Opinião

Doenças negligenciadas e a Covid 19

A pandemia da Covid 19 causou danos sem precedentes devido ao número expressivo de óbitos, em decorrência da infecção por Sars-Cov-2, bem como atingiu ações de saúde pública no Brasil, entre elas estão às doenças tropicais negligenciadas. No mundo, são cerca de 1 bilhão de pessoas acometidas por doenças tropicais negligenciadas nas quais estão ligadas as populações menos favorecidas econômica e socialmente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são antigas doenças da pobreza que atingem regiões tropicais e subtropicais entre a população mais vulnerável.  

Essas doenças são responsáveis por 500 mil mortes por ano atingindo os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde as precárias condições sanitárias, falta de planejamento urbano e pobreza social faz com que haja uma prevalência e incidência das doenças negligenciadas. Com o advento da Covid 19, houve um declínio significativo das notificações de novos casos em razão do isolamento social, bem como a descontinuidade efetiva das ações de programas de saúde pública voltados a essas doenças. De acordo com a OMS são registradas mais de 12 doenças tropicais negligenciadas no Brasil.  

As regiões Norte e Nordeste as quais são mais desprovidas de saneamento básico no país apresentam os maiores índices de doenças negligenciadas, seguidos pela região Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Considera-se doenças tropicais negligenciadas a tuberculose, hanseníase, dengue, esquistossomose, leishmaniose, tracoma, filariose, raiva, geo-helmintoses, Doença de Chagas, entre outras.  Os indicadores dessas doenças apresentam um quadro mais preocupante pós-pandemia em que o retrocesso das ações, programas e pesquisa é inevitável. Registro em todo o país de falta de acesso do usuário a assistência a saúde, interrupção do tratamento, a falta de medicamentos   permeiam esse período de pandemia e pós-pandemia; é essencial priorizar as doenças negligenciadas em políticas públicas, garantir estratégias concretas nos planos estaduais e municipais de enfrentamento dessas doenças, utilizar critérios na avaliação e identificação de famílias em situação de vulnerabilidade econômica e social, integrar de forma coesa o poder público e organizações sociais, entre outras ações. Fechar os olhos para essas doenças potencializa o erro da estratégia de política a saúde. O alerta para as doenças negligenciadas é urgente!

 

*Sanitarista e especialista em saúde da família



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