PESQUISA

No Brasil, 39% das crianças de até cinco anos se desenvolvem abaixo da média esperada

Estudo sobre o desenvolvimento infantil no país foi apresentado pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira (25)

Números foram apresentados pela coordenadora de Saúde da Criança e do Adolescente, Sônia Venâncio - Antônio Cruz/Agência Brasil

Um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal apontou que, no Brasil, 39,6% das crianças de até cinco anos tem o desenvolvimento infantil abaixo da média esperada para a idade. 

O dado foi divulgado nesta quarta-feira (25) durante o X Simpósio Internacional do Desenvolvimento da Primeira Infância. O evento, realizado em Brasília, reuniu diversos gestores municipais e estaduais para discutir políticas públicas capazes de auxiliar o desenvolvimento infantil no país. 

Elaborado com base em um questionário aplicado durante as campanhas de multivacinação realizadas em 2022, o estudo reúne informações de 12 capitais do Brasil e de Brasília. O levantamento leva em consideração dados relacionados às habilidades motoras, cognitivas, de linguagem e socioemocionais das crianças

De acordo com a coordenadora de Saúde da Criança e do Adolescente, Sônia Venâncio, a integralização de setores é essencial para estabelecer um direcionamento eficaz para a elaboração de novas políticas públicas voltadas a primeira infância. 

“Trabalhar com a primeira infância só é possível por meio de um trabalho intersetorial. A OMS e a Unicef fizeram a proposta de um modelo de cuidados integrais na primeira infância que visa a saúde, a oportunidade da aprendizagem adequada desde o início da vida, a garantia de acesso às creches, além das questões de segurança e proteção que vão envolver o ambiente em que a criança vive”, afirmou. 

Para estabelecer um parâmetro, a pesquisa levou em consideração informações como o total de consultas de pré-natal realizadas pelas mães, diversidade da alimentação das crianças, tempo de uso de telas e frequência escolar

“Trabalhamos com profissionais da saúde, educação e assistência, apresentando a importância de garantirmos ações efetivas em todos os domínios. Queremos garantir que essa articulação permita e identificação das famílias mais vulneráveis” destacou Sônia.

Uso de disciplina punitiva é alarmante no país
A pesquisa revelou ainda que, no Brasil, cerca de 35% dos pais ou responsáveis por crianças de até cinco anos afirmam que palmadas são necessárias durante a educação. No Recife, a média é de 39%.

“Infelizmente, muitos cuidadores consideram que dar uma palmadinha ou gritar é algo que faz parte do processo de disciplina da criança. Queremos chamar a atenção sobre isso e destacar a importância dos cuidadores serem orientados sobre os efeitos que isso pode ter sobre o desenvolvimento de uma criança”, observou Sônia.

Outro fator que pode impactar o desenvolvimento de forma negativa é o uso excessivo de telas. No país, cerca de das crianças com até cinco anos assistem a programas ou jogam na TV, smartphone ou tablet por mais de duas horas por dia. Na capital pernambucana, a média é de 36%.

Além disso, a insegurança alimentar traz outro risco para o desenvolvimento. No Brasil, cerca de 15% das famílias com crianças de até cinco anos relataram que os alimentos acabaram antes que elas tivessem dinheiro para comprar mais. No Recife, o índice de insegurança alimentar no último ano ficou em 19,9%.

Impacto no desenvolvimento de políticas públicas
Os dados apresentados representam um desafio para a capital pernambucana. Presente no evento, a vice-prefeita do Recife, Isabella de Roldão, destacou que as informações deverão auxiliar na manutenção de no ajuste das políticas públicas desenvolvidas no município.

“Esse debate sobre a primeira infância trouxe dados, evidências e estudos que corroboram e fortalecem a política que já vem sendo desenvolvida no Recife. Vamos avaliar tudo porque eles representam um impacto muito grande. É um choque que nos incomoda. Mas, com esse incômodo, nós queremos provocar. Queremos transformar e a partir daqui fortalecer o que já vem dando certo e recalcular a rota do que ainda precisa ser ajustado”, afirmou.