PM e aposentado do Exército são presos acusados de sequestrarem traficantes para implantar milícia
PM e ex-paraquedista do Exército são presos acusados de sequestrarem traficantes para implantar milícia na Região dos Lagos
Agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio (MPRJ), prenderam, na manhã desta sexta-feira, um policial militar e dois comparsas, entre eles um ex-paraquedista, acusados e denunciados por sequestrar dois traficantes de drogas em Cabo Frio, na Região dos Lagos, no fim do ano passado. De acordo com a promotoria, o objetivo do PM era instalar uma milícia no balneário. A operação cumpre mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos denunciados na capital fluminense, em Armação dos Búzios e também na cidade de Montanha, no Espírito Santo. Todos os alvos já estão presos.
Segundo a promotoria, “as investigações demonstraram que, no dia 19 de outubro de 2021, no bairro Alto da Rasa, em Cabo Frio, o cabo da PM Bruno Paulo Pereira do Carmo do Valle, ao lado dos comparsas Thiago Rezende Pimentel Trindade, ex-paraquedista do Exército conhecido como Jarbinha ou Mexicano, e Cristiano Ribeiro Xavier, conhecido como Baiano, sequestraram, com o uso de armas de fogo, dois integrantes da organização criminosa que domina o tráfico de drogas nos bairros de Maria Joaquina, em Cabo Frio, e Rasa, em Búzios”.
Ainda de acordo com os promotores, “os traficantes estavam em uma lanchonete, quando foram surpreendidos pela presença fortemente armada dos três denunciados, que os fizeram entrar em um carro e passaram a exigir a quantia de R$ 20 mil para libertá-los. Além disso, os três fizeram com que um dos sequestrados ligasse para o chefe do tráfico local da facção criminosa, Valdinei Quintanilha, conhecido como Macaco, solicitando que ele reduzisse os valores exigidos para que os denunciados explorassem o serviço clandestino de TV a cabo oferecido nas duas comunidades dominadas pelo grupo. O valor cobrado pela organização chefiada por Macaco, que era de R$ 1.500 mensais, passou a ser de R$ 3 mil”.
O MP destaca ainda que, “como o chefe do tráfico não aceitou pagar o valor solicitado por Bruno, Thiago e Cristiano nem reduzir a cobrança pela exploração do serviço ilegal nas comunidades, os denunciados deixaram as vítimas na beira da pista, perto de um posto de gasolina, na cidade de São Pedro da Aldeia”.
— Os três já foram presos hoje. Um na capital (no bairro de Cascadura), um em Búzios e um terceiro no Espírito Santo. Essa operação visa a desmantelar uma milícia que tentou se instituir em Búzios. Eles tentaram sequestrar dois criminosos, mas a ação foi frustrada. O trio tentou extorquir o chefe dessa organização criminosa, que não cedeu. Eles fizeram esse sequestro em represália à cobrança do gatonet por esses criminosos — contou ao Bom Dia Rio o promotor Marcelo Arsênio.
Segundo o promotor, “os delitos de extorsão mediante sequestro foram praticados, ainda, por associação criminosa, pois os denunciados se uniram com fim específico de explorarem clandestinamente atividade de telecomunicação, se associarem para o tráfico de drogas, portarem armas de fogo, além de ameaçarem e constrangerem ilegalmente as pessoas dos bairros Maria Joaquina (Cabo Frio) e Rasa (Armação dos Búzios)”.
A Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) e a Corregedoria Interna da PM ajudam na operação. O cabo Bruno Paulo é lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Providência, no Centro do Rio. Por sua vez, Cristiano Ribeiro Xavier é o funcionário da empresa de TV a cabo do militar. Atualmente, Rafael Pizarro, que integra o tráfico de drogas de Cabo Frio, está preso por uso de arma de fogo.
Os itens apreendidos durante a operação, como aparelhos celulares e computadores, serão analisados para identificar possíveis outros envolvidos, diz o promotor de Justiça Rafael Dopico.
Bruno Paulo já havia sido preso
Em abril de 2018, o MP do Rio já havia denunciado o cabo Bruno Paulo Pereira do Carmo do Valle e um outro homem por homicídio em Magalhães Bastos, na Zona Norte do Rio, que teria sido cometido em janeiro de 2017.
De acordo com MP, o crime ocorreu por vingança depois de ofensas proferidas pela vítima ao homem que teria agido em conjunto com Bruno Paulo. Ainda de acordo com a promotoria, após matarem a vítima, a dupla chegou a tentar ocultar o corpo. Na ocasião, a defesa do policial militar alegou que a denúncia foi baseada em um depoimento sem provas do dono de um estabelecimento comercial próximo do local do fato. Eles foram soltos em novembro e o caso foi arquivado em 2019.