Forrozeiros criticam presença do sertanejo nas festas de São João do Nordeste

Nomes como Elba Ramalho e Alcymar Monteiro apoiam a campanha "Devolva Meu São João", lançada nas redes sociais

Alcymar Monteiro - Eric Gomes/FUNDARPE

Inserindo em suas grades de programação atrações como Marília Mendonça e Luan Santana, as principais festas juninas do Nordeste vêm dando cada vez mais destaque para ritmos que não estão tradicionalmente ligados ao período, como o sertanejo. Avessos a essa tendência, artistas de diferentes estados estão se unindo contra o que eles apontam como descaracterização do São João. Com mobilização nas redes sociais e apoio de nomes famosos, os músicos reivindicam mais espaços para o autêntico forró em eventos públicos.

Em forma de protesto contra o espaço dado aos artistas sertanejos nas programações juninas deste ano, os músicos Joquinha Gonzaga e Chambinho do Acordeon lançaram nas redes sociais a campanha "Devolva Meu São João". A manifestação viralizou e ganhou a adesão de outros artistas, que continuam compartilhando a hashtag.

 Na abertura do São João de Caruaru, no último sábado, Elba Ramalho demonstrou que é contra a invasão de outros ritmos no ciclo junino, dando ainda mais gás para a polêmica. "Eu não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum sertanejo. Porém, eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é dos sertanejos, e eles têm bem esta coisa: essa área é nossa", disse durante conversa com a imprensa.

O cantor Alcymar Monteiro é um dos mais engajados na luta pela valorização dos gêneros tradicionais. Em 2017, ele publicou um vídeo em sua página no Facebook, com mais de 120 mil visualizações, questionando o fato de ter sido excluído dos festejos de Caruaru.

Mesmo voltando à grade de programação do município neste ano, o forrozeiro não deixou de criticar o recorte curatorial adotado por algumas gestões municipais. Em abril, ele utilizou a internet para falar novamente com público. Desta vez, o alvo foi Campina Grande, na Paraíba.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, Alcymar lamenta a perda de território do forró. "A cultura é o que nos identifica como povo. Pensando assim, o forró é mais do que um ritmo. Mais do que nunca, hoje ele é uma música etnológica, que representa os mais de 50 milhões de nordestinos que existem no Brasil", defendeu em entrevista à Folha de Pernambuco. "Estão tentando transformar nosso São João em festa dos horrores. Querem apagar nossa fogueira, transformar nossa pamonha em crepe e nosso quentão em uísque importado do Paraguai", dispara.

A descaracterização da festa também preocupa Irah Caldeira. Na opinião da cantora, é a originalidade que atrai o público para os principais polos. "O turista que não é nordestino e vem participar dessa nossa comemoração quer ver o que é daqui. Ninguém viajaria de São Paulo até Pernambuco para ver, por exemplo, Chitãozinho e Xororó. Isso eles podem ver na terra deles", comenta. "Os órgãos públicos, que organizam essas apresentações, precisam ter mais cuidado com a preservação da nossa cultura. Enquanto isso não ocorre, a gente vai continuar protestando", completa.

O São João é também importante fonte de renda para muitos forrozeiros, que passam a ser mais contatados para shows organizados pelas gestões municipais e estaduais. "Essas atrações que são trazidas de outras regiões têm o ano inteiro para divulgar o trabalho deles e ganhar dinheiro. O cachê que pagam a eles daria para contratar um monte de bandas locais, que vivem na batalha para conseguir tirar seu sustento da música", diz Marcílio Oliveira, vocalista do trio Forró Sem Fronteira.