Pisa 2022: Suécia tem piora em desempenho após manter escolas abertas na pandemia
Relação entre queda nas notas dos alunos e fechamento das unidades de ensino devido à Covid-19 não é direta, afirma a pesquisa
Dados divulgados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), publicado nesta terça-feira (5), revelam que as mudanças realizadas nas escolas durante a pandemia da Covid-19 resultaram em uma série de consequências para a qualidade de aprendizado ao redor do mundo.
O projeto realizou um comparativo entre países que adotaram modelos remotos de ensino e países que mantiveram as escolas abertas. O resultado foi contrário ao esperado. A Suécia, um dos sistemas educacionais que manteve as unidades de ensino em funcionamento durante o auge do isolamento, não apresentou melhora no desempenho, registrando, na verdade, uma queda severa nas notas no Pisa 2022.
Segundo o programa, era esperado que países que mantiveram as escolas abertas durante os períodos mais críticos de isolamento apresentassem um avanço, em comparação aos que adotaram modelos remotos de ensino. No entanto, o Pisa analisa e comprova que este não foi o cenário real.
A Suécia, assim como outros países ricos e membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela realização da pesquisa, registraram uma queda histórica nos resultados. O Pisa conclui, no entanto, que a piora não está associada somente à pandemia.
Em entrevista ao Globo em 2021, durante o evento Wise, no Catar, a pesquisadora Tracey Burns, chefe do Centro de Pesquisa e Inovação Educacional da OCDE, afirmou que os resultados da Suécia eram um dos mais esperados pelo projeto, já que poderiam comprovar argumentos a favor da abertura de escolas durante a pandemia.
— Acho que existem algumas possibilidades interessantes. Uma é a Suécia, cujo sistema de saúde decidiu fingir que não havia uma doença nova, deixou as escolas abertas o tempo todo e, se eles forem muito bem, esse pode ser um argumento de que manter as escolas abertas normalmente foi um acerto. Mas honestamente não sei o que pode acontecer — revelou.
A Suécia no Pisa 2022
Apesar de ter optado pelo ensino presencial durante os períodos críticos da pandemia, os resultados médios da Suécia em 2022 caíram em comparação com 2018 em Matemática e Leitura, e em Ciências, se mantiveram estáveis. Nesta edição, a média total dos estudantes suecos foi de aproximadamente 487 pontos — 482 em Matemática, 487 em Leitura e 494 em Ciências. Em 2018, a pontuação média do país foi 499.
Em Matemática e Leitura, a queda no desempenho reverteu a maior parte dos ganhos observados entre 2012 e 2018. Atualmente, os resultados retornaram a patamares próximos aos observados em 2012 — as menores notas já registradas no país. Em Ciências, a tendência se manteve um pouco mais positiva ao longo dos últimos 10 anos.
Apesar das notas estarem acima da média da OCDE, a piora de 12 pontos na média final é considerada, pelos pesquisadores, uma queda relevante.
As consequências da pandemia na educação mundial
O Pisa 2022 registou uma queda significativa no desempenho escolar em todo o mundo. Em comparação com 2018, o resultado médio sofreu uma queda de 10 pontos em Leitura e quase 15 pontos em Matemática. Segundo a pesquisa, o declínio registrado em Matemática é três vezes maior do que qualquer piora observada em edições anteriores.
Agora, a OCDE considera que, nos países membros do grupo, um em cada quatro jovens de 15 anos apresenta baixo desempenho nas três disciplinas avaliadas. Esta tendência é ainda mais acentuada nas economias que não fazem parte da organização, onde mais de 60% dos estudantes não domina os conteúdos apresentados na prova.
A culpa não é só da Covid-19
Apesar dos efeitos da pandemia, o declínio não pode ser inteiramente atribuído à pandemia. De acordo com a OCDE, as pontuações já estavam em queda, mesmo antes da Covid-19. As tendências negativas no desempenho em Matemática já eram aparentes na edição de 2018 em países como Bélgica, Canadá, Finlândia, França, Holanda e Nova Zelândia.
Neste ano, o Pisa afirma que a relação entre o fechamento de escolas devido ao isolamento, frequentemente citado como a principal causa do declínio do desempenho, na verdade, não é tão direto.
"Em todos os países membros OCDE, cerca de metade dos estudantes sofreram encerramentos durante mais de três meses. No entanto, os resultados da avaliação não mostram diferenças claras nas notas entre sistemas que mantiveram as instituições abertas, como Islândia, Suécia e Taipei, e nações que sofreram longos fechamentos escolares, como Brasil, Irlanda e Jamaica", analisa o texto do Pisa 2022.
Apesar de não terem apresentado a evolução esperada nas notas, os países que evitaram encerramentos prolongados das escolas, de acordo com os relatórios dos alunos, tiveram tendências mais estáveis ou de melhoria no seu sentimento de pertencimento ao ambiente de aprendizado.
No Japão, que fechou suas escolas por apenas três meses ou menos, 84% dos alunos, conforme relatado pelos mesmos, tiveram um dos maiores avanços no sentimento de pertencimento dos alunos à escola, atingindo um nível acima da média da OCDE nesta edição", afirma o Pisa.
Os resultados observados na pesquisa mostram que as políticas de fechamento também estão vinculadas com efeitos adversos à saúde e comportamentais entre adolescentes. Problemas psicológicos, como ansiedade, solidão, depressão, insatisfação com a vida e maior risco de pensamentos suicidas ou tentativas de suicídio, foram mais comuns em países que adotaram o isolamento no ambiente escolar. Doenças como obesidade e diminuição da atividade física também foram observados.