Marcelo Negrão recorda histórias olímpicas em palestra
Campeão nos Jogos de Barcelona-1992, ele vivenciou o processo de crescimento e maturação do voleibol brasileiro
Uma das estrelas do esporte nacional na década de 90, Marcelo Negrão viveu de perto o processo de crescimento do voleibol brasileiro. Aos 19 anos, compôs o elenco que fez história nos Jogos de Barcelona-1992, conquistando o primeiro ouro em esportes coletivos do País em uma Olimpíada. Depois do feito, a modalidade cresceu, ganhou visibilidade, viu os investimentos aumentarem, a estrutura evoluir e a fama chegar. Quatro anos mais tarde, o Brasil chegara aos Jogos de Atlanta com um suporte de primeiro mundo e a condição de favorito. Situação que ruiu junto com os desentendimentos internos, levando a um frustrante quinto lugar.
“Em Barcelona, ninguém tinha patrocínio, todo mundo estava querendo crescer, foi uma competição jogada na raça. Depois daquele título, o vôlei cresceu, passou a ter patrocínios, se tornou uma grande empresa, com estrutura multidisciplinar, até dentista, virou uma febre, em todo canto se pendurava uma corda para jogar. Os atletas também tinham seus patrocínios pessoais, empresários, assessores de imprensa, fama, tudo muito novo. Os reservas viam que ser titular dava mais visibilidade. Começou a vaidade, um querendo queimar o outro, em treinos, em jogos. Os treinos pareciam finais olímpicas de tão acirrados, saíamos mortos. Apesar de ser o mesmo técnico (José Roberto Guimarães), ele não conseguiu administrar os desentendimentos internos e todos meio que abandonaram o barco”, recordou.
As histórias foram lembradas por Negrão durante palestra ministrada na manhã desta segunda-feira (19), na abertura da Clínica de Voleibol realizada pela Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco. O evento é voltado para capacitação de profissionais da modalidade. Na ocasião, o ex-jogador apresentou a medalha conquistada em Barcelona e contou ainda sobre os laços afetuosos com o Estado.
Clínica de Voleibol recebe palestra de Marcelo Negrão
Embora tenha nascido em São Paulo, Negrão veio morar em Pernambuco aos dois anos, quando a família acompanhou o patriarca, engenheiro mecânico, após transferência do trabalho. Na verdade, a residência por aqui durou pouco mais de uma década, mas os laços perduraram, tanto que ele visita anualmente o Estado. “Antes, quando não tinha filhos, ficava por Boa Viagem mesmo, batia bola. Mas agora vou sempre para Porto de Galinhas”, revelou.
Foi no Recife que Negrão deu os primeiros passos no vôlei, ainda criança, através do pai, peladeiro da praia de Boa Viagem. Não demorou a receber proposta de bolsa de estudos no Colégio Boa Viagem. A estatura elevada – 1,80 ainda com 11 anos – somada à excelente impulsão e potência de saque e ataque abriram as portas para ele, que disputou Jogos Escolares e integrou a seleção pernambucana antes de se mudar para São Paulo, aos 13 anos.
O talento incontestável e o esforço diário de treinos, até mesmo sozinho, no início da carreira fizeram de Negrão um jogador diferenciado. No principal polo esportivo do País, despontou. Em pouco tempo, passou a figurar nas seleções brasileiras de base e logo integrou também a equipe adulta, construindo uma carreira de sucesso e muitos recordes. Entre as marcas, destaque para o registro no Guiness Book citando o salto de 3,60 metros em seu ataque, com a bola atingindo 150 km/h de velocidade. Já pelo time italiano Gabeca Montichiari, marcou 74 pontos em uma única partida.