Espécies invasoras retiradas do Jardim Botânico do Recife

Engenheiros florestais identificaram que, onde essas plantas cresceram, há a inibição química da germinação e desenvolvimento das nativas

O trabalho foi concentrado na comigo-ninguém-pode, zebrina, jiboia e sanquésia - Alfeu Tavares

Dezesseis sacos de 100 litros ou um volume equivalente a uma caixa e meia d’água. Esse foi o quantitativo de espécies de plantas invasoras coletado em meio à Mata Atlântica do Jardim Botânico do Recife (JBR). O trabalho, que deve se prolongar por um mês, foi concentrado na retirada de quatro espécies - a comigo-ninguém-pode, zebrina, jiboia e sanquésia.

Durante levantamento, engenheiros florestais do espaço identificaram que, nos locais onde essas plantas cresceram, há a inibição química da germinação e desenvolvimento de espécies nativas, um processo conhecido como alelopatia. Na última segunda-feira (6), a intervenção foi num trecho de 141 metros quadrados de extensão, ao lado do jardim temático de Plantas Tropicais, próximo à sede administrativa do Botânico. Simultaneamente, espécies nativas como pau-brasil, embira vermelha, xilópia e pau de jangada foram plantadas no lugar das exóticas.

Coordenada pela analista de Desenvolvimento Ambiental, Ladivânia Nascimento, essa é a segunda operação de coleta. “Vamos fazer toda a borda da mata do Botânico. A jiboia, por exemplo, quando não encontra mais espaço no solo, enlaçam os troncos das árvores e as que possuem troncos mais frágeis tendem a tombar com o peso”, explicou.

Assim como a jiboia, a comigo-ninguém-pode, zebrina e sanquésia se reproduzem de duas formas - sexuadamente e assexuadamente - o que as tornam uma “praga biológica” para a continuidade da biodiversidade nativa. “Quando a espécie exótica se torna invasora é um grande problema. Até porque elas têm um poder de dispersão de sementes muito forte. Basta um pouco de espaço e luz solar para que elas dominem e disputem água e nutrientes com as espécies nativas.”
Para que o controle surta efeito, reforçou a engenheira florestal, não basta apenas retirar as invasoras. “O plantio de nativas deve ser feito após a retirada porque senão as invasoras voltam. É como um trabalho todo perdido. Controlar invasoras garante a continuidade da floresta”, ressaltou Ladivânia.

Como uma forma de reforçar a educação ambiental, principal proposta do Jardim Botânico, a gestão do espaço pretende colocar um “jardim do veneno”. A ideia é expor aos visitantes espécies comumente encontradas em quintais de casas que causam danos à saúde, além de serem invasoras. Um exemplo clássico, a comigo-ninguém-pode, é altamente venenosa e caso ingerida pode levar à morte.
O também analista de Desenvolvimento Ambiental Uilian Barbosa chama a atenção para que toda espécie não nativa da Mata Atlântica é considerada exótica, mas que nem toda exótica é invasora.