Criadores de coelhos de Pernambuco querem capitalizar demanda reprimida do mercado
O empresário Araken Jr. se mobiliza com outros criadores para legalizar um mercado que ainda é artesanal do abate à venda
Em Pernambuco, a cunicultura, ramo da zootecnia que trata da criação racional e econômica de coelhos para produção de carne e subprodutos (pele/pelos) ou como animais de companhia (pet), ainda é muito tímida em relação ao Sul e o Sudeste do País. O mercado local, no entanto, tem uma demanda reprimida, segundo o dono do criatório Coelhos da Serra, de Gravatá, Araken Tabajaras Júnior, que também é um dos expositores da 80ª Exposição Nordestina de Animais e Produtos Derivados, que está sendo realizada até domingo (19), no Parque de Exposições do Cordeiro.
De acordo com o empresário, um estudo realizado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) campus Vitória de Santo Antão mostra que só na Região Metropolitana do Recife há 20 restaurantes que, embora trabalhem com a carne de coelho, não a têm como prato de cardápio porque não existe fornecimento regular para esses estabelecimentos.
Ainda de acordo com Araken, o mesmo estudo aponta que Pernambuco teria uma demanda de mil a 3 mil quilos de carne de coelho de consumo mensal. “Hoje não tem quem abasteça o mercado. Por isso, estou me juntando com outros criadores locais para incentivar a criação e o consumo da carne”, diz Araken.
Por conta desse trabalho de incentivo o qual o empresário está à frente há seis meses, a UFPE campus Belo Jardim já incluiu no cardápio do refeitório da instituição o consumo da carne de coelho dois dias por semana. “O Campus de Vitória de Santo, a partir de janeiro, também vai começar, e agora estou tentando entrar em contato com a UFRPE para que ela faça a mesma coisa, porque nas universidades só há hoje criação de porcos”, revela o empresário.
Existe no Estado, conta Araken, uma associação, fundada em 1988, mas que não está ativa. “Nós, desde junho, estamos nos unindo para fundar uma associação ou cooperativa. A ideia é conseguir um miniabatedouro, agregar os criadores e iniciar a divulgação e a venda legal da carne de coelho, que hoje é toda artesanal. Não existe hoje no comércio do Norte/Nordeste carne de coelho legal disponível no mercado, apesar de ser uma carne muito saudável”, afirma.
Segundo o empresário, há hoje um impasse entre os criadores e a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro). “Os projetos que eles têm hoje são monstruosos. Para se ter ideia, o projeto de frigorífico/abatedouro que eles têm é de R$ 2 milhões. Não existem produtores suficientes aqui para um tipo de abatedouro desse", esclarece o criador.
Araken acredita que os criadores locais conseguiriam iniciar com uma média de 500 peças por semana. "Para isso, seria preciso um abatedouro de pequeno porte inicialmente para a gente conseguir o selo de legalização. A questão é a gente formular um modelo junto com eles (Adagro) para iniciar com um pequeno abatedouro para distribuição”, explica.
Mercado local
O mercado pernambucano de cunicultura conta hoje com cerca de 30 criadores, a maioria no Sertão. “Acho que a maior parte está naquela região por questões de espaço. Muita gente, na verdade, está se adaptando devido à crise financeira, deixando de criar, por exemplo, porcos e outros animais e passando para coelhos, que requer menos espaço, menos água, o custo inicial é pequeno e o retorno é bom”, detalhou.
Além do investimento pequeno, outra vantagem da cunicultura é que o animal pode ser aproveitado e comercializado quase em sua totalidade. Além da carne (alimentação), pele (casacos, bolsas e artesanatos) e pelos (pinceis e chapéus), é possível a comercialização de outras partes como cérebro, orelhas, carcaça, esterco e sangue.
O excremento do mamífero, por exemplo, é utilizado como adubo e como complemento da ração de outros animais. “A bexiga do coelho é usada para fabricar fixadores para o mercado de perfumes, e a carcaça é utilizada também para rações. A carne do coelho, na verdade, é o produto de menor valor agregado”, explicou Araken.
O Sul e Sudeste são mercados de cunicultura mais desenvolvidos por conta do clima e da cultura trazida pelos imigrantes. “Como a região é muito fria no inverno, eles não conseguem criar frangos. Então, o coelho é mais conveniente, além de ser uma carne melhor. Se você chegar em qualquer supermercado lá vai encontra carne de coelho, assim como em toda a Europa, onde existem ilhas dentro dos supermercados destinadas ao coelho, seja desossado, filé, em cortes ou inteiro”, afirma Araken.
A carne de coelho
O coelho é uma das melhores carnes brancas disponíveis no mercado, é a que contém menor quantidade de gorduras, menor concentração de sódio e menos calorias. O valor calórico de 100 gramas de carne de coelho é de 137 calorias. Já o filé mignon fica com 140 kcal; o peito de franco, com 172 kcal; o salmão, com 211 kcal; e o porco com 272 kcal. "O gosto é parecido com o de frango, só que mais delicado e com muito mais benefícios à saúde, porque também não tem colesterol colesterol", ensina Araken.
O criatório Coelhos da Serra, que tem nove anos de atividades, conta hoje com 14 raças de coelhos, sendo quatro para companhia (pet), cinco para corte (abate), que são as mais comuns (Holandesa, Nova Zelândia Branco e Vermelho, California, Botucatu) e outras para melhoramento genético.
O criatório também dispõe de raças exóticas, como Mini Rex, que foi desenvolvida no Texas (EUA) para pet; e Prateado Champanhe, que é francesa, e uma das mais antigas do mundo. “A Prateado Champanhe tem mais de 400 anos. É um coelho que era criados pelos monges nos castelos para alimentação dos reis e a pele, por ser prateada, para a confecção dos casacos da realeza”, ensina.