'Bigu' em ônibus de Olinda ganha destaque no jornal The New York Times
"Hobby ilegal e que desafia a morte". É assim que o tradicional jornal americano The New York Times classifica o "bigu", ato de "pegar carona" do lado de fora de ônibus, praticado por um grupo de jovens moradores de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, identificados pela reportagem como "Loucos do Surf".
O relato do jornalista e fotógrafo Victor Moriyama foi publicado nessa segunda-feira (7) - as fotos são de 2017. Ele afirma que sentiu uma "onda de adrenalina" para documentar o grupo, com o qual entrou em contato após assistir a vídeos no Facebook com cenas de bigus.
Os "surfistas", conta Moriyama, tinham, na época, idades entre 12 e 16 anos e eram, na maioria, negros. "Usavam shorts Cyclone, chinelos, bonés e correntes douradas", disse, ao classificar esse estilo de vestimentas como "comum" entre jovens das periferias das cidades brasileiras.
"A presença deles nos ônibus incomodava muitos passageiros", lembra o jornalista. Um dos "surfistas" contou que alguns motoristas param os ônibus e manda o grupo descer, mas, apesar da queixa, eles seguem no caminho.
A publicação ainda relata a queixa dos jovens que afirmam pegar bigu nos coletivos por causa da falta de espaços de lazer onde moram. "Nós só queremos nos divertir", disse um dos jovens, identificado como Marlon.
Marlon, que era considerado "rei do surf" por seus colegas, foi assassinado em 2018 com tiros à queima-roupa. Depois do funeral dele, membros do grupo realizaram um memorial e mais de 20 jovens se equilibraram em cima de um ônibus e cantaram em sua homenagem.
No Instagram, a publicação do NY Times gerou milhares de comentários. "Quem é Gabriel Medina perto deles?", brincou um internauta. "Eu amo o pernambucano. Olha a nossa forma de protestar", postou uma segunda. "Matéria maravilhosa, muito bom a ver a periferia sendo retratada sem preconceitos", escreveu outra.