Manguezal e litoral são berçário em meio ao caos urbano da RMR
Entre prédios e a agitação das avenidas, a natureza oferece espaços para que vários animais sobrevivam e se reproduzam em relativa segurança
Em meio ao caos urbano, bem perto de pontos agitados da Região Metropolitana do Recife (RMR), há recantos sossegados que servem de berçários naturais para muitas espécies. São nesses espaços que vários animais enxergam um abrigo para buscar alimentos, sobreviver e reproduzir em relativa segurança. Uma resposta de que a natureza, de fato, resiste. E mesmo diante de uma vizinhança tão densamente ocupada, revela-se exuberante. Num trecho do rio Capibaribe, na área Central, o maciço manguezal existente por trás do Palácio do Campo das Princesas serve de moradia para bandos de garças. Próximo dali, o ritmo apressado dos carros que circulam diariamente pela ponte Buarque de Macedo parece fazer contraste com a tranquilidade dessas aves.
O Parque dos Manguezais, unidade de conservação de 320 hectares inscrustado na Zona Sul do Recife, também abriga criadouros naturais. Margeado pelas duas pistas da Via Mangue, caranguejos das espécies azul, uçá e aratu procriam em área da Marinha. Iniciativa própria e que serve de exemplo para muitos, o órgão federal marcou um ponto a favor do meio ambiente. Em letras garrafais, uma placa avisa que é proíbida a captura desses crustáceos. O zelo contribui para a preservação dos manguezais e, consequentemente, garantem a sobrevivência de muitas outras espécies, como mexilhões e ostras.
A pouca agitação das águas de um manguezal é um dos fatores que leva esse habitat a ser conhecido como berçário da vida. São regiões em que a pouca turbulência favorece o depósito de matéria orgânica e nutrientes. Em função disso, explica o especialista em manejo de manguezais e oceanógrafo da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho, toda uma cadeia alimentar se desenvolve a partir do mangue - por isso, é possível registrar uma rica biodiversidade, principalmente, em trechos preservados. "É um ambiente propício para a reprodução de espécies pela matéria orgânica e biomassa, além da presença de micro-organismos que chegam pela água do mar quando a maré enche", contextualiza. Com isso, segundo Coelho, outras espécies aparecem, pois se alimentam das que vivem no mangue, como a garça branca e jacarés.
A vida não é só no mangue
A faixa litorânea do Grande Recife também guarda suas surpresas. São nas praias que banhistas testemunham, todos os anos, o primeiro encontro dos filhotes de tartarugas com o mar. Em Jaboatão dos Guararapes, por exemplo, as praias de Candeias, Piedade e Barra de Jangada servem de berçários para esses animais. Pente, Oliva, Verde e Cabeçuda estão entre as espécies mais comuns. "Um motivo a mais para o poder público e as próprias pessoas terem um olhar voltado à preservação do meio ambiente. Ter esses nascedouros em meio a tanta pressão urbana é um privilégio. Correr menos. Contemplar mais", propõe o biólogo Osman Crespo.