TECNOLOGIA

Fundador do Koo conta como notou adesão de brasileiros e fala dos rumos do app

Ferramenta ganha um milhão de usuários, em um dia, no Brasil

Rede social indiana, Koo. Apesar de não ter suporte ainda para a língua portuguesa, a empresa já divulgou que está em seus planos futuros oferecer suporte não só para o português como também para outras línguas ocidentais, como francês e espanhol - Divulgação

Após fechamentos de escritórios e desligamentos de milhares de funcionários do Twitter, especialistas e internautas passaram a cogitar a morte da plataforma deste a última quinta-feira (17). O assunto virou um dos mais comentados na própria plataforma pelos brasileiros, que como de costume providenciaram memes sobre o possível encerramento de ciclo.

Foi neste clima, inclusive, que os tuiteiros descobriram o Koo, um aplicativo indiano que cumpre papel semelhante à rede de Elon Musk e que ainda rendeu muitas piadas de duplo sentido. A empresa foi fundada em março de 2020 pelos empreendedores Aprameya Radhakrishna e Mayank Bidawatka.

Segundo a plataforma Tracxn, o valor de mercado do Koo em junho deste ano era de US$ 263 milhões. Mesmo assim, em agosto, cerca de 15 funcionários de um total de 300 foram desligados da empresa. Na época, o CEO Aprameya alegou falta de performance e cargos redundantes, emendando que a empresa ainda contratava para outras áreas.

No Brasil, até quarta-feira, o aplicativo tinha apenas dois mil usuários. Empolgado com a atenção recebida de um milhão de novos membros, além dos curiosos ao redor, o time de Koo já até prometeu para este sábado a disponibilização da ferramenta em Língua Portuguesa, além de atender outros pedidos feitos pelos brasileiros: feed da linha do tempo; mostrar lista completa de criadores da região; e corrigir bugs relatados.

Para sanar curiosidades dos brasileiros, O GLOBO entrevistou o atual CEO, Aprameya Radhakrisha, sobre o sucesso recente da plataforma e os planos para o futuro.

P: Para começar, gostaria de saber em que momento e como alguém da equipe notou e disparou um "alarme" para os demais de que havia um tráfego anormal em Koo e especificamente vindo do Brasil.

R: Sexta de manhã, horário da Índia, começamos a ver que havia alguns usuários que falavam português se juntando à plataforma. À tarde, vimos os números aumentando e então nosso chefe de análise nos disse que havia um aumento constante de usuários do Brasil. Foi aí que percebemos que havia um grande interesse pelo Koo no Brasil.

P: Eu tenho que te perguntar como vocês descobriram que o nome de Koo soa como algo muito particular no Brasil. Foi por tuítes, algum amigo brasileiro contou ou tiveram que procurar no Google?

R: (Risos) Alguns usuários nos escreveram dizendo o que Koo queria dizer em português. Ficamos preocupados inicialmente, mas depois pensamos que na verdade era uma boa coincidência, pois só ajudaria a espalhar a palavra mais rapidamente, pois mais pessoas falariam sobre isso, mesmo que fosse de uma forma engraçada. Nós até perguntamos (em enquete no Twitter) se deveríamos mudar o nome, mas a maioria das pessoas disse que não.

P: Você pode abrir alguns números do Koo no Brasil? Até esta quarta-feira, quantos membros tinha? E agora? Que posição o Brasil ocupava no ranking de países com mais membros até quarta e agora?

R: Tínhamos apenas 2 mil usuários brasileiros. E só ontem ganhamos 1 milhão. Assim, o Brasil ocupava a 75ª posição em nossa lista dos países com mais usuários únicos vitalícios até quarta-feira e ontem se tornou o número 2.

P: Na internet, algumas coisas se estabelecem e muitas são efêmeras. No Brasil, existe uma cultura muito forte de memes e todo dia nasce um novo. Você acha que o Koo pode ser como um meme para o Brasil e tem medo que abandonem a plataforma logo?

R: Sinto fortemente que, como uma plataforma de pensamentos e opiniões, seremos capazes de criar uma rede única no Brasil. Quem cada pessoa alcança em cada plataforma é muito diferente. Você não alcançará a mesma pessoa no Instagram como faria no Koo.

Além disso, pretendemos garantir que criadores e usuários também tenham a oportunidade de gerar receita na plataforma. Damos uma enorme importância à língua e à cultura. Então estamos muito confiantes em conquistar o coração dos brasileiros por muito tempo.

P: Vocês têm demonstrado que estão se esforçando para reter estes novos membros: até foi criada uma página do app no Twitter exclusivamente voltada aos brasileiros, e anunciaram que vão atender vários pedidos que estão sendo feitos, certo? Em termos práticos: vocês têm alguém que entende português ajudando a captar tudo ou a equipe está usando tradutores automáticos para isso?

R: Começamos usando ferramentas de tradução automática. Com o tempo pretendemos construir uma equipe local e ter um escritório local no Brasil. Isso nos ajudará a lidar com as nuances da operação no país.

P: Uma das primeiras perguntas que vocês fizeram aos brasileiros após notar a movimentação foi se eles gostariam que o app mudasse de nome. Vocês realmente fariam isso, se o "sim" ganhasse? Isso ainda está em aberto, mesmo com o "não" tendo ganhado em larga vantagem?

R: Se os usuários dissessem "sim", com certeza teríamos mudado. Como recebemos "não", a questão está encerrada e continuaremos com o nome Koo.

P: Vocês já postaram fotos contando que a equipe está trabalhando muito para aproveitar esse bom e apresentar novidades aos brasileiros em breve. Como recentemente tivemos uma polêmica com Elon Musk exigindo jornadas exorbitantes de seus funcionários e retirando benefícios, tenho que perguntar como vocês estão organizando as tarefas por aí. Foi preciso contratar alguém ou vão abrir vagas em breve? Os funcionários receberão pelas horas extras?

R: Somos uma pequena equipe de 200 pessoas muito apaixonadas trabalhando nisso. Para nós, o objetivo é nos tornarmos uma plataforma global de tecnologia de consumo e todos estão muito entusiasmados com isso. Muitos de nossos funcionários têm "esops" (ações da empresa) e serão mais do que bem recompensados por todo o trabalho árduo que fizeram para tornar Koo um sucesso global.

P: No mundo, e não é diferente no Brasil, sofremos há alguns anos com o fenômeno das fake news. Por isso, algumas redes sociais já possuem artifícios para tentar conter a divulgação delas. O aplicativo Koo é bem novo, mas isso já está dentro do seu raio de preocupação? É algo importante na Índia, que você já havia considerado?

R: Sim. Levamos este problema muito a sério. Tomamos duas medidas para isso. Uma é permitir que a comunidade verifique os fatos com agências de verificação de fatos de sua escolha. Isso chamamos de democratização da checagem de fatos. Em seguida, tentamos identificar quem compartilha repetidamente informações falsas e alertamos os usuários sobre este usuário. Continuaremos a inovar nisso e garantir que nossos esforços sejam os melhores do mundo.