Cinema

Entenda o papel da direção de fotografia no cinema

Revista "Iris" apresenta detalhes sobre o trabalhos de diretores de fotografia brasileiros

Azul Serra, diretor de fotografia - Divulgação

Quando anunciou que deixaria de televisionar a entrega do Oscar de Fotografia em 2019, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood enfrentou duras críticas de diretores, produtores e atores, voltando atrás na decisão poucos dias depois. Na época, o premiado cineasta mexicano Alfonso Cuarón escreveu que “na história do cinema, obras-primas existiram sem som, sem cor, sem história, sem atores e sem música”, mas “nenhum filme jamais existiu sem fotografia”, dimensionando a real importância desse elemento. Mas, afinal de contas, qual é o papel da direção de fotografia em uma produção audiovisual?

Cabe a essa função cuidar da configuração visual da obra em diferentes aspectos. Isso inclui a captação da imagem em si e as escolhas de luz, cor, lentes, enquadramento e movimentos de câmera, por exemplo. “O papel da direção de fotografia é colaborar criativamente para criar o universo daquele filme. Você pensa como vai filmar uma cena específica e, depois, outra e outra, juntando tudo como tijolinhos para construir a história de maneira coerente com o que a sua temática pede”, explica o diretor paulista Azul Serra, responsável pela fotografia de filmes como “Ao Teus Olhos” e “Turma da Mônica - Laços”.

Mais do que um mero detalhe, a fotografia interfere diretamente no resultado final do vídeo. Esse trabalho ajuda a tirar do papel as definições estabelecidas no roteiro, conduzindo o olhar do espectador e empregando, através da imagem, a emoção desejada na cena. A sintonia com o diretor da obra, claro, é indispensável. Não à toa, grandes cineastas costumam contar com a colaboração do mesmo diretor de fotografia em diferentes filmes. Um dos exemplos mais famosos é a parceria entre Alfred Hitchcock e Robert Burks, que trabalharam juntos em 12 filmes, como os clássicos “Janela Indiscretas”, “Ladrão de Casaca” e “Um Corpo que Cai”.
 

Há grandes nomes da cinematografia mundial ainda na ativa, a exemplo do britânico Roger Deakins, responsável por “Blade Runner 2049” e “1917”, e do norte-americano Erik Messerschmidt, vencedor do Oscar em 2021 por “Mank”. “Tivemos um crescimento muito forte do cinema brasileiro nos últimos anos e a nossa cinematografia cresceu junto. Vimos brasileiros despontando lá fora, como Adriano Goldman (ganhador do Emmy pela série “The Crown”, da Netflix) e vários outros. Hoje, os brasileiros estão chegando nos festivais internacionais e competindo de igual para igual nas questões técnicas com profissionais do mundo todo”, pontua Pedro Sotero, diretor de fotografia que se destaca no cenário pernambucano por produções como “Aquarius” e “Bacurau”.

Foi pensando na proeminência desse cenário no Brasil que Pedro e Azul, junto ao também fotógrafo Rafael Nobre, criaram a revista “Iris”. A primeira publicação dedicada à direção de fotografia no cinema nacional, que está em sua terceira edição, tem acesso digital e gratuito (www.iriscine.com). “A gente se deu conta do quanto todos nós sentimos falta de um conteúdo sobre cinematografia brasileira, como as publicações estrangeiras que costumamos pesquisar e usar como referência”, conta Pedro.

Reunindo depoimentos de fotógrafas e fotógrafos, a revista traz em seus textos relatos sobre processos criativos e métodos de trabalho nos sets de filmagens de longas-metragens de ficção, séries, curtas-metragens, documentários, comerciais e videoclipes. A última edição, lançada em outubro, conta com as colaborações de Adrian Teijido (“Marighella”), Pedro J. Márquez (“A Última Floresta”), Max Chagas (“Egum”), Fabio Politi (“Nem um Pouquinho”), Julia Equi (“Nature”) e Wilssa Esser (“Hit Parade”). No corpo editorial da revista, estão também o jornalista Julio Cavani, a coordenadora Camila Prisco Paraiso, o designer gráfico e programador João Bosco, João Pedro Gibran e Renato Groberman, responsáveis pelas mídias sociais e pelo podcast do projeto.