Estreia de Pedro Severien como diretor

Primeiro longa do diretor pernambucano é lançado nesta quinta no São Luiz, com performance dele ao lado do elenco

Mistério e perturbação rondam os personagens de “Todas as cores da noite” - Beto Martins/Divulgação

 

Há algo misterioso e perturbador à espreita dos personagens de “Todas as cores da noite", primeiro longa-metragem do cineasta pernambucano Pedro Severien, que entra nesta quinta-feira (23) em cartaz nos cinemas São Luiz e Museu. O lançamento oficial será no São Luiz, às 19h30. Antes, o diretor programou uma performance com as atrizes Sandra Possani, Brenda Ligia, Giovanna Simões e o ator Rômulo Braga (todos estão no elenco do filme), um experimento cênico como forma de antecipar certos temas e propostas conceituais do longa-metragem.

“O filme nasceu de uma vontade de articular uma narrativa sobre um certo imaginário social da violência”, diz Pedro. “Um imaginário conectado a um grupo social bem restrito, a classe média alta, onde circulam violências que não são publicadas. A violência acontece numa sombra conectada ao histórico de privilégio e impunidade. A violência nessa classe socioeconômica, que no Recife e no Brasil é lugar de desigualdade social muito grande, não vem à tona”, explica o diretor. 

Uma breve sinopse: Iris (Sabrina Greve) conta a história trágica de Tiara (Giovanna Simões) para Fernanda (Brenda Lígia), enquanto tentam resolver seus próprios problemas. O enredo não apenas não segue uma ordem cronológica tradicional como também sugere experimentos sobre percepções, sentimentos e pontos de vista sobre os eventos. Os personagens falam com uma certa frieza e se apresentam de formas enigmáticas, recitam textos vagos e alegóricos sobre grandes violências e perdas emocionais.

“Sou fascinado por esse processo de co-criação da narrativa cinematográfica a partir do exercício imaginativo do espectador”, comenta Pedro. “Busquei provocar o espectador a imaginar junto, colaborar na criação dessa narrativa. Até porque a própria premissa do filme está baseada em versões, naquilo que não é publicado nem compartilhado. Você pode criar sua própria versão da história. A ideia era provocar o espectador a entrar nesse jogo”, detalha. “O mistério tem essa possiblidade de co-criação, tendo o espectador de maneira ativa”, ressalta. 

Essa estrutura baseada em mistérios e lacunas é enfatizada através de certos mecanismos de linguagem. “Pensei na utilização do monólogo. Acho potente porque assim o espectador vê determinada imagem na tela e a partir da sugestão da narrativa oral pode criar outra imagem mental”, diz. “O filme foi ressignificado na montagem. O que filmei com um sentido adquiriu outro. A montagem foi a reescritura do filme”, aponta o diretor.

Para celebrar a estreia do filme, a equipe programou uma performance dirigida por Pedro. “A gente vai tentar fazer uma espécie de cinema ao vivo, criar uma cena que se utiliza do espaço cênico. Vamos trazer informações que não estão no filme, para criar uma espécie de adição”, explica Pedro. “Todo filme tem um ciclo, filmagem, montagem, um ano rodando festivais. Queria criar um dispositivo para olhar o filme de outra maneira. Quem estiver nessa sessão vai acompanhar essa provocação. Vamos celebrar o filme enquanto peça viva”, diz. 


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Currículo - Este é o primeiro longa de Pedro Severien, depois dos curtas-metragens “Canção para minha irmã” (2012), “Rodolfo Mesquita e as monstruosas máscaras de alegria e felicidade” (2013) e “Loja de répteis” (2014).