"B.A.: O Futuro Está Morto": série traz adolescentes com superpoderes em um Brasil distópico
Com oito episódios, produção é livremente inspirada na HQ "O Beijo Adolescente", de Rafael Coutinho
“Bem-vindos ao presente, adeus ao passado, o futuro está morto”. Esse é o lema que guia os protagonistas da nova série nacional da HBO Max, inspirada na HQ “O Beijo Adolescente”, de Rafael Coutinho. A produção, que estreou nesta quinta-feira (19) na plataforma de streaming, traz no centro de sua trama um grupo de adolescentes lutando contra forças opressoras em um Brasil distópico.
“B.A.: O Futuro Está Morto” conta com oito episódios, mas apenas os três já estão disponíveis. Neles, o público é apresentado a uma realidade em que a Floresta Amazônica foi privatizada e transformada em parque industrial. Ao completarem 18 anos, as pessoas são acometidas por um mal chamado “monocromatismo”, que faz com que elas fiquem apáticas e percam as cores (literalmente).
Em oposição aos adultos que não sentem nada e ditam as regras, um grupo de adolescentes busca viver intensamente todas as experiências desta fase, colocando em prática o amor livre e a afirmação de suas identidades. Eles fundam o B.A., uma marca de roupas ultracoloridas que esconde uma sociedade secreta de jovens com habilidades especiais.
O ator e cantor Benjamín vive Ariel, um garoto que acaba de completar 15 anos. Recém-chegado de outra cidade, ele tenta se acostumar à nova escola e à convivência com o pai, após perder a mãe, quando é recrutado pelo B.A. Em entrevista à Folha de Pernambuco, o ator, que é transexual e antes da transição chegou a interpretar uma vilã em “Malhação”, falou sobre a representatividade presente na série.
“Acho que essa diversidade é fundamental e ela vai além das câmeras. Não é que o protagonista seja uma pessoa trans e, pronto, essa é a cota da diversidade. Muitas pessoas do elenco e da equipe são LGBTQIAPN+”, disse o ator.
“O mais legal é que são personagens que, para além da questão de suas identidades, eles não precisam abordar apenas esses temas. Eles têm outras camadas também”, destaca Giulia Del Bel, que interpreta Linlin, a garota que desperta o fascínio de Ariel e com quem ele experimenta o seu primeiro beijo. “[Na hora de construir a personagem] eu pensei muito na adolescente que eu gostaria de ter sido e de ter visto representada nas telas”, revelou a atriz.
Mariana Youssef e Peppe Siffredi, criadores da série, contam que a maior referência para a composição deles foi a própria graphic novel assinada por Rafael Coutinho. “A gente partiu de uma obra muito singular. Os primeiros dois grandes desafios eram como condensa-la em oito episódios, com um arco dramático claro, e como traduzir esse universo em imagem”, relatou Peppe.
O criador da obra que inspirou a série diz ter aprovado o resultado da sua adaptação para o audiovisual. “Todo mundo estava sonhando alto, querendo fazer disso uma coisa muito potente. Foi um exercício de malabarismo criativo intenso, para encontrar soluções, linguagem, poética, cenários, figurinos, diálogos, tudo do zero, usando, obviamente, a HQ como espelho. O que eles fizeram ficou impressionante”, elogiou.
Ao trazer adolescentes com super-poderes como protagonistas, “B.A.: O Futuro Está Morto” se conecta a referências dos quadrinhos e dos cinemas, como “X-Men” e “The Boys”. A produção, no entanto, não se apresenta como uma história típica de super-heróis.
“Acho que ela [a série] abraça as convenções de gênero, só que do ponto de vista de uma distopia brasileira. Se a gente pegasse os super-heróis como foram criados nos Estados Unidos e os transportasse para o Brasil, talvez, eles não fizessem sentido na nossa cultura. Nesse lugar, a gente teve que encontrar um pouco a nossa voz”, comentou Peppe.
Mariana Youssef chama atenção para a forma como os personagens da séries adquirem suas habilidades especiais. “Elas não vêm de uma aranha radioativa que pica alguém ou de outro elemento externo, mas de dentro das próprias pessoas. É uma analogia também sobre a força da adolescência”, analisou.
“O adolescente tem esse superpoder, no sentido de sonhar com o futuro, de ver a morte como algo distante e de estar no ápice da sua potência física. Não podemos desconsiderar que, no mundo real, a adolescência é, de fato, um período muito singular, curto e poderoso das pessoas”, complementa Peppe.