Obra do artista Rodolfo Mesquita se revela em livro
Obra será lançada esta quarta-feira no Museu do Estado
Artista recluso, Rodolfo Mesquita sempre preferiu a companhia do papel e do nanquim à do ser humano. Mas retratou o indivíduo incansavelmente. Quer dizer, satirizou, em caricaturas grotescas, exibindo a humanidade em todas as suas facetas: controversa, triste, perversa, louca, submissa, sofrida, dominadora. Usava a pintura metafísica do pintor italiano Giorgio de Chirico e o universo surrealista do escritor tcheco Franz Kafka para expressar o mundo como o entendia: confuso e repleto de injustiças sociais. É por isso que se diz que a arte é atemporal, pois a vida é cíclica, com tempos de calmaria e confusão profunda, como esse em que vivemos agora.
Olhar para o ser humano de Mesquita, com um pé para frente e um corpo virado para trás, em um contorcionismo fisicamente impossível e ideologicamente doloroso é como nos olhar no espelho. Sim, em todos os sentidos, a forma custou caro ao artista, que até o fim de seus dias sempre viveu com o básico em troca da livre expressão, como revela o livro de arte “Rodolfo Mesquita - A forma custa caro”, que será lançado hoje, às 19h, no Museu do Estado (Mepe), e conta com coordenação editorial do filho do artista, o ator e coreógrafo, João Lima, radicado em Barcelona, na Espanha.
Trata-se de uma luxuosa edição de 340 páginas com 300 imagens e textos de João, da curadora e gerente de conteúdo do Museu de Arte do Rio (MAR), Clarissa Diniz, e de outros textos divulgados em anos passados, do próprio Rodolfo, e sobre sua obra, como o da professora do Departamento de Artes Plásticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria do Carmo Nino (2003), e dos artistas João Câmara (1974), Montez Magno (1982) e Ismael Caldas (1982). Segundo João, idealizador do livro, vê-lo sendo publicado é satisfazer uma vontade antiga de Rodolfo “de deixar um documento do conjunto de sua obra registrado”, disse à Folha de Pernambuco.
Um dos maiores desenhistas brasileiros, Rodolfo (1952-2016) sempre foi averso a ser tratado como celebridade. Para ele, a arte era forma de resistência que não admitia concessão; não se misturava a comércio nem a luxo. Não tinha valor porque era incalculável; era sua vida. “Rodolfo sublimava os seus infernos pessoais equilibrando-se na linha do seu desenho”, disse certa vez, como lembrou João, em trecho do livro.
À reportagem, João contou que a escolha pelo título teve a intenção de retirar material do próprio trabalho do artista, de 1998, cuja frase é atribuída ao filósofo francês Paul Valéry. “A mim pareceu a chave para falar da obra de Rodolfo, pois significa provocação e reflexão ao mesmo tempo. A arte tem valor; custa caro o preço que se paga para realizar determinado trabalho. Também é cara a perversidade de ver a arte como mercado de luxo”, analisa João, que ainda menciona a irreversibilidade do traço, também presente no significado da frase. “O traço fica, e isso traz consequências. São decisões escritas para sempre na história e na nossa vida, de forma material e circunstancial”, explica.
O lançamento do livro de hoje inaugura uma série da Cepe sobre artistas pernambucanos. No mesmo dia será inaugurada uma exposição com 64 desenhos e pinturas pertencentes ao próprio acervo do Mepe, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), Galeria Amparo 60, e ainda de coleções particulares. O público também poderá assistir a um filme-entrevista com Rodolfo, de mesmo título da mostra. “Mesmo recluso, poucas coisas lhe davam tanta alegria como um bom diálogo”, escreveu João. A produção inédita é assinada pelo cineasta Pedro Severien e tem duração de 35 minutos. O cineasta também dirigiu o curta-metragem “Rodolfo Mesquita e as monstruosas máscaras de alegria e felicidade” (2013). Muitos trechos da rara entrevista são citados no livro.
Serviço:
Lançamento do livro, filme e abertura da exposição
"Rodolfo Mesquita - a forma custa caro"
Quarta-feira (24), às 19h
Museu do Estado de Pernambuco - Galeria Lula Cardoso Ayres
(Avenida Rui Barbosa, 960, Graças)
Preço do livro: R$ 180
Durante o lançamento, com direito a um DVD com o filme, de Pedro Severien
R$ 200 nas livrarias