MOBILIDADE

Com foco nas pessoas, Recife lança manual para desenho de ruas; saiba o que é e leia a íntegra

Documento dá prioridade aos mais frágeis no trânsito

O principal compromisso é o de construir uma cidade focada nas pessoas - Divulgação/CTTU

Com o objetivo de tornar a mobilidade urbana mais segura, a Prefeitura do Recife (PCR) lançou, na semana passada, o Manual de Desenho de Ruas do Recife - Desenhando as Ruas para as Pessoas, documento confeccionado entre vários órgãos que gerem a mobilidade da capital pernambucana. A publicação, mais uma etapa para implantação do Plano de Mobilidade na Cidade, é a primeira do tipo no Nordeste

A presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira, explica que o manual dá prioridade aos mais frágeis no trânsito, além de estabelecer diretrizes para o desenho das ruas da cidade. 

“O objetivo deste manual é seguir as diretrizes do nosso plano de mobilidade, que prioriza o transporte não motorizado - seja bicicleta, seja a pé - sobre os motorizados; principalmente o foco, que é a segurança viária. O manual traz todos os parâmetros que devem ser utilizados pelos técnicos que estão tratando dos desenhos das vias na cidade”, detalha.

O manual contém, por exemplo, instruções sobre como ciclovias devem ser feitas, como quais devem ser as dimensões de uma ciclofaixa e quando utilizar uma ciclorrota. Os melhores parâmetros para o transporte público também integram o projeto, tais como a implantação de uma parada de ônibus, qual deve ser a melhor posição dessa parada e qual a posição da ciclofaixa em relação à parada de ônibus. Todos esses fatores, pensados juntos, potencializam a segurança para as pessoas. 

O principal compromisso do manual é, portanto, construir uma cidade focada nas pessoas. “O manual traz essas condições para que possamos transformar nossa cidade sempre com foco na proteção aos mais vulneráveis, que são os pedestres e ciclistas”, acrescenta Taciana Ferreira, que completa: “Sempre a premissa é: ‘Qual a melhor coisa a fazer para dar mais segurança para as pessoas?”.  

Em resumo, o documento traz o conceito de que as ruas devem ser ocupadas para cumprir as seguintes funções:

- Econômica: para dar espaço ao comércio e ao trabalho;
- Social: para promover igualdade na distribuição do espaço e acesso a todas as pessoas;
- Ambiental: com espaços mais arborizados e menos emissão de gases poluentes;
- Cultural: com encontros e espaços para manifestações artísticas.

Tais funções, diz Taciana, já fazem parte de ruas do Recife, citando as mudanças feitas recentemente na rua da Palma, no bairro de São José. 

“A partir de uma pesquisa, nós verificamos que a maioria das pessoas chegavam por lá a pé ou por transporte público e a maioria dos espaços era ocupado mais por carro do que por calçadas; então, invertemos”, fala Taciana, ao explicar que reduziu a quantidade de estacionamentos e ampliou as calçadas. 

A intervenção da rua da Palma beneficia mais de 1.700 pedestres que passam na via diariamente, que são mais pessoas do que as que estão nos carros - cerca de 190 diariamente. Requalificada, a rua ganhou calçadas alargadas para dar mais segurança aos pedestres, o que melhorou até mesmo a função econômica da via. 

Rua da Palma foi requalificada e ganhou mais espaço para pedestres (Foto: Diego Nigro/PCR)

Metodologias em uso
Algumas das metodologias para transformar as ruas do Recife citadas no manual já estão em uso em alguns pontos da cidade, como o uso de urbanismo tático, ampliação de calçadas, faixas exclusivas de ônibus, implantação de rotas cicláveis e adequação de velocidade máxima.

“Ele [o manual] já está acontecendo, colocamos ruas que já foram pedestrianizadas, as transformações que já fizemos com o urbanismo tático. O manual traz as referências de como isso deve ser feito, o passo a passo para fazer essa transformação”, completa a presidente da CTTU, dizendo ainda que outras cidades já estão em contato com o Recife para a reprodução da publicação: “É um manual que olha para o futuro, mas já está acontecendo”, arremata.

Urbanismo tático no Jardim Monte Verde, no Recife (Foto: Divulgação/CTTU)

Dados da CTTU mostram que o Recife tem cerca de 77 quilômetros de faixas dedicadas exclusivamente ao transporte público, sendo quase 45,5 km de faixa azul e o restante em outras vias. Já o urbanismo tático, conjunto de ações que têm a finalidade de democratizar o direito à cidade, já chegou a 48 vias da capital pernambucana.

Para o futuro, o Recife irá lançar uma faixa azul na rua Jean Émile Favre, no bairro do Ipsep, na Zona Sul, com previsão de entrega para o começo de 2024; e, na próxima quarta-feira, uma nova área de urbanismo tático na rua Zeverino Agra, no bairro de Água Fria, na Zona Norte da capital pernambucana. 

Manual foi discutido por oito anos
A publicação do Manual de Desenho Urbano do Recife foi um processo iniciado em 2015, com escuta da sociedade, pesquisas e diagnósticos. Em 2021, a Prefeitura do Recife firmou parceria com a GDCI, referência global em mobilidade urbana e desenho de cidades. No mesmo ano, houve a publicação da Lei Municipal nº 18.887/2021, aprovada por unanimidade na Câmara Municipal do Recife.

Leia a íntegra do documento: