NEGÓCIOS

Azul levanta US$ 800 milhões em emissão de dívida e termina reestruturação financeira

Presidente da empresa diz que recurso será usado para financiar crescimento e fortalecer o caixa da companhia

Aeronave Airbus A320neo - Divulgação/Azul Linhas Aéreas

A companhia aérea Azul anunciou nesta quinta-feira (13) que levantou cerca de US$ 800 milhões (R$ 3,83 bilhões no câmbio atual) com a emissão de títulos de dívidas seniores divulgada pela empresa um dia antes em fato relevante ao mercado. Com isso, a aérea conclui a reestruturação do seu passivo iniciada ainda durante a pandemia.

O presidente da Azul, John Rodgerson, disse que o recurso será usado prioritariamente para fortalecer o caixa e realizar investimentos.

— É a peça final da nossa reestruturação financeira que começou na pandemia e envolveu negociações com lessores (empresas de leasing), que representavam 80% da nossa dívida, e depois com credores financeiros. Vamos voltar a crescer e receberemos seis aeronaves Embraer E2 ainda neste ano — afirmou o executivo.

Os títulos têm vencimento em 2018, prioridade no recebimento e têm como garantias recebíveis do programa de fidelidade da empresa, o TudoAzul, e a agência Azul Viagens, além de marcas, nomes de domínio e propriedades intelectuais da Azul, com a exceção da Azul Cargo.

De acordo com o diretor financeiro da Azul, Alexandre Malfitani, o cupom (taxa de juros anual) da emissão é de 11,93% ao ano. O yield to maturity do papel (taxa de retorno ao investidor que mantém o título até o vencimento) é de 12,25%.

A previsão é que, com os recursos adicionais, a Azul reduza seu endividamento e seu nível de alavancagem. A companhia estima que sua dívida líquida seja 3,5 vezes seu EBITDA (lucro antes de juros impostos depreciação e amortização) até dezembro deste ano e algo próximo de 3 em 2024. Em março, a dívida líquida da Azul era 5,2 vezes o EBITDA dos últimos 12 meses ajustado por itens não recorrentes. A dívida bruta da companhia era de R$21,6 bilhões no fim do primeiro trimestre de 2023.

— Lançamos a oferta ontem e concluímos hoje tendo recebido basicamente três vezes a demanda original que buscávamos captar com taxas mais favoráveis do que temos visto na região. Eliminamos o questionamento do mercado sobre se a Azul teria fôlego e saúde financeira. A gente conseguiu fazer isso de maneira amigável e comercial — destacou Malfitani. A Azul esperava inicialmente captar US$ 700 milhões com a emissão.

As companhias aéreas foram severamente combalidas pela pandemia e, mesmo com a retomada da demanda após as restrições de mobilidade, sofreram com endividamentos elevados e aumentos de custo, em especial de combustível. No Brasil, o querosene de aviação usado nas aeronaves tem o preço atrelado ao dólar e, com a desvalorização do real durante a pandemia, chegou a dobrar de preço, levando a uma aumento do preço das passagens.

Com a reestruturação do passivo, a Azul conseguiu mais prazo para quitar suas dívidas. Malfitani ressaltou que a emissão dos títulos, associado à adesão dos investidores a uma troca de títulos de dívida proposta pela empresa há um mês dão fôlego à companhia.

Em junho, a Azul ofereceu ao mercado a troca dos títulos com vencimentos para 2024 e 2026 para títulos de longo prazo com vencimento em 2029 e 2030, respectivamente. Malfitani diz que a aceitação chegou a 86%. As negociações não envolveram redução do montante da dívida. Em contrapartida, a Azul ofereceu o pagamento de cupons (juros ao ano) maiores aos investidores.

Rodgerson afirma que os recursos obtidos agora serão usados para financiar o crescimento da Azul.

— Estávamos gerenciando uma empresa com caixa baixo nos últimos três anos. Agora, temos um caixa robusto e estamos animados. Vamos receber mais seis aeronaves Embraer E2 neste ano. Vamos investir de novo, vamos olhar o que fazemos em Minas Gerais, onde queremos ter um hangar — destacou.

A nota de crédito da Azul foi elevada na última quarta-feira pela Moody's, de Caa2 para Caa1. A agência de classificação de risco mudou a perspectiva de negativa para positiva, apesar de ainda indicar risco de crédito elevado.