Setor sucroenergético

Representantes do setor sucroenergético participam de debate para produção de livro

O objetivo é reunir informações para a produção do livro "Cana de tudo: do açúcar ao infinito - A evolução do setor bioenergético"

Live setor sucroenergético - Reprodução/Youtube

Representantes de peso do setor sucroenergético do Brasil se reuniram em uma Live promovida pelo canal Cana Online, para debater temas relacionados ao segmento, na última quarta-feira (7). O objetivo do encontro foi reunir informações para a produção do livro Cana de tudo: do açúcar ao infinito - A evolução do setor bioenergético.

Na live, mediada por Luciana Paiva, editora do Cana Online, os produtores e especialistas destacaram os desafios futuros e a evolução nas últimas décadas do setor em relação às tecnologias desenvolvidas, desde os maquinários para aumentar a produção, as variedades de cana-de-açúcar, além de questões envolvendo dificuldades para mão de obra e a necessidade de mais apoio dos governos para alavancar ainda mais o segmento. 

Temas como o hidrogênio verde e os carros elétricos e híbridos também foram assuntos bem comentados no debate. De acordo com o presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, o grande desafio da eletrificação e mobilidade está relacionado com uma limitação de infraestrutura para dar suporte ao projeto, o que vêm acontecendo de maneira tímida. 

“Há quase uma convergência por parte de montadoras, compreendendo que por um tempo a eletrificação deverá ser direcionada para os veículos híbridos por uma limitação de infraestrutura de recarga de baterias. Nesse sentido, acho que o etanol tem um papel extraordinário, porque como combustível liquido permite que se distribua um combustível de alta densidade energética de forma fácil, econômica e segura, então a eletrificação vai na direção do hibrido por muito tempo ainda. O etanol é também é um melhor carregador de hidrogênio. Já temos quase 42 mil postos de hidrogênio na forma de etanol distribuído num País continental. Então, acho que o brasil tá bem posicionado, só precisamos divulgar melhor para que as pessoas compreendam isso”, enfatizou Nastari

Na ocasião, os produtores pontuaram também as dificuldades que ainda enfrentam com políticas públicas que contribuam para o crescimento do segmento sucroenergético no País. Em sua explanação, o presidente do grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro, que na ocasião representou o Nordeste, lembrou das dificuldades pós-crise que afetaram o setor, e reforçou ter uma visão otimista, pontuando que mesmo com todas as adversidades, o Brasil é maior que o abismo e que sempre haverá de se encontrar as portas de saída.  

“No Nordeste, tivemos que sobreviver e nos adequar a essa realidade e acho que o setor passou por um processo fortíssimo. Pernambuco chegou a ter 70 usinas de cana de açúcar e hoje temos 45 usinas no norte-nordeste. Eu diria que a resiliência, o ambiente de superação e dificuldades, permitiram que o setor se afirmasse ainda mais. Hoje, somos 45 unidades industriais, produzindo 60 milhões de toneladas de cana, num País que produz 700 milhões de toneladas. É um setor que enfrenta desafios grandes porque ainda temos que conviver com as encostas, principalmente na região Sul do Estado e no norte de Alagoas, mas eu considero que com os grandes desafios que enfrentamos, temos condições competitivas particulares”, disse Monteiro. 

O presidente do Grupo EQM lembrou que, por aqui, as plantas industriais têm grandes vantagens, já que estão próximas dos principais portos.

“Apesar das adversidades, o nosso ambiente é promissor. Nossas plantas estão perto dos portos de Suape e do Recife, nossas usinas são próximas e tem um potencial para exportação, do ponto de vista logístico. Além disso, a nossa cana manual emprega mais gente, é mais mão de obra, é mais ônibus, é mais NR 31, mais material de proteção. Somos extremamente competitivos. O mercado interno vem andando de lado às circunstâncias, mas eu diria que se os governos atrapalharem menos e permitindo que a gente vá se afirmando, vamos viver melhor”.

Sobre o potencial infinito da cana de açúcar, Plínio Nastari lembrou que existem diversas oportunidades de mercado em diferentes áreas, segundo mapeamento feito pela Datagro. A reforma do etanol para extrair hidrogênio, a produção de biocombustíveis para substituir bunkers marítimos, além da produção de bioplásticos.

“Hoje, a produção mundial de etanol é de 86 milhões de toneladas no mundo, o que equivale a 115 bilhões de litros, concentrados principalmente nos Estados Unidos e no Brasil. Esses mercados representam um potencial de 810 milhões de toneladas, 9,4 vezes a produção mundial hoje e o Brasil tem condição de oferecer 103 milhões de toneladas. Sem falar que muitos outros países podem replicar a experiência brasileira”, esclareceu Nastari. 

Em relação ao futuro do etanol, o setor segue otimista, apesar de todos os desafios, já que o Brasil passou o fator de estabilidade para o mercado de açúcar e álcool pela flexibilidade industrial que hoje beira a 14% na média do setor. “14% de flexibilidade em um ano, num setor que tem oferta de ATR (Açúcar Total Recuperável) de até 100 milhões de toneladas, podemos dizer que ele comanda o mercado, tendo em vista que o setor tem uma flexibilidade de 15 milhões de toneladas de açúcar. O Brasil tem uma flexibilidade industrial que anula qualquer desequilíbrio mais relevante”, reforçou. 

Os empresários também debateram sobre os momentos mais marcantes para o setor sucroenergético no País. E enfatizaram que o primeiro ponto a se destacar é a criação do Proálcool, em 1975. Na sequência, temos a desregulamentação do setor, em 1989, a privatização das exportações de açúcar e a liberação de preços, antes os produtores eram agentes dos estados e passaram a ser empresários, segundo Nastari. 

O presidente da Datagro lembrou que outra grande conquista do setor foi a frota flex e o RenovaBio, que criou um marco para nortear a expansão do setor, além disso cria meritocracia de eficiência energética e ambiental.

“Com isso, temos uma capacidade de internalizar no preço de mercado o benefício ambiental através do valor do CBIO (Crédito de Descarbonização). O setor tem um futuro brilhante, pelo hidrogênio, pelos híbridos, pela forma que ele está regulamentado, ainda tem alguns passos a serem cumpridos, mas as coisas estão se resolvendo através do programa Mover, a gente tá no caminho de resolver em definitivo esse futuro”, decretou. 

Analisando a evolução do setor, o diretor da Consultoria Canaplan, Caio Carvalho, disse que a grande revolução foi a saída do processo em que o estado intervia em tudo para uma desregulamentação complexa. “Tivemos aumento não só de ofertas de produtos, mas uma diversificação, caracterizando a resiliência sobre as fases difíceis que passamos em governos complexos. Às vezes acho até irresponsáveis alguns momentos que passamos.

Nos anos 2000, passamos a conviver com muita volatilidade e a melhoria foi muito sensível. Acredito que estamos vivendo em um momento extraordinário, mas de novo, temos uma dificuldade com o governo. Sempre vamos ter que aceitar isso. Muitos companheiros ficaram no caminho. Muitos deles por conta de uma atuação irresponsável de governo, que a gente espera que atrapalhe menos daqui pra frente”.