TECNOLOGIA

Apple corre para fazer ajustes em seu "watch" antes do início da proibição da venda nos EUA

Se proibição for mantida, dispositivos serão retirados das lojas físicas até o dia 24, na véspera do Natal. No site, empresa pretende suspender a venda nesta quinta-feira

Apple anuncia que interromperá a venda de seu Apple Watch Series 9 e Apple Watch Ultra 2 nos EUA - Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

A Apple, a poucos dias de a venda de seus smartwatches ser proibida nos EUA, está planejando uma missão de resgate para o negócio de US$ 17 bilhões, que inclui correções de software e outras possíveis soluções alternativas.

Os engenheiros da empresa estão correndo contra o tempo para fazer alterações nos algoritmos do Apple Watch que medem o nível de oxigênio no sangue do usuário -- um recurso que a fabricante de dispositivos médicos

Masimo argumenta que infringe suas patentes. Ela obteve de um órgão estatal a supensão da venda dos relógios inteligentes da Apple nos EUA.

Os especialistas da big tech ajustam a forma como a tecnologia determina a saturação de oxigênio e apresenta os dados aos clientes, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

Trata-se de um esforço de engenharia de alto risco, diferente de qualquer outro já realizado pela Apple. Embora os produtos da fabricante do iPhone tenham sido proibidos anteriormente em certos países devido a disputas legais, essa restrição atingiria uma das maiores fontes de lucro da Apple em seu país de origem, os EUA -- e justo na época do Natal.

Sem um veto de última hora por parte da Casa Branca, a proibição imposta pela Comissão de Comércio Internacional (ITC) entraria em vigor em pleno dia 25 deste mês.

A Apple poderia chegar a um acordo com a Masimo, embora esse seja um caminho que normalmente a empresa prefere não seguir. E as duas empresas não parecem ter se comprometido nesse sentido. Por enquanto, a Apple está concentrada em modificar sua tecnologia e tentar conquistar a aprovação dos órgãos reguladores com as alterações no equipamento.

Se a proibição for mantida, a Apple está trabalhando em uma série de opções legais e técnicas. A empresa já começou a preparar as lojas para a mudança: enviou novos cartazes para seus pontos de venda que promovem o Apple Watch sem mostrar fotos da Série 9 e Ultra 2 – dois modelos que são alvo da proibição. O relógio SE de baixo custo da empresa continuará disponível.

A Apple planeja suspender as vendas dos relógios proibidos em seu site a partir de quinta-feira (21) e retirá-los das cerca de 270 lojas físicas até o próximo domingo, dia 24.

Em comunicado, a Masimo disse que a decisão de proibir os modelos Apple Watch “demonstra que mesmo a empresa mais poderosa do mundo deve cumprir a lei”.

Os esforços internos da Apple sugerem que a empresa acredita que mudanças de software – em vez de uma revisão de hardware mais complicada – serão suficientes para trazer o dispositivo de volta às prateleiras das lojas. Mas as patentes no centro da disputa estão principalmente relacionadas com hardware, incluindo a forma como a luz é emitida na pele para medir a quantidade de oxigênio no sangue de uma pessoa.

Uma porta-voz da Apple disse que a empresa busca apresentar uma solução alternativa à agência alfandegária dos EUA, responsável por aprovar mudanças para colocar um produto de volta no mercado.

A Masimo disse que uma correção de software seria uma solução insuficiente. “O hardware precisa mudar”, disse a fabricante de dispositivos médicos.

A proibição da ITC será refletida em uma restrição às importações que vão impossibilitar à Apple de vender o aparelho nos EUA. A empresa depende de fornecedores estrangeiros para os componentes do relógio e sua montagem.

Em geral, essas disputas são resolvidas antes de chegarem a esse ponto, disse Evan Zimmerman, cofundador e CEO da Edge, que desenvolve software para a elaboração de patentes :

-- Esses tipos de disputas que levam a restrições de importação são raros e costumam ser usados como vantagem em negociações de acordos -- disse ele, acrescentando que pode ser um desafio para a Apple resolver a disputa com ajustes de software, dada a amplitude das patentes da Masimo.

Mas, segundo Zimmerman, a Apple poderia apresentar um argumento plausível de que o software controla o funcionamento do dispositivo.

Embora a Apple planeje correções de hardware e software, colocar a nova tecnologia no mercado leva tempo. O processo interno de teste de software da Apple é demorado, e por um bom motivo. A empresa precisa garantir que quaisquer alterações não prejudiquem outros recursos do smartwatch. Além disso, os ajustes também podem necessitar de testes adicionais devido à sua finalidade médica.

Medir a saturação estava em alta na pandemia
O recurso de medir o oxigênio no sangue foi adicionado pela primeira vez ao Apple Watch em 2020 com o modelo da Série 6. Na época, a pandemia de Covid estava em alta e alguns médicos usavam os níveis de oxigênio no sangue para avaliar o impacto do vírus na capacidade de respiração dos pacientes.

O recurso monitora os níveis de uma pessoa ao longo do dia. O usuário também pode obter uma leitura atual, que leva cerca de 15 segundos. Muitos pacientes buscam níveis entre 95% e 100%.

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O recurso também foi incluído no Apple Watch Series 7 e Series 8. A Apple parou de vender o Series 7 quando novos modelos foram lançados, mas o Series 8 continua disponível como um dispositivo recondicionado. Se a proibição entrar em vigor, essas vendas também precisarão ser interrompidas.

A proibição da ITC se aplica apenas aos canais de vendas diretas da Apple, de modo que varejistas terceirizados como Walmart, Best Buy e Target podem continuar oferecendo o dispositivo. O Walmart e a Best Buy disseram na segunda-feira que não planejam parar de vender os modelos em questão.

Oferta de recursos de saúde

A Apple tem usado cada vez mais recursos de saúde e segurança para comercializar seus smartwatches, ajudando a transformar a linha em um importante impulsionador de crescimento nos últimos anos. Os analistas estimam que ele gerou US$ 16,9 bilhões em receita para a Apple no ano fiscal de 2023, acima dos US$ 9,1 bilhões anuais de cinco anos atrás.

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Embora isso seja uma fração dos US$ 200 bilhões gerados pelo iPhone, o relógio também ajuda a manter as pessoas presas ao ecossistema da Apple.

Não está claro se a Casa Branca acabará concedendo um adiamento à Apple. Um funcionário do governo disse que a representante comercial dos EUA, Katherine Tai, está cuidando da revisão e considerando cuidadosamente todos os fatores da disputa.

A Casa Branca tem o poder de vetar as decisões da ITC, e o governo Obama fez exatamente isso com a proibição do iPhone em 2013 nos EUA. Mas essa decisão foi resultado de uma briga de patentes com a Samsung, gigante da Coreia do Sul. A Masimo está localizada em Irvine, Califórnia, o que significa que o governo teria que escolher uma empresa dos EUA em vez de outra.

Em sua declaração, a Masimo disse que a decisão da ITC seguiu um processo legal completo e "deve ser respeitada".