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Morre Danilo Miranda, diretor do Sesc em São Paulo, aos 80 anos

Filósofo, sociólogo e ex-seminarista, se tornou referência de gestão cultural no país e inspirou políticas públicas

Danilo Miranda - reprodução

Morreu, neste domingo (29), o diretor do Sesc em São Paulo Danilo Miranda, aos 80 anos. Ex-seminarista, filósofo e sociólogo, Miranda dirigiu o Sesc paulista por quase quatro décadas, conquistando a admiração da classe artística brasileira e o título de ministro da Cultura informal. Desde o início do mês, ele estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo. A causa da morte não foi informada. O velório está ocorrendo desde a manhã desta segunda-feira (30), no Sesc Pompeia. Às 17h, o corpo de Miranda será cremado no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.

Miranda nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em 1943. Filho de uma farmacêutica (que faleceu aos 31 anos e o deixou órfão aos sete) e de um dentista que também atuava como jornalista, tocava violão e cantava. Aos 11 anos, matriculou-se na Escola Apostólica dos Jesuítas, em Friburgo. Na década seguinte, ingressou no noviciado jesuíta em Itaici, no interior de São Paulo. À época, era atuante no movimento estudantil, ao lado de nomes como Frei Betto e José Serra. Aos 24 anos, abandonou a batina.

Em 1968, passou em um concurso para ser orientador Social no Sesc. Em seguida, migrou para gestão de pessoas no Senac, que também integra o Sistema S. Tornou-se diretor regional do Sesc em 1984.

Sob a batuta de Miranda, capaz de aliar empreendedorismo e humanismo, o Sesc se tornou uma das locomotivas culturais do país. Em São Paulo, o Sesc dobrou de tamanho, aposentou as catracas, virou referência em promover o acesso da população à cultura, lazer, esporte e alimentação, inspirou políticas públicas para o setor e estimulou a profissionalização dos artistas. Não à toa, o nome do diretor regional era sempre ventilado para ocupar o Ministério da Cultura, mas o convite nunca veio.

No Sesc, deu atenção especial ao teatro, uma de suas paixões. “Se não tivesse Danilo Miranda, não tinha teatro em São Paulo. Só teria musical”, disse o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, fundador do Teatro Oficina, morto em julho deste ano. Miranda levou aos palcos da instituição grandes nomes da cultura mundial, como a artista iugoslava Marina Abramovic, a atriz francesa Isabelle Huppert e o filósofo Edgar Morin (também francês).

Expoentes da cultura brasileira lamentaram a morte de Miranda. “Meu coração está apertado, uma tristeza por vê-lo partir e perder seus olhos, seus ouvidos, sua inteligência, seu amor pelo teatro, pela dança, pela música, pelo sonho, pela emoção que apenas a arte é capaz de trazer de volta para nós”, afirmou, em uma rede social, a cantora Daniela Mercury.

Também nas redes sociais, Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú Cultural, disse que Miranda foi “o maior ministro da Cultura que o Brasil nunca teve”. “Sua militância pela cultura brasileira e por um país mais justo e com uma democracia sólida jamais será esquecida”, escreveu.

No X (ex-Twitter), o apresentador Serginho Groisman chamou Miranda de “referência cultural”. “Um homem bom que já sinto falta. Descanse em paz”, disse.

Miranda deixa a esposa, a assistente social Cleo Regina, as filhas Camila e Talita, e quatro netos.