INCIDENTES COM TUBARÕES

Cemit discute soluções para mitigar e prevenir incidentes com tubarões no litoral de Pernambuco

Essa é a segunda reunião realizada pelo Cemit este ano. A primeira foi em fevereiro, pouco após o incidente com tubarão envolvendo um surfista na Praia dos Milagres, em Olinda

Cemit realiza reunião ordinária na CPRH - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Com o objetivo de apresentar soluções de mitigação e prevenção dos incidentes com tubarões no litoral de Pernambuco, o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) se reúne na manhã desta quarta-feira (5) no auditório da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). 

Um dos destaques do encontro é a apresentação da matriz do plano de educação ambiental desenvolvido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha (SEMAS). 

Como explica o secretário-executivo da pasta, Walber Santana, o plano traz orientações para a segurança aquática e prevenção de incidentes com tubarões. “No âmbito desse plano, existem alertas, existem sinais específicos que precisam ser observados, porque a combinação desses critérios pode elevar a possibilidade de incidentes com tubarões, como por exemplo, a época de chuva, a água turva e a maré alta”, disse.

Essa é a segunda reunião realizada pelo Cemit este ano. A primeira foi em fevereiro, pouco após o incidente com tubarão envolvendo um surfista na Praia dos Milagres, em Olinda. Em março, quando dois novos incidentes foram registrados na Região Metropolitana, dessa vez envolvendo dois adolescentes, o comitê se tornou permanente por determinação do Governo do Estado. 
 

O presidente da CPRH, José de Anchieta dos Santos, alertou que a população precisa ter atenção constante ao entrar no mar. “O que a gente tem observado é que quando diminuem os ataques há uma certa acomodação. Aí, de repente, voltam os ataques”, comentou. 

Ele reforçou, ainda, que é preciso aprender a conviver com as situações de risco, diminuindo a probabilidade de incidentes. “Esse é um processo de convivência com esse tipo de coisa, para evitar acidentes. As pessoas não vão deixar de utilizar as praias, que é um meio de diversão e lazer muito importante e barato para a população. Vão ter que estar conscientes da existência da ameaça e saber que é um lazer que tem que ser feito com cuidado e educação”, completou.

Comandante do Grupamento de Bombeiros Marítimos, o tenente-coronel Cristiano Correia destacou as parcerias que a instituição está realizando com a Universidade Federal de Pernambuco a fim de aumentar a eficácia dos resgates. 

“Temos várias situações de buscas das melhorias contínuas das nossas ações. Entre elas, vai ser apresentado hoje um treinamento conjunto com profissionais de um grupo de pesquisa em trauma e emergência da Universidade Federal que deve distender um treinamento para os nossos guarda-vidas, para que aprimoremos o uso do torniquete tático, da gaze tática, e de outros implementos para a condição de socorro ao banhista, ao surfista, à pessoa que sofreu o incidente, para melhorar a sobrevida desta”, explicou.

Outra ação destacada pelo comandante foi a sinalização com bóias de orientação no mar. A medida, inclusive, já começou a ser aplicada em Olinda e será expandida para áreas do Recife e Jaboatão dos Guararapes. 

“Nós já estamos em curso de vários processos de educação ambiental e temos também um exercício de colocação de bóias de sinalização, as quais começaram por Olinda, devem ser levados a Boa Viagem, e depois Pina e Piedade, nessa sequência, para sinalizar mesmo quando nós não estivermos presentes. Então, as boias vão ficar 24 horas na praia e vão orientar as pessoas. Outra questão é se a praia estiver repleta de pessoas ou de guarda-sóis, você terá a vista das bóias e aí você vai estar lá com os riscos devidamente sinalizados, tanto para a questão do tubarão, mas também para a questão do afogamento e outros riscos que a praia tem, afora a presença de guarda-vidas, que é a bandeira vermelha e amarela”, disse.

O tenente-coronel reforçou, ainda, medidas de segurança que devem ser observadas ao utilizar a praia.

“O Cemit reúne várias entidades justamente porque o problema é complexo e demanda ação de muitas agências, municipais, estaduais, e federais também. Hoje no comitê estamos discutindo a questão da convivência com o tubarão. O tubarão está no seu habitat e o que nós precisamos fazer é aprender a conviver com ele", disse.

"Então, a gente pede sempre que ao chegar na praia o banhista procure o guarda-vida, o profissional de segurança, para saber qual é o melhor local para o banho de mar, qual é a prática esportiva adequada a ser praticada, que tenhamos a consciência de que nós todos somos responsáveis pela segurança. Usar o mar na baixa-mar, sempre com os recifes de coral à mostra, e sob a supervisão dos guarda-vidas, é a melhor receita para termos um local seguro”, acrescentou.

De acordo com o professor e pesquisador Paulo Oliveira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), uma das estratégias que deve ser retomada é o monitoramento de tubarões por meio de captura e identificação dos animais, com posterior devolução ao mar. A expectativa é de que a ação volte a acontecer a bordo do Sinuelo, tradicional embarcação utilizada por pesquisadores para efetuar o rastreamento entre os anos 2004 e 2014.

“Existe toda a possibilidade do retorno da embarcação Sinuelo, que historicamente era a embarcação utilizada no trabalho de monitoramento. O Sinuelo hoje não se encontra em condições [de operar], porém nós estamos firmando um termo de cooperação com a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes, a empresa Qualimar e Fazendas Carapitanga, e UFRPE, para consertar o Sinuelo”, disse. 

“A ideia é que agora, no início de agosto, o Sinuelo seja retirado da água para fazer os primeiros consertos no tocante ao madeiramento. Essa etapa já está tudo certo e a gente vai para outra etapa que é a busca de novos atores [possivelmente empresas privadas], para colaborar e contribuir com essa recuperação do Sinuelo para que em 2024 ele esteja pronto para o trabalho de monitoramento”, concluiu.

Participaram da reunião os membros efetivos do Cemit: Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha (SEMAS), Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação (SCTI), Secretaria de Defesa Social (SDS), CPRH, SAMU, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar de Pernambuco, Porto de Supae e Instituto Médico Legal (IML); os membros científicos: UPE, UFPE e UFRPE; e os membros convidados:  representantes das prefeituras do Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.