho, bairro da Zona Norte do Recife, em meados da década de 1980, decidiu abraçar o ativismo político e social. Simultaneamente, começou a descobrir, nos sebos de vinis do centro do Recife e nas revistas especializadas em música do sudeste do país, e se identificar com o movimento punk nacional, que vivia à época sua época mais efervescente. Assim, daria o passo decisivo que o faria unir sua militância ao mais novo interesse: ser músico e formar uma banda, e tocar em eventos políticos, transformando sua realidade a partir da arte.

Foi dentro desse contexto que Marconi se transformou em Cannibal e formaria a banda “Devotos do Ódio”, hoje chamada apenas “Devotos”. Como parte das atividades do Sonora Coletiva, da Revista Coletiva, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o canal    promove live com o compositor, baixista e cantor Cannibal na próxima quinta-feira (14), às 19h, transmitida pelo Canal multiHlab, no YouTube.

Cannibal vai conversar com os pesquisadores Allan Monteiro, Cristiano Borba e Túlio Velho Barreto, responsáveis pelo projeto experimental multimídia Sonora Coletiva. Os três pesquisadores da Fundaj vêm desenvolvendo atividades no âmbito do Núcleo de Imagem, Memória e História Oral (NIMHO), do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira (Cehibra), coordenado por Cristiano Borba, registrando depoimentos dos que produziram música em Pernambuco entre os anos de 1970 e 2000.

Para o pesquisador Túlio Velho Barreto, “ter a participação de Cannibal em um dos episódios do Sonora Coletiva permitirá que se conheça ainda mais o artista único que ele é. Ou seja, alguém que conseguiu unir militância politica com a música, o que está evidente no trabalho social que faz desde os anos 1980 no Alto José do Pinho e também em suas letras. Aliás, que estão registradas no livro ‘Música para o povo que não ouve’, lançado pela Companhia Editora de Pernambuco, em 2018”.  Vanguardista do movimento punk e hardcore recifense, e um dos pioneiros da geração de artistas locais que deram início à cena musical do final dos anos 1980 e início dos anos de 1990, que acabou gerando também o Manguebeat, Cannibal será o convidado da primeira live do Sonora Coletiva de 2021 e dá continuidade às anteriores que tiveram a música como um de seus temas principais.

Para Cristiano Borba, coordenador do Ninho, a importância da participação do músico também se dá sob outro ângulo. “Tem outra razão de natureza institucional para reassaltar a participação de Cannibal, já que atualmente estamos desenvolvendo na Fundaj um projeto para ampliar o acervo do NIMHO/Cehibra, agora na área da música, e isso abre novas perspectivas para essa área da Instituição no que diz respeito à ampliação de seu acervo de história oral e para futuras pesquisas nessa área de nossa cultura”. Segundo Allan Monteiro, a partir da live com Cannibal, o Sonora Coletiva pretende contar com a participação de outros e outras artistas locais que transitam entre a música e a literatura, por exemplo.     

Com vários álbuns gravados em estúdio e ao vivo, além de compilações em CD e vinil, a banda Devotos é formada por Cannibal (baixo e voz), Cello Brown (bateria) e Neilton (guitarra). Suas músicas são marcadas por letras fortes e politizadas, chamando a atenção como manifestos contra a desigualdade social e econômica sem perder a verve poética. “Tudo começa quando você descobre que o mundo tem uma classificação. Nela alguns são beneficiados, já outros não são sequer assistidos em suas necessidades básicas, e este são a maioria. Não ter direitos assistidos política, social e democraticamente: esta é a primeira revolta. Quando você descobre fazer parte deste quadro caótico só te restam duas escolhas: aceitar calado ou viver gritando. E eu escolhi viver gritando”, explica Cannibal.